Debate torto pauta Banco do Brasil na perpetuação do home office
24/06/2020 - Por Bancários CGR
Alegando economia, mesma direção que forçou bancários a tirarem duas férias e a usarem banco de horas negativo na pandemia agora discute manter milhares em regime permanente de trabalho remoto; pesquisadora aponta problemas e Sindicato quer discutir tema com seriedade e compromisso
Diante da crise do novo coronavírus, o Sindicato cobrou dos bancos medidas a fim de conter a disseminação da doença entre os bancários. As negocações com a Fenaban garantiram a permanência de cerca de 300 mil bancários em regime de trabalho remoto.
O Banco do Brasil (BB) pretende manter cerca de 10 mil funcionários de áreas administrativas em jornada parcialmente remota. A ideia é que essa parcela de funcionários, que será definida segundo os critérios do gestor de cada área, trabalhe parte dos dias no escritório e parte em casa. A decisão ainda não foi tomada, mas estudos internos apontam uma economia de até R$ 180 milhões por ano com a implantação de um home office desta proporção no BB. As informações foram divulgadas pelo Valor PRO, nesta terça-feira 23.
Para João Fukunaga, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEE/BB), o Banco do Brasil deveria assumir uma série de compromissos que estão sendo ignorados, ao invés de adotar um debate torto, em que somente a economia do banco está sendo priorizada.
“É no mínimo uma hipocrisia o Banco do Brasil enxergar este debate apenas sob o prisma da economia que será feita com o home office, sendo que o mesmo banco causou um processo desumano durante a pandemia, quando muitos colegas foram obrigados a utilizar as duas férias e tiveram de usar o banco de horas negativo porque não havia estrutura de home office para todos”, afirma Fukunaga, que também é diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
A economia prevista pelo banco viria com a redução de despesas com imóveis – entre aluguel e manutenção –, segundo o Valor PRO.
“Se há uma previsão de economia com imóveis, o banco deve assumir a responsabilidade de fornecer equipamentos aos funcionários, já que o computador para as atividades profissionais deve ser monitorado por conta do sigilo bancário, o que irá violar a vida privada dos empregados se este monitoramento for feito nos computadores pessoais. Queremos, sim, discutir a questão, mas com seriedade e compromisso. E essas premissas estão faltando por parte da diretoria de pessoas e da sua vice-presidência”, afirma Fukunaga.
Isolamento, angústia, depressão e mais produtividade
Ana Tercia Sanches é autora de tese de doutorado com o tema Trabalho Bancário – Inovações Tecnológicas, Intensificação e Gestão por Resultados. A professora e pesquisadora da Faculdade 28 de Agosto ressalta que o home office por períodos prolongados pode resultar em uma série de problemas nos trabalhadores, sobretudo de ordem psicológica e ergonômica.
“O ser humano é um ser social. Ficar isolado em casa pode levar algumas pessoas a desenvolverem problemas mentais, como ansiedade e depressão. O ganho do trabalho se dá no coletivo. Existem outros sinais que vão compondo o aprendizado para um trabalho melhor, e a perda de sociabilidade pode fazer com que as trocas entre as pessoas se tornem insuficientes.”
O home office causa outro fator desencadeador de tensão que é conciliar o trabalho com as atividades domésticas e cuidados com os filhos, avalia Ana Tércia. “Fora tudo isso tem o ambiente físico. A pessoa pode não trabalhar em condições ergonômicas adequadas, como uma bancada inapropriada, má ventilação, móveis inadequados, pouca movimentação do corpo. Isso tudo gera uma sobrecarrega metal e muscular maior”, pontua.
A pesquisadora enfatiza, ainda, que as empresas esperam que a produtividade seja maior no trabalho remoto do que no presencial, devido a menor perda de atenção. “Essa exigência não pode ser linearmente atendida, pois as condições acima mencionadas impactam de formas diferentes em cada pessoa, conforme a sua função e condições de trabalho.”
Fonte: Redação Spbancarios