Disputa mundial pelo mercado de marketplace – shoppings virtuais que vendem de tudo – chega ao Brasil e enseja a privatização dos Correios
Cada vez mais brasileiros estão familiarizados com o conceito de marketplace: os grandes shoppings digitais que vendem desde chaveiros a estruturas para a construção de casas. Atualmente, o mercado é dominado por gigantes como Aliexpress, Mercado Livre e, o maior de todos os players desse segmento, a Amazon.
A disputa econômica entre esses e outros shoppings virtuais tem como palco o mundo e, como no imperialismo do século XIX, há a necessidade de expandir mercados consumidores nas periferias do capitalismo. Por isso, a América Latina, sobretudo o Brasil, são vistos como importantes áreas de disputa por consumidores.
O que a privatização dos Correios tem a ver com isso?
Hoje, o Mercado Livre é o marketplace de maior sucesso no país e a empresa mais rica da América Latina. Contudo, o Mercado Livre se prepara para a entrada da Amazon, que já opera timidamente na região, porém quer mais.
Para tanto, o Mercado Livre vem tentando diminuir a sua dependência dos Correios. Isso se dá porque duas gigantes do setor – a Amazon e Alibaba – podem se juntar para comprar a empresa pública de entregas do Brasil.
A compra dos Correios, que possuem uma grande estrutura logística que liga todos os lugares do País, seria excelente para qualquer empresa de marketplace. Porém, seria interessante para o país e seus habitantes?
E qual é o problema?
De acordo com a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findtect), já existe uma parceria entre o poder executivo e a Amazon. A Findect relata que a empresa AWS, pertencente à Amazon, é parceira do governo trabalhando na manipulação de dados de ministérios.
No berço da Amazon – os Estados Unidos, a empresa já foi investigada por práticas predatórias de dados. Em meados de março, o senador republicano Josh Hawley pediu a abertura de um a investigação sobre a Amazon pelo uso ilegal de dados de vendedores externos para obter vantagens na criação ou precificação de produtos de sua marca própria. De acordo com Josh Hawley, essa é uma prática que levaria ao monopólio.
No caso brasileiro, a situação é ainda mais preocupante já que com a parceria com o governo, a Amazon tem os dados sensíveis de milhões de brasileiros. Fazendo mal uso deles, o que uma empresa que não possuísse ética poderia fazer?
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A privatização dos Correios pode matar o e-commerce nacional
Desde o início da pandemia, houve um grande incremento nas vendas online no Brasil. De acordo com a ABComm, houve um aumento de 400% no número de lojas online por mês. Ou seja, os Correios passaram a entregar muito mais pacotes e encomendas.
Além do emprego dos ecetistas, esse aumento da abertura de empresas gerou empregos e renda dentro do Brasil. De acordo com a pesquisa da ABComm houve a abertura de 50 mil empresas por mês. Em relação aos setores, os que mais registraram aumentos nas vendas online foram, calçados (99,44%), bebidas (78,90%), eletrodomésticos (49,29%), autopeças (44,64%) e supermercados (38,92%).
E todas essas empresas estariam em risco caso uma gigante norte-americana ou chinesa viesse competir vendendo os mesmos produtos.
Mas tem mais..
Os Correios não entregam só as compras online, entregam também cidadania. Nas mais remotas cidades do país, os Correios muitas vezes são a única instituição do estado. Servem como banco postal, entregam vacinas, realizam o ENEM, exportam e importam, levam informação, emitem documentos, entre outros.
Muitos desses serviços não geram lucros, apesar da empresa ser sim lucrativa. Contudo, mesmo assim são feitos, já que por serem uma empresa pública, o foco dos Correios não é o lucro, mas o atendimento a todos os brasileiros.
Fonte: Reconta ai