Negociações coletivas exigem sindicatos fortes, defende dirigente da CSA
27/07/2011 - Por Bancários CGR
O secretário de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável da  Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), Rafael  Freire, participou na tarde desta terça-feira (26) do debate Parâmetros e  Convenções Internacionais Corporativos e de Sustentabilidade, no  auditório da Contraf-CUT, em São Paulo. A atividade fez parte da agenda  conjunta da 8ª Reunião do Comitê Sindical Internacional do Grupo  Santander da UNI Américas Finanças e da 6ª Reunião do Comitê Sindical  Internacional do Grupo Itaú da UNI Américas Finanças, que iniciaram  nesta terça e terminam nesta quarta (27), com a participação de  representantes de vários países do continente.
 
 A promoção de negociações coletivas demanda dois fatores primordiais:  sindicatos fortes, além de regras e parâmetros consolidados e eficazes  de negociação. "Só assim é possível abrir um diálogo social real que  leve os trabalhadores a ganhos nas negociações, de modo a garantir a  proteção em relação aos abusos de poder econômico e a contenção da  precarização do emprego", afirma Freire. 
 
 Para ele, "os sindicatos não podem mais se dar ao luxo de desenvolver  ações sindicais de forma isolada". O dirigente sindical frisa que "não  dá mais para agir separadamente. Nossa estratégia é construir espaços,  planos e política de ações comuns para as negociações dos trabalhadores  nas Américas, guardando as especificidades de cada categoria", avalia  Freire.
 
 Além disso, os processos de construção de negociações coletivas dos  trabalhadores não podem ficar limitados a barreiras nacionais,  especialmente quando se trata de empresas multinacionais. "Se nos  limitarmos ao nível nacional, há grande possibilidade de não se avançar  nas conquistas", sentencia o dirigente da CSA. 
 
 Parâmetros 
 
 Para essas negociações, existem parâmetros e referências internacionais.  Freire citou três marcos legais que orientam as ações internacionais  sindicais. O primeiro foram as convenções e as normas da Organização  Internacional do Trabalho (OIT). "A eficácia deste arcabouço de direitos  frente à realidade é um debate que devemos fazer, mas não o invalida ou  o limita como marco", ressalta.
 
 O segundo elemento, enfatizado por Freire, são as diretrizes da  Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "Temos a  possibilidade de fazer denúncias dentro da Organização e em vários  países este canal foi usado como estratégia para conquista de direitos  internacionais", afirma. O terceiro ponto que orienta as ações sindicais  internacionais é o Pacto Mundial pelo Emprego.
 
 Freire adverte que esses três parâmetros não podem ser utilizados pelos  movimentos sindicais isoladamente da conjuntura econômica, política e  social internacional. "Apesar dos parâmetros e acordos já consolidados,  não estamos isolados e isso deve ser levado em consideração nas mesas de  negociações", salienta. 
 
 A última crise financeira mundial é um exemplo. "Para suprir a crise  ataca-se o emprego. O que vemos é o ataque aos sindicatos, o que acaba  enfraquecendo as negociações. Tudo para manter os lucros e o modelo  hegemônico. E isso deve ser levado em consideração nas estratégias  sindicais", indica Freire. Assim é fundamental, alerta ele, que os  sindicatos fortaleçam a capacidade de negociação e que estejam  preparados para defender o emprego decente.  
 
 Filantropia 
 
 De acordo com Freire, as ações de responsabilidade social das empresas  estão no âmbito da filantropia e das ações de marketing. "A primeira  responsabilidade que as empresas devem assumir é com seus funcionários.  E, para isso, devem respeitar a negociação coletiva e a liberdade de  organização dos trabalhadores". A partir daí, é que se deve pensar nas  outras responsabilidades sociais de uma empresa, defende Freire. 
 
 Desenvolvimento sustentável?
 
 Grande parte dos governos na América Latina passou pela crise financeira  sem grandes impactos. "A estratégia usada foi de fortalecimento do  mercado interno e intensificação das exportações. Tudo isso sem mexer de  fato na estrutura do sistema financeiro", explica Freire. Para ele, as  medidas tomadas levam a seguinte pergunta: "Estamos seguindo um caminho  sustentável, que perdurará ao longo do tempo?".
 
 Para ser sustentável, Freire destaca três pontos. "É preciso ter  processo constante de geração de emprego decente. Por sua vez, a geração  de emprego deve levar a ganhos no processo social, de modo que diminua a  concentração de renda. E, por último, deve levar em consideração a  preservação ambiental. Se não houver esses três elementos, o crescimento  é frágil", sustenta.
 
 Freire avalia que estes parâmetros devem ser considerados nos processos dos acordos sindicais.
 
 Ataque ao trabalho indecente
 
 Aqui no Brasil, diferentemente da América Lática, os bancos tiveram  salto positivo nas contratações em 2010. Mas este saldo foi reduzido  pela alta rotatividade. O presidente da Contraf-CUT e da UNI Américas  Finanças, Carlos Cordeiro, citou os dados da 9ª Pesquisa do Emprego  Bancário. Conforme o estudo da Contraf-CUT e do Dieese, os bancos de  todo o país geraram 6.851 novos empregos no primeiro trimestre de 2011,  como resultado de 15.798 contratações e 8.947 desligamentos. 
 
 "Este modelo de geração de emprego adotado pelos bancos brasileiros não  faz sentido, especialmente quando consideramos a lucratividade destas  instituições financeiras. No Brasil, a renda dos bancos cresce 25% sobre  o patrimônio líquido, enquanto que na Europa, por exemplo, cresce 13%",  avalia Carlos Cordeiro.  
 
 Além disso, 50,29% dos bancários pediram para sair das instituições.  "Isso porque os funcionários não suportam o trabalho indecente dentro  dos bancos", afirma o presidente da Contraf-CUT. "Os trabalhadores não  possuem estabilidade, convivem com o medo de perder seus empregos, com  medo da insegurança dentro das agências e sem condições adequadas de  saúde. O assédio moral e a pressão por metas são os responsáveis  principais pelo afastamento de 1.200 bancários por ano", denuncia.
 
 Carlos Cordeiro lembrou ainda a extrema desigualdade entre os salários  dos executivos e dos funcionários dos bancos. O presidente da  Contraf-CUT citou o exemplo do Bradesco. O presidente do banco recebe  394 vezes mais que os funcionários com os menores salários do banco.  "Enviamos uma proposta ao Banco Central que estabelece que o salário do  executivo não deve ultrapassar dez vezes o ganho de um trabalhador",  conclui.
Fonte: Contraf-CUT
