Medida aumenta jornada dos bancários e reduz o poder de negociação da categoria
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado realizou nesta segunda-feira (2) uma audiência pública para debater sobre o “Relatório da Medida Provisória 905/2019”, que trata do Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, que aprofunda a reforma trabalhista ao modificar diversos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), retirando direitos dos trabalhadores e afetando diretamente a categoria bancária.
“Fomos surpreendidos por uma medida provisória que ataca diretamente o contrato de trabalho dos bancários e atende os interesses dos bancos, que são os mais rentáveis do mundo”, disse a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Mesmo com a economia brasileira parada, os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 108 bilhões em 2019, 30,3% a mais do que no ano anterior. Eles não precisam de uma medida provisória para atender seus interesses e prejudicar os trabalhadores”, criticou a presidenta da Contraf-CUT, ao lembrar que a medida provisória supostamente foi criada para gerar empregos, mas que na verdade, vai precarizar o trabalho.
Desrespeito às negociações
Juvandia criticou a tentativa do governo, mantida pelo relator, de desrespeitar as negociações feitas pelos sindicatos, como as realizadas nas negociações sobre o pagamento da Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR). “Como presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo tive a oportunidade de acompanhar as negociações sobre a PLR feita por comissões de empregados. Os trabalhadores eram indicados pelos próprios bancos. Eles não tinham estabilidade, não tinham condições de negociar os valores da PLR, que eram distribuídos de forma a beneficiar quem ganha mais, ao contrário do que acontece nas negociações feitas agora, pelos sindicatos”, disse Juvandia.
A presidenta da Contraf-CUT lembrou ainda dos benefícios das negociações. “Graças às nossas negociações, em 2018, com quatro itens de nossa Convenção Coletiva colocamos R$ 9,9 bilhões a mais no bolso dos bancários. Em 2019, foram R$ 10,5 bilhões a mais graças à nossa negociação com os bancos. Todos esses valores vão para a economia, por meio das contas e dos impostos que os bancários pagam. Eles querem aumentar ainda mais o lucro dos bancos, que ficam concentrados em no máximo 150 pessoas e viram capital especulativo. Não faz a economia girar, como faz os recursos que colocamos nos bolsos dos bancários com os termos negociados e firmados em nossa Convenção Coletiva. A MP desrespeita essa negociação coletiva”, disse a presidenta da Contraf-CUT.
Durante a audiência, Juvandia fez uma apresentação com diversos dados específicos sobre o setor bancário e, entre outros temas, ainda falou sobre a alteração da jornada dos bancários e desrespeito da MP 905 à democracia, alertando que o artigo 57 da MP, propõe que a isenção de impostos para a PLR e os vales refeição e alimentação precisará ser atestada por ato do Ministro de Estado da Economia. “Isso tira do Congresso a decisão sobre o orçamento”.
Redução da atuação dos bancos públicos
“Não é tirando direitos básicos das pessoas e fragilizando a contratação que nós vamos resolver o problema da geração de emprego”. Foi o que afirmou o presidente da Federação Nacional das Associações de Empregados (Fenae) da Caixa Econômica Federal, Jair Pedro Ferreira, durante sua apresentação na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado.
Jair lembrou que, em um dispositivo, a medida retira dos bancos públicos o pagamento do seguro desemprego e do abono salarial. “Sabemos que isso vai afetar a capacidade de investimentos dos bancos públicos e as suas coberturas. Com essa MP, haverá um empobrecimento gigantesco da classe trabalhadora, em benefício de alguns setores empresariais. Nós na Fenae somos contrários a isso, fazemos um apelo aos deputados e senadores que votem contra essa medida provisória”, afirmou Ferreira.
Mau uso
Para o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro (Índio), a MP905 traz intranquilidade, insegurança, desconforto e desgraça para a imensa maioria do povo brasileiro, em particular para os trabalhadores. “É inadmissível a gente ver o governo usar as cores da bandeira verde amarela para instalar um regime que acaba com os direitos trabalhistas, que acaba com a segurança e que, mais uma vez, desonera as empresas. Muitos governos já fizeram isso no passado, mas, antes, tirava dinheiro dos cofres públicos. Este governo tira diretamente do trabalhador mais pobre”, criticou Índio.
O secretário-geral da Intersindical ainda ironizou a afirmação feita pelo governo de que a MP 905 não retira nenhum direito. “Não. Não tira. Só que a contribuição patronal do fundo de garantia que era de 8% mensal cai para 2%; a multa do fundo de garantia, que o trabalhador recebe no momento da sua demissão, cai de 40% para 20%. Eles também tiram o salário-educação da folha de pagamento, que é muito importante para o financiamento da educação básica, tiram a contribuição de 0,2% que vai para o Incra, permite que as férias e o 13º sejam pagos em 12 vezes, durante o ano”, afirmou.
Índio, ainda disse que, em uma conta muito simples, sem rigor, para um trabalhador contratado por R$ 1.500, no modelo atual, teria que ser recolhido de fundo de garantia R$ 1.566 e, no caso de uma demissão, ainda teria a multa de 40%. Só de fundo de garantia o trabalhador receberia em torno de R$ 2.200. Segundo ele, com a carteira verde-amarela a empresa vai recolher 2%. Ao chegar no fim do deste ano, o trabalhador demitido pode receber R$ 400. “E pior, Bolsonaro, que se coloca como defensor do povo, queria cobrar uma taxa sobre o seguro desemprego dos desempregados”, lembrou.