Para CUT, sem medidas mais eficazes do governo, crise chegará ao Brasil

14/11/2012 - Por Bancários CGR

altNo exato momento em que milhões de trabalhadores paralisavam as atividades em centenas de cidades da Espanha, Portugal e Grécia, além de outros países, contra a política de "austericídio" fiscal - mescla de austeridade com genocídio -, a CUT e demais centrais sindicais brasileiras tomaram a frente do Consulado da Espanha em São Paulo, nesta quarta-feira (14), para repudiar o receituário neoliberal imposto pela troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia).

Ao mesmo tempo, chamaram a atenção do governo federal para a necessidade de ampliar os investimentos sociais e fortalecer a indústria nacional, "a fim de criar as condições para enfrentar os impactos negativos da crise".

"Estamos dando um alerta ao governo brasileiro: se o Estado não tomar medidas mais efetivas e eficazes em defesa da indústria nacional, valorizando os salários e a distribuição de renda, a crise vai chegar ao Brasil", alertou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

Se por um lado a manifestação expressou a solidariedade aos trabalhadores europeus, declarou Vagner, "por outro reafirmou a determinação da classe operária brasileira de seguir firme e unida em prol dos seus direitos".

CRISE DO FINANCISMO, DA ESPECULAÇÃO

"A crise econômica revela a falência do sistema capitalista, excludente, incapaz e incompetente, onde meia dúzia de financistas, de especuladores, de donos de um dinheiro virtual, que não existe, tomam o que é nosso, que é público, para se darem bem às custas da desgraça de todos. Um sistema assim é um desrespeito à Humanidade", ressaltou Vagner.

Na avaliação do presidente cutista, "não existe economia sem Estado indutor do desenvolvimento, sem a garantia de salário, emprego, direitos e sustentação ambiental".

DEVASTAÇÃO E MISÉRIA

Os números por debaixo dos escombros deixados pela troika falam por si. Na Espanha, onde o governo se envergou à cartilha dos especuladores, os números estampam a devastação: 13 milhões de pessoas, cerca de 27% da população, vivendo abaixo da linha de pobreza, com o desemprego na juventude ultrapassando os 55%.

A Grécia foi mergulhada numa recessão semelhante aos trágicos tempos da segunda guerra com 1,15 milhão de desempregados, desemprego juvenil beirando os 55% e com 30% da população abaixo da linha de pobreza.

Portugal ultrapassa os 15% de desempregados, com o governo empenhado em "flexibilizar" as relações de trabalho, com o aumento da jornada, cortes nos salários, nas férias e no 13º salário. Em todos os países, junto à insegurança e aos despejos, crescem os suicídios.

Para o secretário de relações internacionais da CUT, João Antonio Felício, é "inaceitável a continuidade desta política de destruição e devastação de salários, empregos e direitos".

"O aumento descomunal do desemprego é o resultado de políticas que retiram direitos, que enfraquecem o movimento sindical e alijam os trabalhadores dos processos de negociação e decisão", ressaltou.

"Para que esta crise da Europa e dos Estados Unidos não seja importada e atinja o Brasil e a América Latina", ponderou João Felício, "é preciso que o Estado exerça seu protagonismo investindo no desenvolvimento, na industrialização, na geração de emprego e distribuição de renda". "O receituário de ajuste fiscal, cortes nas áreas sociais e flexibilização das leis trabalhistas não serve, não é bom nem para o continente europeu nem para nenhum país do mundo", frisou.

CONTRA O RETROCESSO

Para o secretário adjunto de Relações Internacionais da CUT, Artur Henrique, o ato estampou a solidariedade brasileira à luta por direitos contra a cartilha do retrocesso. "As medidas que vêm sendo adotadas pelos governos europeus, com diminuição do papel do Estado e das políticas públicas em prol do sistema financeiro só vão agravar a crise. Nós vivemos isso no Brasil na década de 90 com as privatizações, o salário diminuiu e o desemprego disparou", recordou.

Dirigente da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA) e vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Laerte Teixeira, frisou que "as medidas de austeridade não têm dado certo".

Aplicadas na Grécia, em Portugal e Espanha, "e a Itália é a próxima", alertou Laerte, essas medidas não oferecem qualquer sustentação aos empregos existentes. "Não podemos deixar que os trabalhadores paguem novamente a conta da crise", disse.

O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira, disse que "se os movimentos estão explodindo por toda a Europa é porque seus governos estão tentando implantar uma política de terra arrasada, substituindo o Estado pelo privado. Esta é a política do capitalismo financeiro, que enche o bolso dos banqueiros e especuladores com o dinheiro tirado dos salários e das aposentadorias, com o dinheiro sangrado dos investimentos".

O secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), acredita que a ação unitária das centrais brasileiras não apenas mostra a solidariedade militante com a classe trabalhadora europeia, mas um aviso aos que querem impor uma agenda de retrocesso aos direitos dos trabalhadores e ao próprio país.

Em nome da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Nilton Francisco defendeu que as centrais se mantenham mobilizadas e alertas para impedir que as forças do atraso e do retrocesso ataquem a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e suas conquistas.

Representando a CSP-Conlutas, Dirceu Travesso (Didi), sublinhou que a unidade e a mobilização das centrais é essencial para fazer frente ao "peso da crise econômica que o imperialismo quer colocar sobre as nossas costas". "Se essas medidas passarem na Europa, nós ficaremos mais fragilizados aqui. Agora, no Brasil, há quem fale em `flexibilizar` as relações de trabalho, em `modernizar`, para abrir caminho ao capital, com a Justiça ao seu lado, a fim de retirar direitos", denunciou.

Uma delegação da IndustriALL Global Unión, entidade que representa a 50 millhões de trabalhadores do setor mineiro, energético e industrial em 140 países, também esteve presente ao ato. Segundo o secretário adjunto da IndustriALL, Fernando Lopes, o mundo todo está de olho nesta jornada de luta europeia contra as políticas de financeirização da economia. "Não há saída para a crise no apoio a bancos, mas em investimentos na indústria e na geração de empregos de qualidade", frisou.

Vindos da Argentina, Canadá, Colômbia e Estados Unidos, lideranças da Coordenação de Trabalhadores da Rede Gerdau se somaram ao ato. "Neste momento em que a classe trabalhadora europeia sofre com a agudização da crise, a nossa palavra comum é de estímulo à luta e resistência", declarou Jorge Garcia, coordenador da rede.

Fonte: Contraf-CUT com CUT - Leonardo Wexell Severo

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