Brasil deve quebrar hegemonia do capital financeiro, diz Emir Sader
11/06/2013 - Por Bancários CGR
É preciso quebrar a hegemonia do capital financeiro no Brasil, que é fundamentalmente especulativo e está freando o desenvolvimento econômico do país. A afirmação é do sociólogo e doutor em Ciência Política Emir Sader, em visita ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, ocorrida nesta segunda-feira 10.
Ele citou como exemplo, herança do neoliberalismo, o que chamou de "histeria da inflação" na mídia. "Os salários estão subindo acima da inflação, portanto estão protegidos. Na verdade a histeria da inflação na grande mídia está preocupada é com o capital especulativo, e o BC está se deixando levar por isso, indo na contramão do desenvolvimento do país", disse, referindo-se às duas recentes altas da Selic, que passou de 7,25% para 7,5% em abril, e foi para 8,0% em maio, após reuniões do Comitê de Políticas Monetárias (Copom).
"A financeirização da economia da fase neoliberal do capitalismo prevê desregulamentação e deixar circular o capital. Marx já dizia que o capital não é feito para produzir, mas para acumular riqueza, e se ele consegue fazer isso com especulação, não fará investimentos produtivos", afirmou.
O professor ressaltou ainda que o Brasil precisa fortalecer a produção agrícola das pequenas e médias empresas, aumentando assim o abastecimento do mercado interno. "Temos de ser autossuficientes em alimentos".
Emir Sader defendeu também a democratização da comunicação e o financiamento público de campanha. "O Congresso é eleito com financiamento privado e não reflete a sociedade". Ele destacou que a maioria do Legislativo defende os interesses dos empresários quando a grande maioria da população brasileira é de trabalhadores. "O movimento sindical tem de eleger sua bancada no Congresso", disse.
Organizador do livro Lula e Dilma - 10 Anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil, Emir Sader destacou os avanços no país durante os anos de governo do PT. "Está claro que o resultado é positivo. O Brasil cresceu e se transformou para melhor, mas é preciso mais reflexão."
Visão
Ao abrir o debate, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, comemorou o fato de o país ter pensadores como Emir Sader, que proporcionam uma visão alternativa a da grande imprensa. "No futuro quem se informar pela imprensa sobre o que aconteceu nesses últimos 10 anos no país não vai perceber o que se passou de fato. Por isso, ter intelectuais que contam essa história de outra forma é fundamental."
Emir Sader lembrou que a América Latina foi um dos continentes que mais sofreu com as políticas neoliberais, que praticavam o Estado mínimo diante do mercado máximo, mas que agora países como o Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador tentam se reerguer adotando outro modelo. "Tivemos a crise da dívida e depois as ditaduras militares, com o início das privatizações e ataques às políticas sociais. Agora, nos governos pós-neoliberais, a prioridade do Estado não é mais ajuste fiscal, mas políticas sociais."
O sociólogo ressaltou ainda que a política de comércio internacional dos governos pós-neoliberais como o Brasil prioriza hoje o intercâmbio sul/sul. "Mais de 90% do comércio do México é feito com os EUA, enquanto nós temos comércio com a Ásia, especialmente com a China, com a América do Sul, e nosso mercado interno está forte."
O sociólogo, que assina blog no portal Carta Maior, frisou ainda o papel desses governos diante de um mundo em crise. "O Brasil tem muito o que ensinar para uma Europa que está jogando álcool no fogo. Eles não conseguem sair da recessão porque continuam adotando as políticas conservadoras do neoliberalismo, com medidas de austeridade. Diante desse contexto conservador é uma vitória importante as eleições de Roberto Azevêdo na OMC (Organização Mundial do Comércio) e de Paulo Vannuchi para a OEA (Organização dos Estados Americanos)", avaliou.
Ex-ministro de Lula, Vannuchi é, desde 6 de junho, um dos três novos integrantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA. Azevêdo é o primeiro brasileiro a ocupar o posto mais alto da OMC, foi eleito diretor-geral do órgão em 8 de maio.
Fonte: Andréa Ponte Souza - Seeb São Paulo