Em entrevista publicada pelo jornal O Globo no domingo (31/5), o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, confirma seu “sonho” de privatizar a instituição e a concordância do presidente Bolsonaro a realização. Segundo o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga, o presidente do BB mais uma vez foi contraditório em suas próprias afirmações, ao reconhecer o papel fundamental exercido pelo Banco para a concessão de crédito mas, ao mesmo tempo, rechaçar a importância do banco público.
“Assim como ele mostra estar perdido, sem saber o que fazer e apenas ‘torcendo’ para que o pico da pandemia já tenha passado, a contradição de suas afirmações também vai no mesmo sentido. Ele está perdido e não sabe o que fala”, disse o coordenador da CEBB.
Na entrevista ao O Globo, Novaes voltou a usar a necessidade de concorrência pelas folhas de pagamento como justificativa para privatizar o banco. Na reunião ministerial do dia 22 de abril, ele já havia dito que o Banco do Brasil não enfrenta problemas de liquidez e de higidez e que tem a felicidade de contar com folhas de pagamento de empresas públicas e das forças armadas. Mas, logo em seguida, para defender seu “sonho” de privatizar o banco, disse que as folhas de pagamento das empresas públicas antes “vinham naturalmente para o Banco do Brasil ou para a Caixa”, assim como a administração dos depósitos judiciais. “Hoje, isso tudo é processo de concorrência. Nós temos que pagar muito caro por esses antigos privilégios”, reclamou.
“Rubem Novaes fala em privilégios. Uma visão típica de administrações que tomam um bem público como se fosse um bem pessoal, como fez Carlos Bolsonaro, que interveio no Banco do Brasil sem sequer ter cargo no banco. Simplesmente por ser filho do presidente se achou no direito de interferir para que o Banco do Brasil continuasse anunciando em sites de fake news. E o filho do (vice-presidente, Hamilton) Mourão, que, em uma carreira meteórica atingiu a gerência executiva do banco e comanda o departamento de Marketing, obedece ao filho do Bolsonaro”, criticou Fukunaga.
“Além disso, são inúmeros os exemplos que mostram que as empresas públicas, quando têm à sua frente administradores competentes, conseguem oferecer serviços de qualidade, com tarifas justas, e ainda trazer benefícios para a sociedade. Não há a necessidade de se privatizar uma empresa, basta colocar à sua frente uma pessoa competente para administrá-la”, completou.
Ataques ao funcionalismo
Fukunaga diz ainda que, ao criticar os concursos públicos, o presidente do Banco do Brasil continua com os ataques aos funcionários do Banco do Brasil e o funcionalismo de uma forma em geral.
“Como parte da campanha de difamação do funcionalismo público, Novaes tenta fazer as pessoas acreditarem que o bancário do Banco do Brasil não sofre pressões e cobrança de metas. Mas, basta lembrarmos os cortes dos comissionamentos de cargos que veremos o contrário”, observou o coordenador da CEBB. “Como o próprio Novaes disse, os concursos do Banco do Brasil são para escriturário, com salários mais baixos. Daí, os funcionários são pressionados e ameaçados de perder sua comissão que, muitas vezes, representa a maior parte de sua remuneração”, completou.
“O que ele quer, na verdade, é permitir que a pessoa, além de ser assediada e ameaçada de corte de comissão, também seja ameaçada de demissão, como acontece nos bancos privados”, explicou Fukunaga.
Importância do BB
Assim como já tinha feito na reunião ministerial de 22 de abril, quando destacou a importância do Banco do Brasil para o desenvolvimento do econômico do país, Novaes volta falar sobre a importância do banco na concessão de crédito.
Segundo afirmou na entrevista ao O Globo, o BB concedeu R$ 129 bilhões de crédito, desde 16 de março. Do total, R$ 60,7 bilhões foram desembolsos de novos recursos e R$ 68,4 bilhões, renovações para empresas e pessoas físicas.
“O Banco do Brasil tem forte atuação no setor agropecuário, que há muitos anos é responsável por grande parte do Produto Interno Bruto de nosso país, mas também junto às micro, pequenas e médias empresas, que são as responsáveis por cerca de 80% dos empregos”, destacou Fukunaga. “Se o Banco do Brasil for privatizado, como sonha Rubem Novaes, quem vai atuar nestes segmentos? Como confidenciou (o ministro da Economia) Paulo Guedes, os bancos privados não têm interesse em ‘perder dinheiro’ com os pequenos. Querem somente ganhar com os grandes. E a prova é anunciada pela imprensa todos os dias: os pequenos empresários não conseguem ter acesso ao crédito nos bancos privados, mesmo após a liberação de R$ 1,2 trilhão para os bancos pelo Banco Central”, explicou.
“O Banco do Brasil exerce papel fundamental para a economia do país e precisa manter seu caráter público para continuar exercendo esta tarefa”, concluiu o coordenador da CEBB.
Fonte: Contraf-CUT