Desde 2019, cresce em 1 milhão o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler
17/02/2022 - Por Bancários CGR
O estudo aponta que esse descaso com a educação formal, em momento decisivo da aprendizagem da pessoa, também traz fortes fatores de discriminação racial, pois as crianças pretas e pardas (conforme a terminologia do IBGE) foram muito mais afetadas, pois os índices nesses segmentos da pesquisa saltaram, respectivamente, de 28,8% e 28,2%, em 2019, para 47,4% e 44,5%, em 2021. Com relação às crianças brancas, o aumento foi de 20,3% para 35,1% no período. A diferença também se observa pela condição social dos jovens estudantes. Sempre de 2019 a 2021, entre as crianças dos domicílios mais ricos, o aumento do índice foi de 11,4% para 16,6%, enquanto entre os filhos das famílias mais pobres foi de 33,6% para 51%.
Como afirma Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), “os números apontam para uma realidade cruel do racismo estrutural. Com certeza, a não valorização da identidade negra nas escolas desestimula os alunos. Além disso, as crianças negras e periféricas são estimuladas a buscar trabalho infantil desde cedo para o aumentar a renda familiar. Enquanto tivermos essa política de apartheid social, em que os negros e os profissionais de ensino não são valorizados, vamos conviver por muito tempo com essas distorções; é isso precisa mudar”.
De acordo com Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos Pela Educação, “a alfabetização na idade correta é etapa fundamental na trajetória escolar de uma criança, e por isso esse prejuízo nos preocupa tanto. E porque os danos podem ser permanentes, uma vez que a alfabetização é condição prévia para os demais aprendizados escolares. É inadmissível retrocedermos em níveis de alfabetização e escolaridade”.
O período pesquisado inclui a pandemia da covid-19, no entanto, o problema não é devido ao distanciamento social estabelecido para frear a disseminação do coronavírus. Conforme a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o Brasil já enfrentava sérios problemas de financiamento adequado ao setor, de estrutura escolar e de investimento em tecnologia voltado aos alunos. Conforme Heleno Araújo, presidente da entidade, “o afastamento da escola foi uma decisão correta aplicada de uma forma incompleta, mas o País falhou em não dar as condições de manter a formação escolar dos estudantes”.
Veja aqui a nota técnica completa da organização Todos Pela Educação.
Fonte: Contraf-CUT