Bancos públicos vão liderar crédito em 2014, projeta Banco Central
20/12/2013 - Por Bancários CGR
O crédito bancário vai crescer a taxas mais moderadas em 2014, prevê o Banco Central, com um avanço projetado em 13%, abaixo dos 14% esperados para 2013. Os bancos públicos vão desacelerar a expansão de suas carteiras, de 21% para 17%, mas uma análise detalhada dos dados mostra que o crescimento seguirá desequilibrado.
As instituições oficiais devem responder por dois terços da oferta adicional de crédito projetada pelo BC para 2014. Caso as estimativas se confirmem, eles seguirão ampliando a sua participação de mercado, dos 50,8% observados em novembro para 52,8% em dezembro de 2014, realimentando receios de uma gradual estatização do crédito no país.
Os bancos privados seguirão bem contidos em 2014, com um crescimento nas carteiras de 10%, no caso das instituições nacionais, e de 8%, no caso das estrangeiras. Para este ano, a projeção do BC é um crescimento de apenas 6% para os nacionais, que basicamente acompanharia a inflação do período, e de 8% dos estrangeiros.
A desaceleração do crédito dos bancos públicos, entre 2013 e 2014, reflete determinação feita em setembro pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo procura tranquilizar investidores e agências de classificação de risco, que alertam para os custos fiscais dos seguidos aportes de capital feitos pelo Tesouro nos bancos públicos para lastrear a expansão de seus empréstimos. Aos poucos, os bancos públicos já vinham desacelerando a expansão de suas carteiras. Em 2012, seu volume de crédito cresceu 27,8% e, nos 12 meses encerrados em novembro, o avanço já havia recuado para 23,4%.
Os bancos públicos vêm ganhando participação de mercado desde a crise financeira de 2008, quando os privados se retraíram. Mas eles ficaram mais agressivos sobretudo em 2012, seguindo ordem da presidente Dilma Rousseff para cortar os juros para forçar competição no mercado bancário.
Os bancos privados desaceleraram a oferta de crédito em meados de 2010, quando atravessaram um surto de aumento de inadimplência, concentrada sobretudo em financiamentos a veículos. De lá para cá, a inadimplência recuou.
Na semana passada, Mantega citou a redução da oferta de crédito como um fator por trás da queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. A economia, disse, estaria crescendo "com duas pernas mancas", por causa da falta de crédito e do baixo crescimento mundial.
Dados divulgados ontem pelo BC, porém, mostram que o crédito continua a avançar acima do PIB. Neste ano, cresceu de 53,9% para 55,6% do Produto, na comparação entre dezembro de 2012 e de novembro de 2013. E, pelas projeções do BC, o crédito seguirá crescendo acima do PIB em 2014. Sua participação no Produto subiria dos 56% no fim de 2013 e para 58% em 2014.
"O crédito continua crescendo de forma significativa, acima do PIB nominal, mas em patamares mais próximos do que se considera sustentáveis", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, que apresentou ontem estatísticas do crédito de novembro e as projeções para 2014. "O crédito continuará como um elemento de sustentação do crescimento da economia", disse Maciel.
O desequilíbrio no crescimento do crédito em 2014 ocorrerá não apenas na divisão entre bancos públicos e privados, mas também no tipo de empréstimo. A projeção do BC é que o crédito livre, com juros pactuados em mercado, avance 10% em 2014, pouco acima dos 8% esperados em 2013. Já o crédito direcionado, cujas condições são determinadas pelo governo, vai crescer 17%, projeta o BC. Ficará abaixo dos 24% estimados para 2013, mas numa taxa que equivale ao dobro da projetada para o crédito livre.
Em novembro, o crédito bancário cresceu 1,5%, tomando um novo impulso depois de dois meses mornos - setembro e outubro - em virtude sobretudo da greve dos bancários. Os juros médios cobrados pelos bancos no credito subiram de 19,8% ao ano para 20% ao ano entre outubro e novembro, maior percentual desde junho do ano passado. A alta é reflexo do processo de elevação da Selic, que saiu de 7,25% para 10% ao ano.
Fonte: Alex Ribeiro e Eduardo Campos/Valor Econômico