Cobrada indevidamente, cliente se torna dona de parte de uma agência do BB
18/04/2011 - Por Bancários CGR
De correntista, uma servidora pública se tornou a dona de parte de uma  agência do Banco do Brasil (BB), graças a um lançamento indevido em seu  cartão de crédito. A procuradora federal Alessandra Chaves Braga Guerra  ganhou na Justiça o direito de comprar uma sala onde hoje funcionam os  terminais de autoatendimento da instituição financeira no Gilberto  Salomão, centro comercial mais tradicional do Lago Sul. 
 
 Com 190 metros quadrados, o imóvel, avaliado hoje pelo mercado em torno  de R$ 1,5 milhão, foi adquirido pelo preço de R$ 310 mil durante penhora  do bem na fase de execução do processo judicial que Alessandra ganhou  do BB. Na manhã de ontem, os empregados da agência trabalhavam na  desocupação da área que não pertence mais ao Banco do Brasil.
 
 A disputa começou com a cobrança de uma dívida de R$ 983, valor  correspondente a três compras não realizadas por Alessandra e lançadas  incorretamente na fatura pela BB Administradora de Cartões de Crédito,  em julho de 2000. Ao detectar o extravio de seu cartão de crédito  Mastercard, ela comunicou ao banco a perda e o possível uso por  terceiros. Também registrou a ocorrência por meio de 14 cartas.
 
 Alessandra conta no processo que ligou várias vezes para reclamar, sem  sucesso. Ela pagou a conta, excluindo os valores errados. O Banco do  Brasil, então, passou a enviar cobranças por telefone e  correspondências, com inclusão de juros. O cartão de crédito foi  cancelado e o nome de Alessandra foi incluído no Serasa. Ela reclama de  ter sido submetida a constrangimentos.
 
 A procuradora, então, ajuizou ação para declarar a inexistência do  débito cobrado pelo Banco do Brasil. Ela pediu também uma indenização  por dano moral. O processo transitou em julgado em 2006, com ganho de  causa para ela. O Tribunal de Justiça do DF não só reconheceu que a  servidora não devia nada ao cartão de crédito como também considerou que  a cobrança lhe causou dano.
 
 A Justiça determinou como compensação o pagamento de indenização de R$  22 mil. O Banco do Brasil não pagou a dívida, tampouco propôs acordo  judicial na fase de execução. Com a demora no desfecho do caso, a  servidora pública entrou na Justiça com pedido de penhora de patrimônio  da instituição financeira, como forma de obter o recebimento da vantagem  que a Justiça lhe concedeu.
 
 Penhora
 
 Partiu de Alessandra a escolha da sala em que funciona parte da agência  do Banco do Brasil para a penhora. O imóvel foi aceito em juízo e nem  desta vez o Banco do Brasil teria apresentado alguma contestação. Em  seguida, os advogados de Alessandra pediram a avaliação da área. Um  oficial de Justiça cuidou da estimativa do valor do imóvel que, segundo  os representantes da servidora pública, levou em conta o mercado do  Distrito Federal e o fato de a área estar ocupada pelo Banco do Brasil, o  que reduziria o interesse pela sala.
 
 O imóvel deveria ir a leilão em que qualquer pessoa poderia arrematá-lo  pelo melhor lance. O preço de venda seria transferido para o banco,  abatido o valor de R$ 22 mil devido a Alessandra. A Justiça, no entanto,  acatou pedido de adjudicação feito pelos advogados de Alessandra, ou  seja, deu a ela o direito de comprar a sala pelo preço avaliado durante o  processo.
 
 Alessandra e o marido, Alan Guerra, pediram empréstimos com amigos e  fizeram financiamentos bancários para arrematar o bem, que hoje já está  escriturado em nome da procuradora. Ou seja, ela já se tornou dona de  parte da agência do Banco do Brasil no Lago Sul. 
 
 Os advogados sustentam que o casal está disposto a alugar a área para o  próprio Banco do Brasil, pelo preço que a instituição vizinha, o  Bradesco, paga pela permanência no Gilberto Salomão. O casal aceitou dar  apenas uma declaração sobre o episódio: "Foi uma vitória da Justiça.  Uma servidora pública e o maior banco da América Latina foram tratados  com igualdade".
 
 Jacques Veloso, advogado de Alessandra, afirma que já não cabem mais  recursos, uma vez que a ação de indenização transitou em julgado e a  escritura do imóvel já está em nome da servidora. "Isso só aconteceu  porque o banco sempre protelou uma solução para o caso. Foi intimado e  não pagou a indenização, não contestou a penhora e não questionou a  avaliação do imóvel. O direito não socorre a quem dorme", afirmou o  advogado.
 
 A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou ontem que a equipe  jurídica está envolvida no caso e vai recorrer da decisão porque não se  conforma com a medida. Vai lançar mão de todos os meios jurídicos para  contestar a transferência do bem para a procuradora federal. 
 
 Em nota enviada à noite ao Correio, o BB informa que reconhece uma  dívida de "pouco mais de R$ 20 mil" com a procuradora. No entanto, a  instituição contesta a avaliação de R$ 300 mil porque sustenta que, em  valores no mercado imobiliário, o bem valeria em torno de R$ 1,5 milhão.  Por isso, alega o banco, a procuradora será alvo de uma representação  na Corregedoria da Procuradoria da Fazenda Nacional "em face de suposto  enriquecimento sem causa".
Fonte: Contraf/CUT com Correio Braziliense

