Artigo de Carlos Cordeiro: Pela verdadeira universalização dos serviços bancários
26/07/2011 - Por Bancários CGR
O jornal Brasil Econômico publicou na edição desta terça-feira, 26 de  julho, artigo do presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.  Intitulado  "Pela verdadeira universalização dos serviços bancários", o texto  denuncia a política de exclusão bancária através dos correspondentes e  defende a inclusão bancária para todos os brasileiros. 
 
 Para Carlos Cordeiro, "ao contrário da propaganda do sistema financeiro  de que está aumentando a bancarização com a abertura indiscriminada de  correspondentes, o que de fato está acontecendo é a elitização dos  serviços e a expulsão das agências das camadas mais pobres da população -  além de ser uma estratégia para reduzir custos". 
 
 Leia abaixo a íntegra do artigo: 
 
 Pela verdadeira universalização dos serviços bancários
 
 Carlos Cordeiro*
 
 Nos últimos oito anos, 48,7 milhões de brasileiros ascenderam  socialmente para as classes A, B e C, ampliando o mercado de consumo em  quase uma Espanha, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas. 
 
 Esse crescimento econômico extraordinário já coloca o Brasil como a 7ª  economia mundial, a caminho de conquistar o 5º lugar talvez ainda nesta  década. No entanto, a despeito dessa inédita inclusão social na nossa  história, o país ainda pontua no vergonhoso ranking das dez economias  mais desiguais do planeta. 
 
 O Brasil caminha na direção certa, mas precisa acelerar o processo de  desenvolvimento, o que inclui manter o ritmo de crescimento econômico  alto e sustentável, desconcentração da riqueza, geração de mais e  melhores empregos, fim da miséria, crescente inclusão e universalização  de direitos e de cidadania.
 
 Um desses direitos é o de ter acesso ao crédito e a dispor de conta em  banco, sem discriminação de qualquer espécie - o que não está sendo  assegurado aos brasileiros. Dados do Banco Central revelam que, dos  5.587 municípios brasileiros, 1.973 (35,3%) não possuem sequer uma  agência ou posto de atendimento bancário, e que 49% da população  brasileira não possui nenhum tipo de atendimento em instituições  financeiras. No Nordeste, apenas 36% têm conta em banco. 
 
 Embora sejam concessões públicas, os bancos não estão cumprindo seu  papel. Em vez de ampliar o número de agências, para melhorar o  atendimento à população em boas condições de segurança, estão empurrando  sua responsabilidade para terceiros, com a abertura indiscriminada de  correspondentes bancários (supermercados, lojas, lotéricas, drogarias  etc.). Em dezembro de 2010, já havia 165.228 correspondentes no país,  contra 19.813 agências bancárias. 
 
 Ao contrário da propaganda do sistema financeiro de que está aumentando a  bancarização com a abertura indiscriminada de correspondentes, o que de  fato está acontecendo é a elitização dos serviços e a expulsão das  agências das camadas mais pobres da população - além de ser uma  estratégia para reduzir custos. 
 
 Para justificar a edição das resoluções 3.954 e 3.959 de fevereiro e  março deste ano, respectivamente, que ampliam a liberdade de os bancos  abrirem correspondentes bancários, o Banco Central argumentou que elas  visam a inclusão social. Não é verdade. A metade dos correspondentes  está concentrada no Sudeste, sendo que 25% somente no Estado de São  Paulo, a região mais bancarizada do país. O BC está atendendo os  interesses dos bancos e não os da sociedade.
 
 Mais: esses correspondentes frequentemente funcionam ao lado ou em  frente às agências. É para lá que os bancos estão empurrando a clientela  de baixa renda, reservando as agências tradicionais para os  correntistas mais abastados e criando os pontos de atendimento mais  exclusivos para a elite da elite. E se nas agências bancárias a  violência já é grande, com três mortes em média por mês, nos  correspondentes bancários a falta de segurança é ainda maior. 
 
 Estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estudos  Socioeconômicos (Dieese) mostra que os correspondentes representam para  as instituições financeiras 25% da folha salarial dos bancários. É mais  uma forma de os bancos aumentarem os lucros reduzindo custos e  precarizando as relações de trabalho. 
 
 Isso não é inclusão. É uma segmentação que aumenta a exclusão social.  Bancarizar é incluir quem está à margem do sistema, garantindo que  tenham conta em banco e, assim, levar crédito à sociedade, promovendo  desenvolvimento econômico e social, que deveria ser o verdadeiro papel  dos bancos. 
 
 *Carlos Cordeiro é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)
Fonte: Contraf-CUT
