Justiça por Moïse: cidades se levantam contra racismo e xenofobia
07/02/2022 - Por Bancários CGR
Moïse Kabagambe foi espancado por três homens no quiosque Tropicália onde trabalhava, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. Ele havia ido cobrar o pagamento de diárias atrasadas por serviços prestados ao estabelecimento, segundo relato de familiares. O caso ficou aproximadamente uma semana sem grandes repercussões.
Porém, após denúncia de familiares, movimentos populares convocaram um ato unificado e nacional para denunciar o racismo, xenofobia e a violência, explícitos no caso, com o mote “#JustiçaPorMoïse”. Ocorreram mobilizações no Rio de Janeiro, local do crime, e em São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Maranhão, Rio Grande do Norte e no Distrito Federal.
No Rio, o ato se concentrou em frente ao quiosque Tropicália, onde Moïse foi assassinado, e reuniu familiares do congolês, além de dezenas de organizações defensoras dos direitos humanos e do movimento negro.
O secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, que participou do ato no Rio, disse que a tragédia vivida pela família africana não é um caso isolado, mas é fruto de uma sociedade racista que hoje conta com um explícito movimento político que levou Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
“A morte de Moïse é mais um assassinato fruto de uma sociedade racista e não podemos aceitar, em hipótese alguma, esta realidade de matança da população negra em nosso país. Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que, no Brasil, a cada 23 minutos morre um negro ou negra no Brasil. Queremos justiça para o Moïse, mas também para todos os negros que estão sendo mortos em nosso país todos os dias”, disse o sindicalista, lembrando também da morte de mais um negro, Durval Filho, na última quarta-feira (2) com três tiros por um militar que “confundiu” o seu vizinho com um bandido, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
Durante o protesto, a prefeitura da cidade anunciou que transformará o quiosque em um estabelecimento voltado para a cultura africana. A proposta é que o local seja administrado pela família de Moïse e se transforme num reduto de empregos para refugiados.
Em São Paulo, que concentra um grande contingente de refugiados e imigrantes, os manifestantes se reuniram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista. Pelo menos 2 mil pessoas estiveram presentes, segundo a Coalização Negra por Direitos, uma das organizadoras do ato.
Participaram membros de comunidades angolanas e congolesas, que cobraram segurança e garantia de direitos para imigrantes. Em discursos, eles denunciaram o racismo, o desemprego e a violência como principais obstáculos para reconstruir a vida no Brasil.
Precarização do trabalho
Almir criticou ainda a precarização do trabalho fruto da reforma trabalhista criada pelo presidente Michel Temer e aprofundada no governo Bolsonaro na qual quem mais sofre sã os negros e as mulheres, sem direito à carteira assinada, férias remunerada, FGTS, 13º salário e bem sequer aposentadoria. “Quando um trabalhador não tem direito a nada beiramos ao trabalho quase escravo em que o empregado tem que ficar cobrando de seu patrão até mesmo o salário pelo trabalho realizado. Esta é a lógica da negociação direta do empregado com o empregador como propagam estes governos neoliberais”, acrescenta.
Fonte: Contraf-CUT