Taxa média do cheque especial é a maior em 25 anos, enquanto taxa básica de juros no Brasil é a menor em 20 anos. Enfraquecimento dos bancos públicos contribuiu para esse crescimento, destaca presidenta do Sindicato
O juro do cheque especial alcançou, em junho, seu maior nível em 25 anos. Segundo o último boletim divulgado pelo Banco Central, a média está em 322,23% ao ano. E isso se dá no mesmo período em que a taxa básica de juros, a Selic, chega a 6%, o menor patamar desde 1999, quando passou a ser utilizada pelo Banco Central como instrumento de política monetária no regime de metas de inflação.
Para a presidenta do Sindicato, Ivone Silva, esse crescimento é mais uma mostra da ganância dos bancos, mas sobretudo demonstra a falta que fazem bancos públicos fortalecidos. “Reportagem do jornal Valor Econômico, que está longe de ser uma publicação de esquerda, aponta essa relação: quando a presidenta Dilma Rousseff baixou os juros da Caixa e do BB, a média do cheque especial ficou em 155,7% ao ano, chegando a uma taxa mínima de 136,7% ao ano em março de 2013. Desde o governo Temer, e agora sob o governo Bolsonaro, Caixa e BB estão sendo geridos para deixarem de cumprir seus papéis sociais e têm aumentado suas taxas de juros”, destaca.
A partir de 2015, já nas vésperas do golpe que levou Temer à Presidência, a média do cheque especial ficou em 301,5% a.a., bem acima dos 136,7% de março de 2013, um após o início da medida adotada pelo governo Dilma para forçar a queda de juros no setor financeiro.
Especialistas do mercado, ouvidos pelo Valor, reconhecem que os bancos privados devem ter aproveitado a nova política de aumentos de juros de BB e Caixa para também elevarem suas taxas.
Em 2013, as taxas do cheque especial na Caixa e no BB caíram a mínimas de 60,8% a.a. e 80,4% a.a., respectivamente. Desde a gestão Temer elas foram subindo e alcançaram, em junho (sexto mês do governo Bolsonaro), 298,9% a.a. na Caixa e a 298,5% a.a. no Banco do Brasil.
“Os dados mostram que quem paga a conta do desmonte dos bancos públicos é a população. O endividamento das famílias chegou, em março deste ano, ao maior patamar desde setembro 2015, com 62,4% das famílias brasileiras com dívidas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio. É por isso que a defesa dos bancos federais e dos direitos de seus trabalhadores é uma das principais bandeiras de luta do Sindicato”, aponta Ivone.
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“É um absurdo o que estão fazendo com os bancos públicos no Brasil. Caixa e BB estão sendo desmontados e fatiados para a venda, ao mesmo tempo em que adotam cada vez mais uma política de mercado, quando deveriam gerir políticas públicas e se contrapor à ganância das instituições financeiras privadas no Brasil, que praticam algumas das taxas de juros mais altas do mundo”, acrescenta a dirigente.
Segundo o Banco Mundial, no ano passado, o Brasil ocupava o segundo lugar no mundo em spread bancário (diferença entre o que o banco gasta para captar dinheiro no mercado e quanto ele ganha para emprestar o dinheiro). Com um spread de 32,2% ao ano, o Brasil perde apenas para Madagascar, que ocupa o primeiro lugar no ranking com 42,6% a.a. Para se ter uma ideia, o spread bancário é 3,3% a.a. na Austrália, e até mesmo em outros países da América Latina é muito menor que no Brasil: 4,8% a.a. no México, 5% na Bolívia e 7,4% na Colômbia.
Fonte: Redação Spbancarios