Lucro mundial do HSBC sobe 22% no 1º semestre, mas no Brasil cai 70%
07/08/2013 - Por Bancários CGR
O HSBC registrou lucro líquido atribuível aos acionistas da companhia controladora de US$ 10,284 bilhões no primeiro semestre, em comparação com um lucro líquido de US$ 8,438 no mesmo período de 2012, o que corresponde a uma alta de 21,8%. Já o lucro líquido no período, que inclui a parte dos minoritários, subiu 24,5%, para US$ 11,346 bilhões, de US$ 9,108 bilhões na mesma comparação. O resultado foi divulgado na segunda-feira (5), em Londres.
Já a receita reportada do HSBC caiu 7% no primeiro semestre de 2013 para US$ 34,372 bilhões, de US$ 36,897 bilhões nos mesmos seis meses de 2012.
O CEO do HSBC, Stuart Gulliver, emitiu uma nota de cautela sobre o crescimento econômico da China. "A nova ênfase na qualidade em vez de quantidade de crescimento está mudando o equilíbrio da política para longe de estímulo e em direção a reforma. Acreditamos que isso deve limitar o ritmo de crescimento da China para 7,4% em 2013 e 2014, o que já está sendo refletido em números de crescimento mais modestos em outros mercados, particularmente na Ásia", disse, no comunicado.
Desde 2011, o HSBC reorienta-se nos principais mercados. Até agora, a empresa vendeu por volta de 54 negócios. Gulliver disse que a velocidade das vendas agora se abrandará.
O balanço diz, ainda, que as receitas relacionadas às taxas de juros caíram na América Latina, especialmente no Brasil. No mercado brasileiro, o HSBC cita como causa a queda da taxa de juros no médio e longo prazo, observada desde o início de 2012.
Lucro no Brasil cai 70%
O lucro do banco inglês no Brasil caiu 70% no primeiro semestre de 2013 na comparação com igual período do ano passado. Conforme o anúncio em Londres, a filial brasileira gerou lucro antes dos impostos de US$ 153 milhões de janeiro a junho de 2013, cerca de um terço dos US$ 505 milhões observados em igual período de 2012. O balanço do primeiro semestre ainda não foi publicado no Brasil.
O resultado nos primeiros seis meses deste ano foi sustentado pelo banco de atacado e de investimentos, que teve um lucro de US$ 290 milhões. Já o segmento de varejo registrou um prejuízo de US$ 117 milhões, conforme o jornal Valor Econômico.
Contraf-CUT rebate explicações do banco
O chefe-executivo do HSBC citou que o desempenho aqui é uma reação à situação macroeconômica do País. "O Brasil está crescendo menos e o consumo está crescendo menos", explicou, ao comentar que, apesar disso, o desempenho do País "não é um tema de preocupação particular", disse Gulliver.
No balanço, a instituição britânica explica que o desempenho econômico do Brasil "ficou abaixo das expectativas no período". "No primeiro trimestre de 2013, em especial, o Produto Interno Bruto (PIB) desacelerou pelo fraco consumo diante de consumidores brasileiros que parecem cortar gastos como uma resposta à inflação, alto nível de endividamento e queda da confiança", diz o documento.
Para Miguel Pereira, secretário de Organização da Contraf-CUT, os argumentos para a queda dos lucros no Brasil que estão relacionados ao fraco desempenho da economia brasileira e a queda do consumo não podem ser aceitos de maneira alguma.
"Estão utilizando uma cortina de fumaça para tentar encobrir os reais problemas que o banco inglês enfrenta no Brasil, que basicamente estão ligados às péssimas condições de trabalho dos funcionários, que são submetidos a metas escorchantes sem terem as reais condições de cumprimento, que associadas às milhares de demissões levam a um sentimento de desvalorização dos funcionários e obviamente dificulta a geração de novas receitas. Não basta apenas focar nas despesas e, muito pior, quando essas são diretamente ligadas a mais demissões, pois só deterioram as condições de competitividade do banco", avalia Miguel.
"Se realmente os problemas fossem relacionados apenas ao cenário macroeconômico, como seus demais concorrentes, públicos e privados, não só mantiveram, como vem apresentando aumentos expressivos nos seus resultados?", indaga o dirigente sindical.
Mudança nas provisões para devedores duvidosos
O CEO do HSBC afirmou ainda que houve "mudança de portfólio no Brasil", o que também prejudicou o desempenho. O banco explica que foram revistos e alterados parâmetros para o cálculo de perdas relacionadas aos empréstimos. Ao todo, o ajuste fez com que as provisões aumentassem em US$ 242 milhões. Segundo o banco, o ajuste foi especialmente nos segmentos de varejo e pequenas empresas.
"Teremos que olhar com muita atenção os altos provisionamentos para devedores duvidosos (PDD) que o banco realiza", alerta Miguel. A cada semestre o banco consegue a proeza de aumentar, e muito, esse provisionamento.
"Tínhamos informações, que avaliávamos como seguras até então, de que os resultados seriam muito melhores e que inclusive o lucro líquido não seria mais impactado pela questão dos provisionamentos, pois os já realizados davam conta do montante de crédito emprestado. E novamente vemos o banco usar a alegação de que foram alterados parâmetros para o cálculo de perdas relacionadas aos empréstimos. Ao todo, o ajuste fez com que as provisões aumentassem em U$ 242 milhões", observa o diretor da Contraf-CUT.
"Ora, como isso é possível se a carteira de crédito não teve essa evolução e as taxas de inadimplência também se mantiveram estáveis?", questiona.
Impactos no pagamento da PLR
"Com esses resultados, além de dificultar a pauta de negociação em curso, compromete, e muito, o pagamento da PLR da convenção coletiva dos bancários, que sempre fica na regra básica, além de praticamente inviabilizar novamente o pagamento dos programas próprios de remuneração variável. É mais um balde de água fria, apesar de todo empenho e esforço no cumprimento dos objetivos do banco", aponta Miguel.
Outras perguntas permanecem sem resposta até o momento. Quem formula esses programas de performance e define as metas? Quando faz isso, está em que mundo, que não dialoga com a realidade? O banco, apesar de trimestralmente revisitar o programa, tem feito quais ações para corrigir os rumos, ou não faz nada para acertar as coisas?
"Parece que isso que sucessivamente vem ocorrendo e, apesar dos funcionários apresentarem resultados positivos, ao final dos semestres, quando da divulgação do lucro líquido, esses desaparecem e os bancários ficam no prejuízo quando o banco não apresenta o cumprimento da meta de lucro (PBT)", analisa o dirigente sindical.
"Com a publicação do balanço no Brasil, vamos ter que estudar direitinho esses dados e cobrar muitas explicações da diretoria do banco", ressalta Miguel.
CEO do HSBC ganha mais de R$ 60 mil por dia
Enquanto isso, o CEO do HSBC ganha entre salários e bônus mais de R$ 60 mil por dia, o que representa R$ 22 milhões por ano, conforme reportagem da revista Época em março deste ano.
O anúncio ocorreu poucos meses depois de uma multa recorde por lavagem de dinheiro de quase US$ 2 bilhões. O caso despertou a fúria do sindicato britânico. "Isso é um absurdo e tem de acabar", enfatiza Miguel.
Multas bilionárias por lavagem de dinheiro
Além disso, o HSBC continua pagando multas bilionárias por condenações de lavagem de dinheiro, como os U$ 2 bilhões nos EUA e México. Também acaba de ser denunciado pelo mesmo crime na Argentina.
"Aí o banco diz que precisa demitir mais 10 mil funcionários em todo o mundo para cobrir os prejuízos advindos dos pagamentos dessas multas. Isso sai de onde? Do trabalho, suor, lágrimas e adoecimento dos bancários também do Brasil e isso é revoltante", conclui o dirigente da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT com Estadão e Valor Econômico