O ex-presidente destacou ainda que as centrais devem elaborar as propostas de forma direta e objetiva sobre o futuro que a classe trabalhadora quer para o país nos próximos anos. “Vivemos um momento difícil no Brasil. Teve o impeachment e não aconteceu outra coisa na vida do movimento sindical senão derrota atrás de derrota, como as reformas [Trabalhista e da Previdência Social], o desmonte da Justiça do Trabalho, o desmonte das finanças dos sindicatos, o desmonte dos direitos trabalhistas que vinham sendo construídos desde 1943”, pontuou o ex-presidente.
A Plataforma
A Plataforma da CUT para as Eleições 2022 é uma síntese de propostas de interesse da classe trabalhadora, que abrange desde desenvolvimento econômico e sustentável até a valorização do trabalho, com políticas de distribuição de renda, geração de emprego de qualidade, inclusão social e democratização das relações de trabalho.
A CUT tem tradição em debater internamente os problemas do país e elaborar propostas para municípios, estados e o país, em eventos realizados juntamente com as CUTs estaduais. Até 2009, os dirigentes elaboravam cartas compromisso. A partir de 2010, passou a construir as plataformas, que são entregues aos candidatos e candidatas durante as campanhas eleitorais.
O objetivo é contribuir para o “diálogo com a sociedade e parceiros do movimento social e sindical”, na construção de pautas de interesse da classe trabalhadora, como destaca o texto de apresentação do Plataforma.
A CUT orienta toda a sua base a utilizar o documento como referência para elaboração de plataformas estaduais. O texto também serve à orientação de mobilizações, com ações integradas aos Comitês de Luta da CUT, lançados em fevereiro deste ano, e às brigadas digitais, para que as propostas sejam debatidas, reivindicadas e implementadas pelos eleitos.
Entre as diretrizes da plataforma estão a defesa da democracia, da cidadania e dos direitos humanos; o restabelecimento do papel do Estado como indutor da economia e implementação das reformas, como agrária, tributária e política; e o fomento à retomada do desenvolvimento econômico e social.
Projeto deles é destruir direitos e a proteção social da classe trabalhadora
De acordo com avaliação do ex-presidente Lula, a ofensiva da extrema direita contra os direitos sociais e trabalhistas foi violenta a ponto de causar uma certa inércia nos trabalhadores. “Foram desmontando tudo e nossa capacidade de reação foi pequena porque o que os movimentos conservadores fizeram foi antecipado por uma campanha forte, de narrativa de negação de tudo o que era bom para nós”, disse Lula.
Tanto esses movimentos, aliados à campanha da mídia da época, que falava exaustivamente que direitos como 13° e férias significavam custo e tiravam o poder de competitividade do Brasil em nível internacional, contribuíram com o desmonte que viria na sequência do golpe.
“Diziam que o Brasil não crescia e não exportava por que o custo era caro, mas nunca fizeram uma comparação entre o salário do trabalhador brasileiro com o salário de outros países”, disse se referindo a nações como Estados Unidos e França.
Essa “narrativa”, disse Lula, ganhou a consciência das massas, que passou a “não ver sentido” no que o movimento sindical alertava – e alerta até hoje – de que o projeto de governo dos conservadores, em especial de Jair Bolsonaro (PL), é de destruir direitos e a proteção social da classe trabalhadora.
Empreendedor ou trabalhador explorado?
Um dos exemplos de como o poder de alienação da direita habita o imaginário da sociedade, dado por Lula, foi a máxima de que um motorista de aplicativo, o Uber, por exemplo, é um empreendedor, dono do seu próprio negócio e do seu próprio tempo.
Em outro exemplo, Lula provou porque isso não funciona. “Lembro de quando surgiu a internet, quantidade de jornalistas que achavam que iam fazer sucesso sozinhos nas redes sociais. Quantos conseguiram sobreviver? Quase ninguém”, disse explicando que grandes conglomerados sempre “tomam conta” do ambiente e não há como competir. Ao “pequeno empreendedor”, não sobra espaço, a não ser, como no caso do Uber, o de se submeter à exploração para conseguir minimamente sobreviver.
Portanto, para o e ex-presidente, a disputa principal nessas eleições será no sentido de combater esse tipo de discurso que será novamente a arma principal da direita. E assim como em 2018, continuará a ser baseada em notícias falsas – as fake news.
Tem de reformular o Congresso
E, para isso, Lula disse que, além de uma mudança na forma de se fazer mobilização, que deve ocorrer exatamente onde está o trabalhador, não basta eleger um governo progressista, mas é também necessário reformular o que ele classificou de “pior congresso de todos os tempos”. “Hoje tem tanta gente desempregada que não dá mais para fazer porta de fábrica, somente. A maioria dos trabalhadores que a gente representa está na rua. Então, se colocar um carro de som para denunciar e entregar material [informativo], vai fazer mais efeito do que ir para a porta de fábrica”, afirmou Lula.
Congresso Nacional
O ex-presidente criticou a atual composição da Câmara dos Deputados e do Senado ao alertar que é necessário que o trabalho de base nessas eleições seja, efetivamente, de dialogar sobre quais parlamentares devem ser eleitos para compor o Congresso Nacional.
“O que quisermos fazer terá de passar pelo Congresso. Se a gente não mudar o Congresso, não dá para fazer as contrarreformas que precisamos. Se não tivermos número [maioria], não faz” disse Lula.
Mas não eleger deputados que representem os trabalhadores, apenas, como cobrá-los, é fundamental. “É uma eleição que a gente vai ter que colocar no papel o que a gente quer, mostrar para o candidato e se ele não assinar embaixo, não se comprometer, não vota nele”, disse Lula.
Polarização política
Para desmistificar o conceito de que a polarização em disputas eleitorais é algo prejudicial, Lula foi cirúrgico ao afirmar que em toda a história sempre houve o embate de ideias opostas. No entanto, afirmou que preferia “estar polarizando com os Tucanos do PSDB, porque, pelo menos, seria mais democrático, ao contrário do ódio de Bolsonaro”.
A preocupação dele, disse Lula, “é destruir o que vier pela frente”. E, nesse aspecto, Lula alertou que as eleições serão uma guerra e que a militância não deve aceitar provocações e sim, primar pela informação, o fato, a verdade, para conquistar os corações daqueles que ainda não se deram conta do desastre que é o atual governo. Lula lamentou o número expressivo de desempregados, desalentados e pessoas passando fome, que segundo ele, nunca se viu na história do país.
Luta da Central
O ex-presidente Lula também destacou as iniciativas da CUT em criar as Brigadas Digitais da CUT e os Comitês de Luta em Defesa da Classe Trabalhadora. “Precisamos estar mobilizados nas ruas e nas redes, e as Brigadas são muito importantes – têm que ser prioridade”, disse Lula.
Fonte: Contraf-CUT