Bancos negam haver metas abusivas e desdenham da saúde dos bancários
06/09/2011 - Por Bancários CGR
Na segunda rodada de negociação da campanha de 2011, iniciada nesta segunda-feira 5 em São Paulo, os bancos recusaram as principais reivindicações sobre saúde e condições de trabalho apresentadas pelo Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, inclusive as relacionadas a metas. Eles negam que haja metas abusivas nas instituições financeiras e questionam até mesmo a veracidade das pesquisas que apontam o aumento do número de adoecimentos na categoria em razão da pressão por aumento da produtividade.
"A postura dos bancos foi de absoluto desdém em relação à saúde dos trabalhadores e às condições de trabalho", condena Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. "Eles estão sendo irresponsáveis com o sofrimento dos bancários dentro das dependências."
Problema é o modelo de gestão
O Comando Nacional fez uma longa explanação sobre as precárias condições de trabalho hoje nos bancos, apontando a relação direta que existe entre o assédio moral e as metas abusivas, ambos incentivados pelo atual modelo de gestão - o que está levando a um aumento vertiginoso de adoecimentos na categoria e do uso de remédios de tarja preta.
Levantamento do INSS mostra que as doenças mentais, provocadas pela pressão por cumprimento de metas e pelo assédio moral, já se aproximam do número de casos de LER/DORT. Entre janeiro e junho de 2009, por exemplo, 6.800 bancários no Brasil foram afastados por doenças, dos quais 2.030 por LER/DORT e 1.626 por transtornos mentais. Pesquisa da Universidade de Brasília revelou que houve 181 suicídios de bancários entre 1996 e 2005, o que dá uma média de 18 por ano.
Para combater o desrespeito dos bancos, os bancários propõem, entre outras coisas, a participação dos trabalhadores na fixação das metas, que devem levar em consideração o tamanho, a localização e o perfil econômico das dependências. O Comando Nacional também reivindicou que não haja meta de venda de produtos para os caixas. E que as metas não sejam individuais nem comparadas por quaisquer tipos de ranking.
Como demonstração de que os bancários não estão suportando a pressão pelo cumprimento de metas e o assédio moral, os dirigentes sindicais apresentaram os resultados da Pesquisa de Emprego realizada pela Contraf-CUT e pelo Dieese com base nos dados do Caged do Ministério do Trabalho, mostrando que mais de 47% dos desligamentos que ocorreram no sistema financeiro no primeiro semestre deste ano foram a pedido.
`Bancos não estão preocupados com a saúde dos bancários`
Os representantes da Fenaban disseram que o estabelecimento de metas é prerrogativa da gestão das empresas, informaram que a recomendação dos bancos é evitar a divulgação de ranking individual de metas, afirmaram não ser possível fazer qualquer relação entre metas, assédio moral e adoecimento dos trabalhadores, e questionaram as metodologias das pesquisas sobre saúde dos bancários. Os banqueiros também declararam que os bancários estão satisfeitos com as metas e que quando um trabalhador sai do banco é para ir trabalhar em outro banco.
"Quando não têm argumentos, os banqueiros questionam nossas pesquisas, demonstrando que eles não estão preocupados com a saúde dos trabalhadores. Chegaram a duvidar dos dados extraídos do anuário estatístico do INSS", critica Carlos Cordeiro.
Em resposta ao questionamento dos bancos, o Comando Nacional propôs a realização de uma pesquisa nacional conjunta sobre a saúde dos bancários e sobre as metas, além da inclusão na Convenção Coletiva de uma cláusula proibindo a divulgação de rankings individuais sobre cumprimentos de metas. Os negociadores da Fenaban ficaram de levar essas propostas para a avaliação dos bancos.
Assédio moral
O Comando Nacional e os representantes dos bancos concordaram com a retomada imediata da comissão de acompanhamento da cláusula de prevenção de assédio para concluir o balanço dos primeiros seis meses de vigência do programa.
Eliminação de riscos
O Comando Nacional defendeu a cláusula da pauta de reivindicações segundo a qual os bancos não podem manter bancários trabalhando no mesmo ambiente físico de agências e departamentos que estejam sendo submetidos à reforma. Os representantes da Fenaban não aceitaram incluir essa cláusula na Convenção Coletiva, afirmando que esse é um tema para discussão empresa por empresa, caso a caso.
Os negociadores dos banqueiros também rejeitaram a reivindicação de manutenção da complementação salarial em valor equivalente à diferença entre a importância recebida do INSS e a remuneração total recebida pelo trabalhador (como salários, comissões, gratificações, adicionais, PLR, como se na ativa estivesse) até a cessação do auxílio-doença.
A Fenabam recusou também a proposta de que ampliação da licença-maternidade de quatro para seis meses seja automática, sem a necessidade de opção por parte da bancária.
"Há uma grande resistência por parte dos bancos em discutir de forma aprofundada as questões relativas à saúde do trabalhador, pois eles sabem que esse debate passa pela problemática da organização do trabalho. O tema das metas é bem exemplar disso: eles alegam que seria uma ingerência na gestão, mas na verdade o que eles não querem é admitir que há abusos na estipulação e cobrança das metas, o que importa é que os ganhos de produtividade sejam cada vez maiores, mesmo que à custa do adoecimento dos trabalhadores", afirma Plínio Pavão, secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT.
Negociação sobre remuneração será dia 12
A rodada de negociação sobre remuneração foi antecipada pela Fenaban para a próxima segunda-feira, dia 12. Nesta terça 6, a negociação continua sobre segurança bancária.
Fonte: Contraf-CUT