Juvandia Moreira: “Bolsonaro ameaça bancos públicos e quer acabar com programas sociais, empregos e economia”
05/06/2020 - Por Bancários CGR
Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), é um dos nomes de maior destaque do movimento nacional da categoria bancária. Ela é funcionária de carreira do Bradesco e já presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. É natural de Nova Soure, no agreste baiano, e formou-se em Direito com pós-graduação em Política e Relações Internacionais.
Em entrevista ao portal da Fenae, realizada por canais digitais, a presidenta da Contraf/CUT foi direta ao ponto: “A Caixa é importante para o país”. Ela afirma que a população tem motivo de sobra para defendê-la e ao Banco do Brasil, uma das maneiras eficientes para contrapor-se à política de desmonte do patrimônio público imposto pelo governo Bolsonaro.
Para Juvandia Moreira, a forma omissa e irresponsável do governo de lidar com a pandemia está gerando desorganização e caos, inclusive nas agências bancárias de todo o país. Para vencer a crise, a presidenta da Contraf/CUT defende o resgate do conceito de Estado participativo, “para que ocorra o fortalecimento de propostas como a da Caixa pública, social e forte, essencial para a retomada da rota do desenvolvimento sustentável do país”. Isso é fundamental, segundo ela, para impedir que haja uma agressão direta ao Estado Democrático de Direito.
“A ameaça do atual governo aos programas sociais e aos bancos públicos visa acabar com os empregos e com a economia das regiões onde estão instalados. Um modelo que entrega o patrimônio público, as estatais, os bancos públicos e o sonho do povo de ter um país com soberania não serve para a classe trabalhadora”, denuncia.
Confira a entrevista com a presidenta Contraf/CUT:
Que avaliação pode ser feita sobre a atual crise e os impactos na economia do país?
Juvandia – O grande problema do Brasil é o Presidente da República. Ao invés de coordenar a crise, para ajudar o país a sair mais rapidamente da pandemia e a recuperar a economia, ele joga contra a política de isolamento social que no mundo inteiro foi adotada. Os países que não a adotaram tiveram um maior número de mortes do que os demais, assim como registraram uma queda acentuada da atividade econômica. Então a solução, não essa que o Bolsonaro está dando, é ter uma coordenação articulada com os estados e municípios, trabalhando para sair dessa pandemia o mais rapidamente possível. Infelizmente, o contrário disso é o que vem acontecendo no Brasil.
A ausência de planejamento por parte do atual governo aprofundará as mortes e a crise econômica, além de fazer com que o Brasil demore a superar os estragos provocados pelo coronavírus, não só agora, mas depois.
Todas as medidas adotadas pelo Congresso Nacional, ou nas esferas estaduais e municipais, decorrem da pressão que a sociedade civil, sejam centrais sindicais, entidades sindicais, associativas e partidos políticos, tem feito no sentido de buscar soluções. Assim foi com a renda básica emergencial, que o governo demorou a adotar, só ocorrendo depois de muita pressão, pois a equipe econômica de Bolsonaro defendia um valor muito pequeno, que era de R$ 200. A definição pelos R$ 600 só aconteceu depois de todo um processo de pressão e negociação. A falta de ação do governo, portanto, poderá causar prejuízos para a população e para a economia do país pós-pandemia.
Juntos, seremos capazes de construir a grande Nação que o atual governo quer destruir. A unidade dos trabalhadores, somada à defesa dos interesses da população e da sociedade, é o caminho para combater as privatizações e defender o patrimônio público nacional. Defendemos uma agenda de desenvolvimento para o país, com mais investimento público e retorno do crescimento com distribuição de renda e justiça social.
Que papel a Caixa Econômica Federal joga nesse cenário contaminado por crises política e econômica?
Juvandia – A Caixa tem um papel muito importante nesse cenário de crise econômica. E, obviamente, está sofrendo as consequências da crise política e da falta de coordenação, como resultado de um governo inconsequente e irresponsável. A concentração na Caixa do pagamento do auxílio básico emergencial, que vínhamos dizendo não ser possível, porque é jogar praticamente metade da população brasileira nas costas de um único banco, é de uma irresponsabilidade muito grande. Essa política, inclusive, provoca as enormes filas e aglomerações registradas nas agências de todo o país.
Uma coisa fica evidente diante de tudo o que está acontecendo nesse cenário de pandemia: a Caixa é importante para o país. Os bancos públicos são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento social e econômico. A população tem motivo de sobra para defender a Caixa e o Banco do Brasil, embora o governo tente, a todo momento, atacá-las, com o intuito de pavimentar o caminho da privatização. Quem sofre com essa política de terra arrasada é a população brasileira, sobretudo a mais carente. Por isso, temos a obrigação de defender a Caixa 100% pública, social e forte.
Não dá para aceitar que a Constituição seja rasgada e que haja uma agressão direta ao Estado Democrático de Direito. O conceito de Estado participativo precisa ser resgatado, para que ocorra o fortalecimento de propostas como a da Caixa 100% pública, essencial para a retomada da rota de desenvolvimento sustentável do país.
A ameaça do atual governo aos programas sociais e a bancos públicos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil visa acabar com os empregos e com a economia das regiões onde estão instalados. Um modelo que entrega o patrimônio público, as estatais, os bancos públicos e o sonho do povo de ter um país com soberania não serve para a classe trabalhadora.
Como analisa os ataques perpetrados pelo governo contra os bancos públicos?
Juvandia – Esse governo tem um único objetivo: entregar o país para os interesses das multinacionais e do mercado financeiro, o que prova que essa turma não trabalha para a maioria da população. Isso fica claro em relação aos bancos públicos. Na reunião ministerial de 22 de abril, realizada com a participação do Presidente da República, o comportamento do ministro da Fazenda, [Paulo Guedes], atacando o Banco do Brasil e falando que tem de privatizar mesmo e logo, é nocivo para o país.
A solução que querem dar, agora e no pós-crise, é a de entregar o patrimônio público para o capital privado especulativo, cortando no bolso do trabalhador, das empresas públicas e das políticas públicas. Temos que nos organizar e lutar para que esse retrocesso não aconteça.
Os bancos públicos são importantes para o desenvolvimento regional. São essas instituições que garantem crédito para os munícipios e regiões mais pobres. A luta é por um Brasil mais justo, mais igualitário e melhor para toda a população. O movimento tem que ser no sentido de buscar o diálogo com a sociedade. É preciso combater essa política econômica do famigerado governo Bolsonaro.
Qual é a importância da Contraf/CUT, da Fenae, dos sindicatos e das Apcefs no enfrentamento da pandemia do coronavírus?
Juvandia – A importância de entidades organizativas, como a Fenae, a Contraf/CUT, as associações e os sindicatos, é enorme. Na época do Temer, a mobilização desses setores foi decisiva para conquistar a liminar que impediu a privatização de estatais. Isso ajudou a segurar o processo privatista naquele momento, porque havia no governo Temer, como há no do Bolsonaro, o desejo de privatizar tudo. Não fosse essa pandemia, já teriam vendido o patrimônio público e atendido, assim, a esse apelo do mercado financeiro e das empresas estrangeiras.
Mais ou menos três anos atrás, a Contraf/CUT e a Fenae obtiveram uma vitória histórica no Supremo Tribunal Federal (STF). É que, em atendimento a um pedido das duas entidades, em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), houve a concessão de uma liminar impedindo o governo de privatizar empresas públicas sem autorização do Congresso Nacional. Ao fim de todo esse debate, a decisão da Corte estabeleceu que a venda de matrizes depende de aval legislativo, mas não a de subsidiárias.
Sem dúvida, além de constituir-se em uma iniciativa que mostra a necessidade das entidades nacionais dos trabalhadores, a conquista da liminar foi mais uma importante vitória na defesa da Caixa Econômica Federal 100% pública, do Banco do Brasil e das demais empresas públicas do país. E é justamente isso o que vêm fazendo diariamente as Apcefs e os sindicatos, travando debates com a população e participando de audiências públicas para estabelecer um diálogo com prefeitos, governadores, câmaras municipais e assembleias legislativas.
Como as desestatizações causam prejuízos irreparáveis ao país, as mobilizações das entidades representativas em prol do patrimônio público, das políticas públicas que beneficiam a população, dos empregos, contra a retirada de direitos e na defesa da vida assumem características cada vez mais relevantes. A pandemia é uma prova disso. Conseguimos colocar quase 300 mil trabalhadores em home office logo na primeira semana, assim que a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou orientações a respeito.
Começamos um processo de negociação no âmbito do sistema financeiro nacional e, em virtude disso, os bancários que estão em casa contam com máscara, álcool gel e barreira de acrílico, medidas adotadas por cobrança do movimento sindical. Então, nesse momento e sempre, a proteção à vida, à saúde, aos empregos e aos direitos de toda a categoria bancária é a grande tarefa exercida pelos movimentos sindical e social Brasil afora.
Como as entidades representativas devem agir para apresentar alternativas estruturais à atual conjuntura do país?
Juvandia – Uma das primeiras coisas a fazer é unir-se. Nossa unidade é fundamental para superar, pelo diálogo democrático, eventuais divergências pelo caminho, com respeito à diversidade, de modo a incorporar demandas específicas a uma agenda mais geral da sociedade. É a unidade que nos torna mais fortes na defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos dos trabalhadores, tendo em vista a existência de um monte de medidas provisórias atacando os direitos dos bancários e de outras categorias profissionais, com prejuízo também para diversos segmentos da sociedade civil brasileira.
Nossa unidade é importante ainda para propor um grande programa de recuperação da economia. Os prognósticos de entidades e institutos que estudam a economia apontam que a recessão será de 5% a 11%, em um cenário até otimista. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) fala que, no Brasil, haverá uma queda de 11% no Produto Interno Bruto (PIB). Até o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) diz que o desemprego crescerá de forma acelerada, chegando ao patamar de 15% a 25% após a pandemia.
Portanto, em um momento decisivo da história política brasileira, a união de todos os setores da sociedade é necessária para propor uma recuperação da economia, com a urgência que a conjuntura requer.
Para vencer a crise, o Brasil precisa crescer pelo menos em torno de 5% ao ano. Isso só será possível se o Estado intervir e investir. Esse crescimento, no entanto, deve basear-se em políticas de distribuição e não de concentração de renda, sem entrega do patrimônio público para o capital privado. Se for esse o procedimento adotado, o país terá condições de reagir e crescer economicamente, com empregos, salários e direitos dos trabalhadores preservados, e com ênfase na distribuição da renda e da riqueza em favor da maioria da população.
Defendemos também a taxação das grandes fortunas e uma reforma tributária progressiva, medidas essenciais para fortalecer o Estado. Somos a favor de políticas públicas e de investimentos em saúde, educação, ciência, tecnologia, infraestrutura. Os recursos públicos devem ser usados, não para beneficiar meia dúzia de ricos do mercado financeiro, mas sim a maioria da população. É isso que irá garantir que a renda seja distribuída e que se disponha de um crescimento sustentável, sem destruição do meio ambiente. Esse passo, combinado com uma política que coloque a vida e as pessoas em primeiro lugar, será decisivo para assegurar a participação democrática da sociedade na construção do país.
Que medidas ainda podem ser adotadas para impedir filas e aglomerações nas agências bancárias?
Juvandia – A descentralização é uma medida eficiente para acabar com as filas e aglomerações nas agências da Caixa, durante o processo combinado de pagamento da renda básica emergencial e de todos os programas sociais, hoje concentrados exclusivamente no banco. É praticamente impossível a uma única empresa, com demandas de 97 milhões de brasileiros ávidos para efetuar o cadastro e assim passarem a ter o direito a receber o benefício, solucionar situações criadas pela falta de planejamento do governo. Esse processo é agravado pelo fato da Caixa, hoje, ter perdido em torno de 17 mil empregados, demitidos nos últimos anos por meio de programas de desligamentos voluntários (PDVs) impostos pelos governos Temer e Bolsonaro.
O banco está com menos trabalhadores e encara a tarefa de atender muito mais gente de uma hora para outra, ficando impossível de dar conta dessa atribuição governamental sem sacrificar seus empregados. Essa é uma opção desse governo e da gestão da própria empresa, totalmente equivocada. Isso era o que dizíamos antes mesmo do programa ser anunciado e, naquele momento, já defendíamos a descentralização. Portanto, a decisão de concentrar o pagamento do auxílio emergencial na Caixa foi um grande erro e faz parte da agenda de descompromisso do atual governo para com a população brasileira.
O agendamento é outra grande medida que consideramos necessária. Trata-se de uma alternativa que fortalece o isolamento social, na perspectiva de que as pessoas devem ir ao banco apenas quando não houver outro jeito, garantindo assim um atendimento de qualidade e essencial, sem que a população, notadamente a parcela mais carente, tenha que ficar em filas e se exponha desnecessariamente. Para que as pessoas possam ficar em casa, de fato, o governo precisa viabilizar renda para todo mundo.
Em relação ao futuro, quais são as perspectivas para o setor público no Brasil?
Juvandia – São as piores possíveis por causa, principalmente, do atual governo e das ações de redução do Estado, entrega do patrimônio público, salários rebaixados e demissões de servidores. Em contraposição a esse modelo nefasto, porém, a sociedade, as entidades representativas e os trabalhadores têm o desafio de articular uma reação coordenada, com apresentação de uma proposta de retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e geração de emprego. Os empregos devem ser sustentáveis, verdes e devem respeitar a qualidade de vida da população.
Lutamos ainda para que seja instituída, em caráter mais permanente, uma renda básica para toda a população brasileira. Ao Estado cabe ampliar os investimentos públicos para gerar emprego e fomentar as áreas de saúde, educação, habitação, desenvolvimento urbano, ciência, tecnologia. Enfim, é papel do Estado coordenar um processo que leve o país para outro patamar: inclusivo, democrático, focado em trabalho decente e em um projeto de desenvolvimento com integração regional e distribuição da renda e da riqueza.
Primeiro, antes de qualquer coisa, temos que tirar o governo Bolsonaro, completamente inapto para fazer as mudanças em favor de toda a população. É preciso pensar no país e nos interesses do ser humano, com respeito às diferenças, à democracia, à soberania nacional e que trabalhe em prol da cidadania. Fundamental, ainda, é a valorização dos servidores e do serviço público. Na luta contra o neoliberalismo e o autoritarismo, os trabalhadores, as trabalhadoras e o conjunto da população devem unir-se em torno de uma plataforma de resistência contra o retrocesso, para que o Brasil mude de rumo.
Não se pode dizer que uma Nação é soberana se não há emprego, se não há qualidade de vida, se não há desenvolvimento, se os bancos públicos não investirem em políticas públicas.
Em entrevista ao portal da Fenae, realizada por canais digitais, a presidenta da Contraf/CUT foi direta ao ponto: “A Caixa é importante para o país”. Ela afirma que a população tem motivo de sobra para defendê-la e ao Banco do Brasil, uma das maneiras eficientes para contrapor-se à política de desmonte do patrimônio público imposto pelo governo Bolsonaro.
Para Juvandia Moreira, a forma omissa e irresponsável do governo de lidar com a pandemia está gerando desorganização e caos, inclusive nas agências bancárias de todo o país. Para vencer a crise, a presidenta da Contraf/CUT defende o resgate do conceito de Estado participativo, “para que ocorra o fortalecimento de propostas como a da Caixa pública, social e forte, essencial para a retomada da rota do desenvolvimento sustentável do país”. Isso é fundamental, segundo ela, para impedir que haja uma agressão direta ao Estado Democrático de Direito.
“A ameaça do atual governo aos programas sociais e aos bancos públicos visa acabar com os empregos e com a economia das regiões onde estão instalados. Um modelo que entrega o patrimônio público, as estatais, os bancos públicos e o sonho do povo de ter um país com soberania não serve para a classe trabalhadora”, denuncia.
Confira a entrevista com a presidenta Contraf/CUT:
Que avaliação pode ser feita sobre a atual crise e os impactos na economia do país?
Juvandia – O grande problema do Brasil é o Presidente da República. Ao invés de coordenar a crise, para ajudar o país a sair mais rapidamente da pandemia e a recuperar a economia, ele joga contra a política de isolamento social que no mundo inteiro foi adotada. Os países que não a adotaram tiveram um maior número de mortes do que os demais, assim como registraram uma queda acentuada da atividade econômica. Então a solução, não essa que o Bolsonaro está dando, é ter uma coordenação articulada com os estados e municípios, trabalhando para sair dessa pandemia o mais rapidamente possível. Infelizmente, o contrário disso é o que vem acontecendo no Brasil.
A ausência de planejamento por parte do atual governo aprofundará as mortes e a crise econômica, além de fazer com que o Brasil demore a superar os estragos provocados pelo coronavírus, não só agora, mas depois.
Todas as medidas adotadas pelo Congresso Nacional, ou nas esferas estaduais e municipais, decorrem da pressão que a sociedade civil, sejam centrais sindicais, entidades sindicais, associativas e partidos políticos, tem feito no sentido de buscar soluções. Assim foi com a renda básica emergencial, que o governo demorou a adotar, só ocorrendo depois de muita pressão, pois a equipe econômica de Bolsonaro defendia um valor muito pequeno, que era de R$ 200. A definição pelos R$ 600 só aconteceu depois de todo um processo de pressão e negociação. A falta de ação do governo, portanto, poderá causar prejuízos para a população e para a economia do país pós-pandemia.
Juntos, seremos capazes de construir a grande Nação que o atual governo quer destruir. A unidade dos trabalhadores, somada à defesa dos interesses da população e da sociedade, é o caminho para combater as privatizações e defender o patrimônio público nacional. Defendemos uma agenda de desenvolvimento para o país, com mais investimento público e retorno do crescimento com distribuição de renda e justiça social.
Que papel a Caixa Econômica Federal joga nesse cenário contaminado por crises política e econômica?
Juvandia – A Caixa tem um papel muito importante nesse cenário de crise econômica. E, obviamente, está sofrendo as consequências da crise política e da falta de coordenação, como resultado de um governo inconsequente e irresponsável. A concentração na Caixa do pagamento do auxílio básico emergencial, que vínhamos dizendo não ser possível, porque é jogar praticamente metade da população brasileira nas costas de um único banco, é de uma irresponsabilidade muito grande. Essa política, inclusive, provoca as enormes filas e aglomerações registradas nas agências de todo o país.
Uma coisa fica evidente diante de tudo o que está acontecendo nesse cenário de pandemia: a Caixa é importante para o país. Os bancos públicos são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento social e econômico. A população tem motivo de sobra para defender a Caixa e o Banco do Brasil, embora o governo tente, a todo momento, atacá-las, com o intuito de pavimentar o caminho da privatização. Quem sofre com essa política de terra arrasada é a população brasileira, sobretudo a mais carente. Por isso, temos a obrigação de defender a Caixa 100% pública, social e forte.
Não dá para aceitar que a Constituição seja rasgada e que haja uma agressão direta ao Estado Democrático de Direito. O conceito de Estado participativo precisa ser resgatado, para que ocorra o fortalecimento de propostas como a da Caixa 100% pública, essencial para a retomada da rota de desenvolvimento sustentável do país.
A ameaça do atual governo aos programas sociais e a bancos públicos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil visa acabar com os empregos e com a economia das regiões onde estão instalados. Um modelo que entrega o patrimônio público, as estatais, os bancos públicos e o sonho do povo de ter um país com soberania não serve para a classe trabalhadora.
Como analisa os ataques perpetrados pelo governo contra os bancos públicos?
Juvandia – Esse governo tem um único objetivo: entregar o país para os interesses das multinacionais e do mercado financeiro, o que prova que essa turma não trabalha para a maioria da população. Isso fica claro em relação aos bancos públicos. Na reunião ministerial de 22 de abril, realizada com a participação do Presidente da República, o comportamento do ministro da Fazenda, [Paulo Guedes], atacando o Banco do Brasil e falando que tem de privatizar mesmo e logo, é nocivo para o país.
A solução que querem dar, agora e no pós-crise, é a de entregar o patrimônio público para o capital privado especulativo, cortando no bolso do trabalhador, das empresas públicas e das políticas públicas. Temos que nos organizar e lutar para que esse retrocesso não aconteça.
Os bancos públicos são importantes para o desenvolvimento regional. São essas instituições que garantem crédito para os munícipios e regiões mais pobres. A luta é por um Brasil mais justo, mais igualitário e melhor para toda a população. O movimento tem que ser no sentido de buscar o diálogo com a sociedade. É preciso combater essa política econômica do famigerado governo Bolsonaro.
Qual é a importância da Contraf/CUT, da Fenae, dos sindicatos e das Apcefs no enfrentamento da pandemia do coronavírus?
Juvandia – A importância de entidades organizativas, como a Fenae, a Contraf/CUT, as associações e os sindicatos, é enorme. Na época do Temer, a mobilização desses setores foi decisiva para conquistar a liminar que impediu a privatização de estatais. Isso ajudou a segurar o processo privatista naquele momento, porque havia no governo Temer, como há no do Bolsonaro, o desejo de privatizar tudo. Não fosse essa pandemia, já teriam vendido o patrimônio público e atendido, assim, a esse apelo do mercado financeiro e das empresas estrangeiras.
Mais ou menos três anos atrás, a Contraf/CUT e a Fenae obtiveram uma vitória histórica no Supremo Tribunal Federal (STF). É que, em atendimento a um pedido das duas entidades, em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), houve a concessão de uma liminar impedindo o governo de privatizar empresas públicas sem autorização do Congresso Nacional. Ao fim de todo esse debate, a decisão da Corte estabeleceu que a venda de matrizes depende de aval legislativo, mas não a de subsidiárias.
Sem dúvida, além de constituir-se em uma iniciativa que mostra a necessidade das entidades nacionais dos trabalhadores, a conquista da liminar foi mais uma importante vitória na defesa da Caixa Econômica Federal 100% pública, do Banco do Brasil e das demais empresas públicas do país. E é justamente isso o que vêm fazendo diariamente as Apcefs e os sindicatos, travando debates com a população e participando de audiências públicas para estabelecer um diálogo com prefeitos, governadores, câmaras municipais e assembleias legislativas.
Como as desestatizações causam prejuízos irreparáveis ao país, as mobilizações das entidades representativas em prol do patrimônio público, das políticas públicas que beneficiam a população, dos empregos, contra a retirada de direitos e na defesa da vida assumem características cada vez mais relevantes. A pandemia é uma prova disso. Conseguimos colocar quase 300 mil trabalhadores em home office logo na primeira semana, assim que a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou orientações a respeito.
Começamos um processo de negociação no âmbito do sistema financeiro nacional e, em virtude disso, os bancários que estão em casa contam com máscara, álcool gel e barreira de acrílico, medidas adotadas por cobrança do movimento sindical. Então, nesse momento e sempre, a proteção à vida, à saúde, aos empregos e aos direitos de toda a categoria bancária é a grande tarefa exercida pelos movimentos sindical e social Brasil afora.
Como as entidades representativas devem agir para apresentar alternativas estruturais à atual conjuntura do país?
Juvandia – Uma das primeiras coisas a fazer é unir-se. Nossa unidade é fundamental para superar, pelo diálogo democrático, eventuais divergências pelo caminho, com respeito à diversidade, de modo a incorporar demandas específicas a uma agenda mais geral da sociedade. É a unidade que nos torna mais fortes na defesa da democracia, da soberania nacional e dos direitos dos trabalhadores, tendo em vista a existência de um monte de medidas provisórias atacando os direitos dos bancários e de outras categorias profissionais, com prejuízo também para diversos segmentos da sociedade civil brasileira.
Nossa unidade é importante ainda para propor um grande programa de recuperação da economia. Os prognósticos de entidades e institutos que estudam a economia apontam que a recessão será de 5% a 11%, em um cenário até otimista. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) fala que, no Brasil, haverá uma queda de 11% no Produto Interno Bruto (PIB). Até o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) diz que o desemprego crescerá de forma acelerada, chegando ao patamar de 15% a 25% após a pandemia.
Portanto, em um momento decisivo da história política brasileira, a união de todos os setores da sociedade é necessária para propor uma recuperação da economia, com a urgência que a conjuntura requer.
Para vencer a crise, o Brasil precisa crescer pelo menos em torno de 5% ao ano. Isso só será possível se o Estado intervir e investir. Esse crescimento, no entanto, deve basear-se em políticas de distribuição e não de concentração de renda, sem entrega do patrimônio público para o capital privado. Se for esse o procedimento adotado, o país terá condições de reagir e crescer economicamente, com empregos, salários e direitos dos trabalhadores preservados, e com ênfase na distribuição da renda e da riqueza em favor da maioria da população.
Defendemos também a taxação das grandes fortunas e uma reforma tributária progressiva, medidas essenciais para fortalecer o Estado. Somos a favor de políticas públicas e de investimentos em saúde, educação, ciência, tecnologia, infraestrutura. Os recursos públicos devem ser usados, não para beneficiar meia dúzia de ricos do mercado financeiro, mas sim a maioria da população. É isso que irá garantir que a renda seja distribuída e que se disponha de um crescimento sustentável, sem destruição do meio ambiente. Esse passo, combinado com uma política que coloque a vida e as pessoas em primeiro lugar, será decisivo para assegurar a participação democrática da sociedade na construção do país.
Que medidas ainda podem ser adotadas para impedir filas e aglomerações nas agências bancárias?
Juvandia – A descentralização é uma medida eficiente para acabar com as filas e aglomerações nas agências da Caixa, durante o processo combinado de pagamento da renda básica emergencial e de todos os programas sociais, hoje concentrados exclusivamente no banco. É praticamente impossível a uma única empresa, com demandas de 97 milhões de brasileiros ávidos para efetuar o cadastro e assim passarem a ter o direito a receber o benefício, solucionar situações criadas pela falta de planejamento do governo. Esse processo é agravado pelo fato da Caixa, hoje, ter perdido em torno de 17 mil empregados, demitidos nos últimos anos por meio de programas de desligamentos voluntários (PDVs) impostos pelos governos Temer e Bolsonaro.
O banco está com menos trabalhadores e encara a tarefa de atender muito mais gente de uma hora para outra, ficando impossível de dar conta dessa atribuição governamental sem sacrificar seus empregados. Essa é uma opção desse governo e da gestão da própria empresa, totalmente equivocada. Isso era o que dizíamos antes mesmo do programa ser anunciado e, naquele momento, já defendíamos a descentralização. Portanto, a decisão de concentrar o pagamento do auxílio emergencial na Caixa foi um grande erro e faz parte da agenda de descompromisso do atual governo para com a população brasileira.
O agendamento é outra grande medida que consideramos necessária. Trata-se de uma alternativa que fortalece o isolamento social, na perspectiva de que as pessoas devem ir ao banco apenas quando não houver outro jeito, garantindo assim um atendimento de qualidade e essencial, sem que a população, notadamente a parcela mais carente, tenha que ficar em filas e se exponha desnecessariamente. Para que as pessoas possam ficar em casa, de fato, o governo precisa viabilizar renda para todo mundo.
Em relação ao futuro, quais são as perspectivas para o setor público no Brasil?
Juvandia – São as piores possíveis por causa, principalmente, do atual governo e das ações de redução do Estado, entrega do patrimônio público, salários rebaixados e demissões de servidores. Em contraposição a esse modelo nefasto, porém, a sociedade, as entidades representativas e os trabalhadores têm o desafio de articular uma reação coordenada, com apresentação de uma proposta de retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e geração de emprego. Os empregos devem ser sustentáveis, verdes e devem respeitar a qualidade de vida da população.
Lutamos ainda para que seja instituída, em caráter mais permanente, uma renda básica para toda a população brasileira. Ao Estado cabe ampliar os investimentos públicos para gerar emprego e fomentar as áreas de saúde, educação, habitação, desenvolvimento urbano, ciência, tecnologia. Enfim, é papel do Estado coordenar um processo que leve o país para outro patamar: inclusivo, democrático, focado em trabalho decente e em um projeto de desenvolvimento com integração regional e distribuição da renda e da riqueza.
Primeiro, antes de qualquer coisa, temos que tirar o governo Bolsonaro, completamente inapto para fazer as mudanças em favor de toda a população. É preciso pensar no país e nos interesses do ser humano, com respeito às diferenças, à democracia, à soberania nacional e que trabalhe em prol da cidadania. Fundamental, ainda, é a valorização dos servidores e do serviço público. Na luta contra o neoliberalismo e o autoritarismo, os trabalhadores, as trabalhadoras e o conjunto da população devem unir-se em torno de uma plataforma de resistência contra o retrocesso, para que o Brasil mude de rumo.
Não se pode dizer que uma Nação é soberana se não há emprego, se não há qualidade de vida, se não há desenvolvimento, se os bancos públicos não investirem em políticas públicas.
Fonte: Contraf-CUT