Segundo o Ministério da Saúde, atualmente quase 36% da população brasileira está imunizada. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), baseada em dados científicos, só é possível controlar a disseminação da Covid-19 quando 70% da população estiver devidamente imunizada.
Apesar destes dados, o Banco do Brasil divulgou um comunicado interno, nesta quinta-feira (15), informando que as funcionárias e funcionários que estão em home office, e não pertencem ao grupo de risco, poderão retornar ao trabalho presencial de forma opcional a partir do dia 20 de setembro, mesmo aqueles que ainda não se vacinaram ou completaram as duas doses do imunizante.
Para as organizações sindicais, o anúncio do BB foi motivado pela visão ideológica do governo Bolsonaro que, em setembro do ano passado, revogou uma portaria do Ministério da Saúde que incluía a Covid-19 na lista de doenças relacionadas ao trabalho.
“A pandemia ainda não acabou, estamos assistindo, no mundo todo, a atividade da terceira onda. Com a redução de circulação de pessoas, consequentemente, reduzimos a circulação do vírus. Então, nossa avaliação é que esse incentivo ao retorno presencial é ideológico, acompanhando o pensamento do governo Bolsonaro”, explicou a representante da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro (Federa/RJ) na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Rita Mota.
Pesquisa de teletrabalho
Os representantes dos trabalhadores bancários ainda criticam o fato de o convite desrespeitar o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) Emergencial da Covid-19, estabelecido logo no início da pandemia, pela atuação dos sindicatos, que trouxe mais proteção à saúde dos funcionários e funcionárias do ramo financeiro em todo o país.
“Nós não fomos comunicados sobre a elaboração do convite para o retorno ao trabalho presencial, anunciado nesta quinta-feira (15). Mesmo seguindo todas as regras e protocolos de distanciamento e higiene, não precisamos ir muito longe para saber que o trabalho presencial aumenta o risco de contaminação pela Covid-19”, ponderou Fernanda Lopes, secretária de Juventude e representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) nas negociações com o BB.
Fernanda observou que uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com quase 13 mil bancários e bancárias, divulgada no início do mês, durante a 23ª Conferência Nacional dos Bancários, revela que o trabalho remoto garantiu mais proteção contra a pandemia.
“Entre as bancárias e os bancários que ficaram em teletrabalho, 77% não apresentaram diagnóstico positivo de Convid-19, contra 23% contagiados. Por outro lado, entre os que não estiveram em teletrabalho, o percentual de contaminação foi de 38%”, ressaltou a dirigente da Contraf-CUT. “A postura do atual presidente do Banco do Brasil, de postar nas redes sociais uma imagem sua ao ser vacinado e, dias depois, ser fotografado junto aos funcionários do banco não usando máscara, representa a incoerência do convite do BB para o retorno ao trabalho presencial”, completou.
Direito ao teletrabalho
Desde o ano passado, o atendimento presencial para garantir os serviços essenciais prioritários foi determinado pelo Banco Central. Mais recentemente, a entidade liberou as atividades de forma presencial em todo o Brasil de outras diversas atividades econômicas, que antes estavam suspensas ou realizadas de forma remota.
Ainda em março de 2020, graças à atuação das centrais sindicais, o Banco do Brasil teve que determinar novas orientações protetivas aos funcionários, incluindo o trabalho home-office para todos que pudessem realizar seus trabalhos em casa, principalmente aqueles enquadrados nos grupos de risco.
Os sindicatos também atuaram dando apoio para os funcionários e as funcionárias que se sentiram, de alguma forma, pressionados pelos gestores ao retorno presencial no trabalho.
“O resultado da pesquisa do Dieese mostra que estávamos certos quando reivindicamos, logo no início da pandemia, o teletrabalho”, destacou Rita Mota.
As entidades de representação dos funcionários pedem aos funcionários que entrem em contato com seus respectivos sindicatos e denunciem caso se sintam pressionados para retornar ao trabalho de forma presencial.
Fonte: Contraf-CUT