Presidente da Caixa prevê expansão da carteira de crédito em 30%
22/07/2011 - Por Bancários CGR
A carteira de crédito da Caixa Econômica Federal deve ter uma expansão,  este ano, de 30%, elevando a participação da Caixa no mercado de crédito  doméstico dos atuais 11% para mais de 12% até dezembro. 
 
 Em entrevista ao Valor, a primeira desde que assumiu a presidência da  instituição, Jorge Hereda explicou que esse crescimento será obtido pela  elevação das operações da carteira comercial. Já o crédito imobiliário,  que no ano passado apresentou expansão de 58% e no ano anterior, de  50%, deve passar por uma desaceleração.
 
 Na contramão do que o Banco Central (BC) preconizou no início do ano  para desaquecer a atividade econômica - aumento de no máximo 15% na  oferta de crédito este ano -, Hereda disse que tem que disputar o  mercado de crédito e que os demais bancos também vão crescer além do que  o BC pretendia. 
 
 "O mercado vai passar dos 15%, que é a meta do governo, e não acho que  isso vai ser algo muito grave", disse. "Quero aumentar minha  participação e vou disputar com os meus concorrentes", completou.
 
 A estratégia da nova gestão, que assumiu o comando da Caixa no fim de  março, é buscar rebalancear a composição do crédito. Hoje, a carteira  imobiliária e de infraestrutura responde por 60% e a comercial, por 40%  do crédito da instituição.
 
 Para isso, a ideia é atrair a clientela que a Caixa já tem junto a  governos estaduais e municipais, assim como a de financiamento  habitacional para outros serviços da instituição (como conta corrente,  cheque especial, cartão de crédito), aumentando a carteira comercial.
 
 "Na habitação, temos quase 3 milhões de contratos. Constituída desde  2001, essa é uma carteira que vai ficar comigo por 12 a 15 anos", disse.  O mesmo deve ocorrer com as empresas. "Temos clientes de todos os  portes de empresas e essa clientela não estava na carteira comercial  também". A Caixa criou uma superintendência de grandes empresas de  construção civil, que atende pouco mais de 20 companhias. "Queremos  estreitar as relações", falou Hereda.
 
 No crédito imobiliário, o espaço para crescer é imenso. No Brasil, ele  representa cerca de 4% do PIB. " É muito pouco", avaliou, se comparado  com o Chile, onde os financiamentos habitacionais correspondem a 15% do  PIB, ou com o México, entre 11% e 12% do produto. "Para nos  posicionarmos entre o México e o Chile ainda há muito chão para  crescer".
 
 O presidente da Caixa acredita, porém, que o ritmo de expansão do  crédito imobiliário não será o mesmo dos últimos dois anos. Deverá cair  do patamar dos 50% para a casa dos 30% ao ano, o que é um crescimento  ainda bastante exuberante. Ele também não enxerga qualquer possibilidade  de "bolha" de crédito no país num horizonte visível. Nessa área, "vamos  ter um crescimento sustentável e dentro das condições que temos de  `funding`", assegurou.
 
 A ideia da nova direção é equilibrar a carteira sem, contudo, diminuir  os negócios voltados para crédito imobiliário e como agente do governo.  "Nós não vamos abandonar essa característica. Nós fazemos tudo o que os  outros bancos fazem, mas somos fortes na área de governo. Somos um banco  público e achamos que isso não é um peso, mas um diferencial da Caixa  em relação ao mercado."
 
 A Caixa mantém o interesse em acordos de folhas de pagamentos para  Estados e municípios e também está de olho nos outros poderes. A  instituição fechou recentemente um acordo com o Tribunal de Justiça do  Paraná. "É possível crescer o crédito em 30% neste ano e nós temos  oportunidades dentro de casa", reiterou Hereda.
 
 Para fazer frente ao desafio, ele disse que tem o capital necessário  para expandir a carteira pelo menos até o fim de 2012 (o Índice de  Basileia era de 15,2% no fim do primeiro trimestre). Mas começa a surgir  no radar da instituição uma preocupação com as novas regras para os  bancos, conhecidas como Basileia 3.
 
 A Caixa trabalha internamente para verificar os impactos das medidas que  podem ser adotadas pelo BC, mas se elas vierem de acordo com as  sinalizações iniciais dadas pela autoridade monetária será bastante duro  para a instituição. 
 
 "Se as regras vierem como estão sendo comentadas, vai exigir um aporte  de capital para a Caixa maior até do que para outros bancos privados",  adiantou. Aporte que teria que ser feito pelo Tesouro Nacional.
 
 O banco, segundo Hereda, tem muitos ativos (capital de nível 2), hoje  considerados para o cálculo do Índice de Basileia e que terão de ser  excluídos, como depósitos judiciais e dívida subordinada. Ele também não  vê com bons olhos uma antecipação do cronograma de implantação. "Para a  gente antecipar a regra não é uma boa medida. Primeiro temos que  acertar que impacto vai ter no mercado com um todo."
 
 O BC tem um grupo de trabalho que se reúne regularmente com os bancos  públicos, para discutir a situação diante da implementação das novas  regras. O assunto não é objeto de negociação. A Caixa apenas apresenta  sua situação à autoridade monetária.
 
 Outra aposta para ampliar a receita da instituição é a parceria com o  BTG Pactual no Banco PanAmericano. O plano de negócios já foi concluído,  com foco em crédito para veículos, middle market e consignado. Hereda  acredita que nos próximos dois anos o banco voltará a ser rentável.
 
 Segundo ele, o PanAmericano passa, agora, por um processo de  "profissionalização" de gestão e governança, com novos modelos de risco e  estrutura de controle. "Acho que a médio prazo vai ser um ótimo  negócio. Queremos ganhar dinheiro."
 
 A Caixa voltou a avaliar, nas últimas semanas, a possibilidade de fazer  captações externas para ampliar o funding, mas entende que este ainda  não é o momento. "Estamos nos preparando para isso, mas neste momento o  custo da captação ficaria acima do CDI."
 
 Os estudos para que a securitização se torne um funding regular para a  habitação também continuam, mas até agora o processo é de "aprendizado",  disse Hereda. "Isso não vai ser a solução para este ano ou o próximo,  mas queremos estar preparados."
 
 A Caixa está entre os bancos que se inscreveram para vender Certificado  de Recebíveis Imobiliários (CRI) ao FGTS, dentro do limite de R$ 2,1  bilhões estipulado pelo fundo - o FGTS reserva 10% do orçamento para  comprar CRI. Ela chamou, inclusive, algumas securitizadoras para fazer  cotação e está otimista com o lançamento. "Nós vamos fazer, mas o volume  depende do FGTS".
 
 Hereda aposta que no futuro, será possível que boa parte da captação de  recursos para o crédito imobiliário prescinda da poupança. "Quase todos  os países do mundo fazem captação com tesouraria. Vamos ter que nos  adaptar ao funding disponível." Ressaltou, no entanto, que até o fim do  próximo ano o funding da habitação está garantido.
 
 Uma das grandes fontes de críticas ao desempenho da instituição são em  relação aos repasses de recursos das emendas parlamentares para Estados e  municípios. "O repasse é uma questão difícil de tratar uma vez que a  Caixa é uma espécie de carteiro. Se um ministério resolve cancelar os  restos a pagar a partir de tal dia, quem dá a notícia é a Caixa", disse  Hereda.
 
 A Caixa tem 52 mil contratos ativos de repasses com governos estaduais e  prefeituras, mas 85% são de até R$ 500 mil. "Temos 5 mil contratos do  PAC e o restante é abaixo de R$ 500 mil. Mas o procedimento é o mesmo  para todos. Isso é um absurdo", comentou.
 
 Segundo ele, o governo prepara uma série de medidas para simplificar  esse processo. "Não posso gastar R$ 22 mil para acompanhar um repasse de  R$ 100 mil. Se somarmos o que os ministérios gastam e o que a AGU gasta  é capaz de ter mais despesa com gente acompanhando do que o dinheiro  que chega na ponta."
 
 Segundo ele, a diretoria tem contribuído com a discussão, mas essa é uma  iniciativa do governo. "Uma obra de até R$ 500 mil pode ter um  procedimento mais simplificado e uma de R$ 500 milhões tem que ter um  tratamento mais rigoroso", ponderou. Isso melhoria inclusive a  capacidade operacional da instituição que tem, atualmente, 2 mil  engenheiros e outras 3 mil empresas terceirizadas para fazer as  avaliações.
 
 Uma das respostas da Caixa à demanda das prefeituras e dos Estados é  abrir mais de 10 representações de desenvolvimento urbano, além de  diversas superintendências regionais para ampliar a cobertura em áreas  com déficit de atendimento. 
 
 Hereda contratou uma consultoria para rever os processos nessa área e já  foi criada uma Ouvidoria de Governo para que Estados e municípios  possam deixar suas reclamações. O projeto vai ser avaliado hoje, no  Conselho de Administração. 
 
 "Não vou fazer essa discussão dizendo que não temos que melhorar. Também  não aceito fazer essa discussão dizendo que o problema somos nós. Nós  somos solução". E as mudanças para atender melhor os governadores e  prefeitos não devem ser só da Caixa. "Tem ministérios que tem três  manuais diferentes" para esse tema.
 
Fonte: Contraf-CUT com Claudia Safatle-Fernando Travaglini - Valor Econom
