Lula critica banqueiros em discurso aos trabalhadores europeus
11/12/2012 - Por Bancários CGR
Em sua viagem à Alemanha, nesta sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a crise na Europa, sobre suas motivações na política e pontuou que, em vez de salvar os bancos, é preciso ouvir as pessoas para encontrar saídas para a crise. Lula falou para cerca de 400 representantes sindicais alemães e convidados internacionais no congresso do sindicato alemão de metalúrgicos, o IG Metall, em Berlim. Num discurso de improviso, Lula recordou sua trajetória política, de sindicalista a presidente da República e lembrou que o movimento sindical alemão sempre foi muito solidário com os trabalhadores brasileiros, desde a época das grandes greves do ABC nos anos 80.
O Congresso internacional Mudando o rumo para uma vida melhor reuniu mesas de debates focadas principalmente nas saídas para a crise e na qualidade de vida dos trabalhadores. Lula falou antes dos debates e o tema de seu discurso foi O caminho para um mundo mais justo. O ex-presidente acredita que a manutenção do emprego e o estímulo ao crescimento dos países pobres são caminhos para a saída da crise e criticou políticas de austeridade que castigam o trabalhador.
Os magnatas do sistema financeiro, quando ganham, não repartem, mas quando perdem repartem os prejuízos com todos afirmou.
Para Lula, os políticos precisam perder o medo de exercer a democracia e ouvir o que o povo quer, no lugar de priorizar o salvamento de bancos.
A América Latina vive hoje uma era de paz e progresso que há muito tempo não vivia. Continuamos pobres e com problemas, mas há muito tempo não tínhamos esse progresso, principalmente com o aprofundamento da democracia. E a Europa, que era um berço de tranquilidade, vive uma era nervosa, apreensiva, principalmente para a juventude. E por que isso aconteceu? Porque muitos políticos terceirizaram a política. E a política não pode ser terceirizada acrescentou.
Para Lula, o maior legado de seus oito anos de governo foi a relação com a sociedade organizada e os movimentos sociais brasileiros.
Eu passei parte da minha vida perdendo eleição atrás de eleição. Eu cansava, mas nunca desisti disse. Quando finalmente venci, ele disse, quis mostrar à sociedade brasileira e ao mundo, que um simples trabalhador metalúrgico e sindicalista era capaz de ser presidente. E não só isso, que esse presidente era capaz de ajudar o país a avançar econômica e socialmente. Eu queria provar, como presidente, que poderia atender à pauta que eu fazia quando era dirigente sindical ou oposição completou.
Durante suas viagens, Lula disse que percebeu que foi um dos únicos presidentes que falou com os trabalhadores.
Até hoje, em muitos países, a primeira reivindicação dos trabalhadores é que eu interceda para que os presidentes os recebam notou. E lembrou que, durante seu governo, recebeu catadores, sem-teto e movimentos sociais sem deixar de atender os governantes estrangeiros e empresários.
Otimista, Lula disse acreditar que até 2020 o futuro do Brasil é de crescimento do emprego e das conquistas da sociedade brasileira. Só interessa ao Brasil ser a quinta economia do mundo se isso servir para melhorar a vida do povo, e continuou: vocês que conquistaram esse padrão de vida não têm o direito de ficarem quietos vendo esses direitos serem retirados.
Lula recordou que decisões dos encontros do G-20 que participou em Londres e Seul não foram implementadas. Essas decisões diziam que a manutenção do emprego e o estímulo ao desenvolvimento dos países pobres eram cruciais para a superação das crises. E sugeriu um prazo mais longo de ajuste fiscal para Espanha e Grécia, alertando que esse ajuste acelerado favorece a recessão e o surgimento de mais problemas e até o questionamento de conquistas já alcançadas.
Eu temo que na Europa vocês comecem a negar a União Européia. A União Européia é um patrimônio da humanidade, ela superou 1500 anos de conflitos lembrou.
No discurso, que foi comentado nas mesas seguintes por políticos e sindicalistas, Lula elogiou a democracia brasileira, lembrando as dezenas de conferências realizadas em seu governo com os mais diversos segmentos da sociedade.
Os brasileiros deram o exemplo de que uma democracia viva é melhor do que uma democracia em silêncio. Democracia é quando a sociedade toda se movimenta pontuou.
Entrevista relâmpago
O ex-presidente Lula teria dito, ainda nesta sexta-feira, que não se surpreendeu com a operação Porto Seguro, deflagrada no último dia 23 de novembro e que desarticulou um esquema de tráfico de influência, corrupção e falsidade ideológica em órgãos federais.
Eu não fiquei surpreso teria afirmado Lula, na viagem à Alemanha, onde participa de uma conferência internacional do sindicato dos metalúrgicos do país, em uma entrevista-relâmpago ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.
A curta declaração teria sido a primeira feita pelo ex-presidente sobre o caso.
Pop star
Em sua sua viagem à Alemanha, na realidade, o ex-presidente tem recebido tratamento de uma estrela da política internacional, nas reportagens na imprensa local. O prestigioso jornal Süddeutsche Zeitung se referiu a Lula como superstar em uma reportagem que afirma que o Brasil é festejado sob seu governo, como se só agora o país tivesse sido descoberto pelo resto do mundo. O texto diz ainda que o presidente brasileiro tem um alto índice de aceitação não somente entre os próprios brasileiros, mas também por parte de políticos de outros países.
O jornal econômico Handelsblatt disse que Lula chega à Alemanha para conversar com a chanceler Angela Merkel de igual para igual. No artigo intitulado Lula não vem como pedinte, o periódico afirmou que o Brasil é um país desejado pelos investidores, e que a líder alemã corteja, por isso, o país em nome do setor econômico alemão.
Já o conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) disse que Lula chega à Alemanha como representante de uma nova terra do milagre econômico que ultrapassou os tremores da crise global com uma velocidade impressionante.
Na reportagem intitulada Um visitante autoconfiante, o FAZ lembra que as empresas brasileiras estão, em muitos setores, na ponta do que há de melhor internacionalmente e que o capital estrangeiro tem entrado no Brasil como nunca antes, o que faz do real uma das moedas mais fortes do mundo.
O jornal disse ainda que o Brasil subirá em breve ao grupo das dez maiores economias do planeta.
Fonte: Correio do Povo