Executivos do Itaú BBA vendem fatia, mas mantêm controle compartilhado
13/01/2009 - Por Bancários CGR
São Paulo - O Itaú deu outra grande tacada no apagar das luzes de 2008. Fechou a compra de uma participação de 4,25% que os antigos sócios do BBA Creditanstalt ainda tinham no Banco Itaú BBA e passou a ser 100% dono do banco de atacado. O valor do negócio não foi revelado, mas a compra foi paga em dinheiro.
Prefiro não dizer o valor. Foi um múltiplo compatível com o avaliado na negociação original, em 2002, explicou Cândido Bracher, presidente do Itaú BBA e membro do novo conselho de administração do Itaú Unibanco. O banco Itaú adquiriu 95,75% do BBA em novembro de 2002. Na ocasião, pagou R$ 3,3 bilhões, parte em dinheiro e parte em ações da instituição. Um analista calcula que o valor da venda dos 4,25%, fechada nos últimos dias de dezembro, seja superior a R$ 200 milhões .
Um acordo de acionistas assinado há seis anos permitia que, mesmo com menos de 5% do capital total, os cerca de 40 sócios do antigo BBA mantivessem o controle compartilhado do Itaú BBA graças a uma estrutura com duas holdings. O Itaú BBA tinha 50% de seu capital votante controlado por uma empresa de participações, que, por sua vez, tinha 51% de suas ações ordinárias nas mãos de uma segunda empresa, apelidada de HE (holding dos executivos), com dois terços de ações preferenciais e um terço de ordinárias. Os outros 49% estavam nas mãos do Itaú.
De acordo com Bracher, o controle compartilhado foi mantido, mesmo após a venda dos 4,25%. Mantivemos o acordo por meio de uma golden share, disse Bracher, ressaltando que estão preservados os mesmos direitos e deveres do acordo original e que, por ora, foram mantidos nessa negociação os mesmos 40 sócios. A lista inclui Jean Marc Etlin e Fernão Bracher, pai de Cândido e um dos fundadores do BBA. A golden share é uma ação com direitos especiais e foi bastante utilizada pelo governo no processo de privatizações, para garantir à União direitos como veto a mudanças de controle ou de objeto social.
O controle compartilhado no Itaú BBA é considerado por especialistas como o pulo do gato do Itaú. Ao manter a autonomia do antigo BBA, inclusive com a separação física da equipe, a instituição controlada pelas famílias Setubal e Villela evitou que a tradicional cultura de varejo do Itaú contaminasse a estrutura de atacado do BBA e abriu vantagem nesse segmento em relação ao seu principal concorrente, o Bradesco.
A venda agora dos 4,25%, segundo Cândido Bracher, foi feita para facilitar negociações internas, especialmente em processos de aquisição realizados pelo Itaú. Sempre que havia um movimento, como a fusão com o Unibanco, era necessário discutir quanto disso iria para o Itaú BBA, por conta do controle econômico diferente entre as duas instituições. Agora, não. É tudo do Itaú. Isso simplifica as negociações internas e é bom para o Itaú e para os sócios.
Outro motivo que levou à venda da participação, segundo o Valor apurou, é o fato de que a estrutura anterior do Itaú BBA dificultava a união com a área de atacado do Unibanco e até mesmo da Itaú Corretora, uma idéia que chegou a ser cogitada. A relação entre os executivos era prejudicada por conta da participação acionária que os 40 sócios originais tinham no Itaú BBA.
Procurado, o Itaú Unibanco preferiu não se manifestar. Pela legislação, a instituição não está obrigada a divulgar fato relevante porque a participação dos executivos do antigo BBA era inferior a 5%.
Embora o valor do negócio não tenha sido divulgado, um analista fez, a pedido do Valor, cálculos de quanto poderia valer essa participação. Nos resultados do terceiro trimestre, o Itaú divulgou que o retorno anualizado do banco de atacado era de 19,3% do capital alocado. Grosso modo, esse capital pode ser considerado o patrimônio. Os 4,25% representariam, portanto, R$ 70,9 milhões. Se a negociação saiu por três vezes o valor patrimonial, é possível dizer que o bloco de ações valeria R$ 212,7 milhões, explica. Ele também lembra que, em 2002, o Itaú pagou 1,8 vez o valor patrimonial. Pelo preço da época, os 4,25% teriam custado R$ 146,48 milhões. Esse valor, atualizado pelo IPCA do período, seria em dezembro do ano passado de R$ 218,5 milhões. Se fosse atualizado pelo IGP-M, alcançaria R$ 242,89 milhões.
No ano passado, o Itaú BBA foi considerado o banco nacional que mais realizou operações de crédito atreladas a derivativos de câmbio, nos mesmos moldes daquelas que geraram prejuízos à Sadia e à Aracruz. A instituição é, por exemplo, uma das 12 credoras da Aracruz, empresa que perdeu US$ 2,1 bilhões com instrumentos como arget forward. Apesar disso, o analista acredita que o Itaú BBA não deverá apresentar um volume de provisões elevado no quarto trimestre. Segundo ele, o banco teria engatilhado diversas renegociações de dívida com seus clientes.
Fonte: Contraf/CUT, com Valor Online