Lula volta a atacar juros e diz que país não pode ser ‘refém’ de Campos Neto
03/03/2023
Banco Central (BC) tem que baixar juros para país voltar a ter crédito e crescimento, disse o presidente. Ele também classificou como “loucura” os dividendos bilionários da Petrobras
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alertou que o Brasil pode enfrentar uma crise de crédito “logo logo”, caso o Banco Central (BC) se recuse a reduzir a taxa básica de juros – a Selic – fixada atualmente em 13,75% ao ano. Lula afirmou que o país não pode ficar “refém” do presidente do BC, Roberto Campos Neto. O presidente deu as declarações em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da Rádio BandNews, nesta quinta-feira (2).
“Esse cidadão, que não foi eleito para nada, ele acha que ele tem o poder de decidir as coisas e ainda ‘vou pensar como posso ajudar o Brasil'”, se irritou o presidente. “Não, você não tem que pensar em como ajudar o Brasil, você só tem que pensar como reduzir a taxa de juros para que esse país volte a ter crédito, para economia voltar a funcionar, é isso que tem que fazer”.
Lula disse que não é “bravata” e que não tem “interesse” em ficar brigando com Campos Neto. “A única coisa que eu acho é o seguinte: esse país não pode ser refém de um único homem”, completou. Nesse sentido, ele afirmou que cabe ao Senado – que pode votar eventual exoneração do presidente do BC – ficar “vigilante”.
Eu acho que o Senado tem que ficar vigilante. Porque eu lembro quantas críticas recebia da Fiesp toda vez que eu aumentava a taxa de juro. Lembro quantas críticas a gente recebia do movimento sindical quando aumentava a taxa de juros, quantos senadores faziam discurso contra mim pelo aumento da taxa de juro”, afirmou.
Mais cedo, em entrevista ao site Metrópoles, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, disse que Campos Neto deveria “pedir para sair” do BC. “Ele não tem nada a ver com esse projeto que ganhou nas urnas”.
Petrobras
O presidente também comentou a reoneração parcial da gasolina e do etanol. Disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro desonerou os combustíveis para fazer “bravata” com o povo brasileiro e tentar ganhar as eleições. E responsabilizou o adversário também pela escalada dos preços dos combustíveis, antes da zerar os tributos, desequilibrando a arrecadação do governo federal, estados e municípios. “Da mesma forma que se tomou a decisão de aumentar a gasolina, poderia ter tomado a decisão de baixar.”
Além disso, Lula classificou como “loucura” a distribuição de dividendos da Petrobras. Ele afirmou que a estatal serve para garantir a soberania energética do país, e não apenas “para ganhar dinheiro”. Mas disse que o pessoal que “tomou conta” da companhia nos últimos anos “resolveu fazer graça com os acionistas minoritários”. No ano passado, a Petrobras teve lucro de R$ 189 bilhões e distribuiu mais de R$ 200 bilhões aos investidores.
Sobre a reoneração parcial dos combustíveis, Lula disse que não foi uma vitória da “ala econômica” do governo, pois todas as decisões passam por ele. Ainda classificou como “justo” o imposto sobre a exportação de petróleo cru, como forma de compensar perdas na arrecadação. E voltou a afirmar que pretende “abrasileirar” os preços dos combustíveis, o que deve ocorrer a partir de abril, quando o novo Conselho de Administração da Petrobras será efetivado. “Não tem intervenção, não; tem interesse do povo brasileiro”, acrescentou.
Juscelino, PGR e STF
Sobre as denúncias que pesam contra o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indicado ao governo pelo União Brasil, Lula afirmou que todos têm direito de provar sua inocência. “Se ele for inocente, ele ficará no governo. Se for culpado, sairá do governo”, frisou. O ministro usou avião da FAB até São Paulo, em janeiro deste ano, para ir a evento ligado a cavalos de raça, bens que omitiu do TSE. O presidente disse que tentou falar com ele nesta semana, mas estava viajando. Uma conversa com Juscelino e com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi agendada para a próxima segunda (6).
Na entrevista, Lula afirmou que “não pensa mais” em considerar a listra tríplice do Ministério Público Federal (MPF) para a escolha do Procurador-Geral da República. “Já está provado que nem sempre a lista tríplice resolve o problema. Então, vou ser mais criterioso.” Foi Lula que iniciou o costume de nomear o primeiro da lista. Essa “tradição”, no entanto, não durou muito. Michel Temer escolheu Raquel Dodge, a terceira colocada. Já Bolsonaro, ao escolher o atual PGR, Augusto Aras, ignorou completamente as sugestões do MPF. Seu mandato acaba em setembro.
Além disso, Lula vai indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda neste ano, quando Ricardo Lewandowski e Rosa Weber completam 75 anos e se aposentam compulsoriamente. Ele afirmou que pode indicar o advogado Cristiano Zanin, que integrou sua defesa contra a Lava Jato.
“Hoje, se eu indicasse o Zanin todo mundo entenderia que ele merecia ser indicado. Cresceu tecnicamente. Ele é meu amigo, mas nunca indiquei por isso. E outra coisa, nunca pedi favor a nenhum ministro”. Como critério principal para a escolha, Lula destacou o “notório saber jurídico”. “Porque a escolha não é para mim. É para a Nação. O cara tem que ser cumpridor da Constituição”, justificou.
Fonte: CUT