Capitalismo vive crise estrutural e precariza o trabalho, avalia sociólogo
03/07/2013 - Por Bancários CGR
A atual crise do capitalismo não é cíclica, mas estrutural, e os novos modelos de produção promovem a precarização do trabalho. Essa foi a afirmação do sociólogo e professor, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, Iuri Ramos, ex-funcionário do Banco do Brasil e especialista em Sociologia do Trabalho, durante a palestra "Reestruturação produtiva e a precarização do trabalho nos bancos".
O acadêmico participou da 15ª Conferência Interestadual dos Bancários RJ/ES, realizada no último sábado (29), em Guarapari, no litoral capixaba. Segundo o especialista, o atual processo de precarização do trabalho é fruto das transformações do modo de produção.
"O capital já não consegue a mesma capacidade de acumulação de lucros nos níveis dos anos 70. O modelo fordista de produção, iniciado após a segunda grande guerra mundial, com produção em série cada vez maior de uma mesma mercadoria não é mais possível diante da velocidade dos avanços tecnológicos. Além disso, não há mais tantos mercados para a expansão produtiva", explica Iuri.
Para o pesquisador, o novo modelo produtivo é mais dinâmico e flexível. "Hoje o modelo é o chamado toyotismo, que impõe transformações no mundo do trabalho. O processo de ampliação das tercerizações, o uso cada vez maior de estagiários e trabalhadores terceirizados, o ataque do capital aos direitos trabalhistas e toda a precarização do trabalho fazem parte desta nova etapa do capitalismo", acrescenta.
O sociólogo disse ainda que o Projeto de Lei (PL) 4330/04, que escancara a terceirizações e ameaça os diretos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a organização das categorias, faz parte destas transformações impostas pelo capital.
O BB como exemplo
Em sua pesquisa, Iuri cita o Banco do Brasil como um exemplo típico dessas transformações impostas pelo capitalismo. "Em 1986, com o fim da chamada conta-movimento, que permitia ao governo realizar movimentações financeiras diárias, criando reservas que cobriam os gastos da empresa, a instituição deixa o modelo burocrático e cartorial e passa a priorizar a lógica de mercado dos conglomerados e venda de produtos. As agências, como no setor privado, foram transformadas em `balcão de negócios`", afirma.
A partir dos anos 90, com a política neoliberal, essas mudanças foram aprofundadas no banco. "A possibilidade de privatização fez com que o BB cobrasse ainda mais um novo comportamento dos bancários para atender às demandas do mercado", destaca.
O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Almir Aguiar, lembra que o aumento das metas é um dos principais pilares dessas mudanças. "Os bancos públicos hoje possuem uma política de cobrança de metas similar à do setor privado, com pressão psicológica e assédio moral", critica.
O Programa de Demissões Voluntárias (PDV), lançado no BB em 1995, foi mais uma prática da reforma neoliberal nas instituições e empresas públicas no Brasil. "O processo de enxugamento de mão de obra no banco foi o maior do mundo em um curto espaço de tempo. Cerca de 40 mil bancários saíram do BB em apenas um ano e meio", lembra Iuri.
Segundo o pesquisador, o risco de demissões e as cobranças por metas elevaram ainda mais a pressão sobre os trabalhadores. "Além da elevação de casos de funcionários com psicopatologias e outras doenças ocupacionais, as mudanças levaram 22 bancários a cometer o suicídio no BB", denuncia.
Fonte: Contraf-CUT com Seeb Rio