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Guido Mantega: “Bolsonaro foi muito competente em destruir o Brasil”
10/06/2022 - Por Bancários CGR
“Nós podemos afirmar que o Bolsonaro foi muito competente em destruir o Brasil, em demolir esse estado desenvolvimentista, de bem-estar social que nós tínhamos criado. Eles introduziram uma nova estratégia de política econômica, o neoliberalismo, contra o desenvolvimentismo e o objetivo deles era justamente desmontar o estado.” Nessa estratégia encontra-se a intenção de privatizar bancos públicos, mudando radicalmente seu papel que é, acima do lucro, social. “Um banco público não é igual a um banco privado. O objetivo do banco privado é ter o lucro máximo, ele não está preocupado com a questão social. Já o banco público, tem que ter lucro e tem que ser eficiente, mas tem que ajudar a economia a crescer, a distribuir renda e tudo mais.”
Mantega apresentou dados como o desemprego, que desde a era Temer está acima de 10%. Segundo o ex-ministro, o PIB, na era Lula, crescia anualmente até 4%, enquanto que no governo Bolsonaro do início ao final não chegou a 3%. Hoje, o crescimento está, em média, em 0,5%, o que torna incapaz a geração de empregos. “Estamos caminhando para a estagflação” (estagnação do crescimento econômico acompanhada de inflação), declarou Guido.
Como alternativas para a reconstrução do país, o ex-ministro apresentou saídas que vão da desprivatização das estatais até socorrer pessoas que estão em situação crítica e tirá-las da situação de fome. “É igual ao que aconteceu em 2003, quando Lula criou, como urgência, o programa Fome Zero”, finalizou.
Antes e após Lula-Dilma
O debate da mesa seguiu com a participação do economista e ex-técnico do Dieese, Jorge Gouveia. Ele destacou que, se hoje estamos à beira da estagflação, como explicado por Guido Mantega, antes do golpe que culminou na ascensão de Michel Temer à Presidência e do atual governo, o país apresentava crescimento sustentável, e o papel dos bancos públicos, para obter a alavancagem naquele momento da economia foi fundamental.
“A carteira do Banco do Brasil somava, no final de 2015, R$ 719 bilhões. Desde então, caiu e só recuperou este patamar em setembro do ano passado. Esse dado exemplifica a diferença do papel que os bancos públicos tiveram nesses dois momentos”, destacou.
Em um trecho de sua apresentação, o economista ainda pontuou que “mesmo naqueles países em que os mercados de crédito e mercados acionários são desenvolvidos e aprofundados, não se reduz a necessidade de bancos e/ou estruturas e arranjos institucionais públicos especializados e direcionados ao financiamento de atividades e/ou setores que se deparam com restrições nos mercados privados”. Ele concluiu que os bancos públicos podem atuar para a reconstrução do país com aumento do acesso ao crédito, impulsionamento do desenvolvimento em várias áreas da economia real, incluindo obras públicas, setor em que o Brasil ainda apresenta muitas carências.
O BB que queremos
O debate da mesa terminou com a fala do ex-presidente Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, João Vaccari Neto que focou sua palestra em cima do mote “O Banco do Brasil que nós queremos no brasil que nós queremos.”
Ele lembrou que durante todo o período dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2001) não houve nenhum reajuste salarial nos bancos públicos. “Foi um massacre dos funcionários”, e, segundo ele, isso foi determinante para o enfraquecimento do papel dessas entidades também para o desenvolvimento do país.
“Na época os bancos reconheciam apenas a Contec e não os sindicatos, quando era para negociar os direitos dos trabalhadores. Então, ao longo dos anos, tivemos que fazer um esforço enorme para retomar a autoridade dos sindicatos nas negociações”, explicou.
Ele conta que as primeiras grandes conquistas começaram no governo Lula: “Colocamos os bancos públicos participando da mesa de debates junto com os bancos privados. Também conquistamos espaço no tratamento dado aos pequenos clientes e proprietários, impedidos de entrar e obter crédito. Essas conquistas foram determinantes”, pontuou.
O início da crise
Vacari relembrou que, nos governos Lula, os movimentos sociais “entraram numa espiral de autoconfiança”. “Então, vieram as crises políticas de 2004, 2013, 2016 e, em seguida, a Lava Jato, iniciando a política de eliminação de empregos e a derrocada da indústria, tendo por trás a ação do governo norte-americano”, observou. “Encontramos registros que, desde 2013 meu telefone foi grampeado e eu fui preso em 2015. Eles queriam acabar com a política e a representatividade do governo”, disse. O resto da história, derrubada de Dilma, prisão de Lula e destruição de grandes empresas brasileiras, todos nós já conhecemos, ele lembrou.