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Selic em 13,25% reafirma que Banco Central é refém de interesses do mercado financeiro
30/01/2025
Sob comando de Galípolo, Copom mantém ciclo de aperto monetário e que ataca desenvolvimento do país
Mesmo sob comando de um novo chefe, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, confirmou a manutenção do ciclo de aperto, iniciado ano passado, que dificulta o crescimento econômico. Nesta quarta-feira (29), em decisão unânime, dos nove membros, a entidade aumentou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros brasileira (a Selic), atingindo a marca de 13,25% ao ano.
"Galípolo não foi indicado pra manter os interesses do mercado financeiro, que se aliou com a grande imprensa pra criar um ambiente de terrorismo econômico e manter os juros altos, para garantir seus interesses. O Galípolo foi indicado para cumprir o papel de fazer uma política econômica para a população. Com isso ele mostra que é refém do mercado financeiro", avalia a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira. "O Banco Central tem que ser autônomo em relação aos interesses do mercado financeiro e servir aos interesses do povo", completou.
Com o anúncio de hoje, a autoridade monetária elevou pela quarta vez consecutiva a Selic, após chegar a 10,5% ao ano, de junho a agosto do ano passado, um índice que já era considerado exagerado e prejudicial para o crescimento econômico do país.
"Por mais que o governo federal, trabalhadores e setor produtivo se esforcem, dia após dia, para fazer o país crescer, quando o Banco Central decide, por meio do Copom, manter uma taxa básica de juros tão alta, torna o custo do dinheiro, portanto dos empréstimos e investimentos, mais caro. Isso dificulta toda a economia, que não expande como poderia expandir, caso o crédito fosse mais barato", explica o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Selic não é eficiente para todos os tipos de inflação
O principal argumento dos membros do Copom para elevar a Selic é controlar a inflação no país. Uma inflação de demanda, eles apontam. "Existe um grande erro que se tornou aceito como norma, do uso da Selic como instrumento principal para manter a inflação sob controle. Mas essa é uma falácia. Não só se perde a oportunidade de enfrentar a inflação de maneira mais eficiente, como traz sérios prejuízos ao desenvolvimento do país a prática de uma taxa básica de juros em níveis tão altos", observa a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Vivian Machado.
Ela ainda ressalta que, economistas reconhecidos mundialmente, como o ganhador de Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, já expuseram publicamente suas críticas quanto ao tipo de política monetária do Banco Central do Brasil. "Ele explica que, na verdade, as taxas de juros elevadas aumentam a pressão inflacionária. E isso porque cada tipo de situação que resulta no aumento de preços tem uma forma de ser combatida. Mas o que o Banco Central brasileiro faz é usar somente uma forma de enfrentar a inflação, independentemente da raiz que ocasionou o aumento de preços", completou.
A Selic demonstra eficiência para controlar a inflação que ocorre pelo aumento da demanda por produtos e serviços, ou seja, quando as pessoas estão consumindo mais e pressionando a oferta.
“Por outro lado, nos últimos anos, a inflação brasileira não tem razões num mercado aquecido, e sim, em diversos outros fatores como alta dos alimentos por questões climáticas (safras menores por causa de secas e enchentes), por questão geopolítica, como em 2022, com a guerra entre Ucrânia e Rússia, o que também afetou o preço dos alimentos. Tivemos ainda, recentemente, inflação por conta do aumento da energia, que também se deu por causa da seca, ao reduzir as atividades das hidrelétricas. Tudo isso eleva o custo para os produtores no país. Ou seja, o erro está no ponto que o Banco Central justifica tais aumentos na taxa de juros por uma inflação de demanda, quando historicamente temos no Brasil inflação de custos e quanto maiores os juros, mais caro fica produzir no Brasil", pontuou Vivian Machado.
No caso dos alimentos, por exemplo, entre as ações para conter a inflação está a recomposição dos estoques reguladores de alimentos para amenizar variações sazonais de preços. Nesta semana, o governo federal anunciou que articula uma reunião com ministros, que será coordenada pelo presidente Lula, para discutir formas de baixar o preço dos alimentos. O Planalto tem expectativas de que os preços dos produtos alimentícios devem baixar por conta da nova safra, que será maior em relação à 2024.
Quem ganha com a alta
Enquanto isso, o movimento sindical trabalhista reforça a campanha para que o Banco Central mude essa política monetária. "A atual política induz a contração da economia e mantém o Brasil, ano após ano, com uma das maiores taxas de juros reais do mundo, que é o resultado da Selic menos a inflação. E, isso, historicamente, traz prejuízos, com impactos negativos à indústria, ao comércio e empregos de qualidade. Então, se existem outras formas de controlar a inflação, que não pela Selic, por que o BC mantém os juros altos?", ponderou Juvandia Moreira.
Vale destacar que a Selic é o principal índice usado nas negociações títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. Logo, quanto maior a Selic, maior a remuneração dos títulos públicos. E os maiores detentores dos títulos públicos, atualmente, são as instituições financeiras. Como é o governo que emite e portanto paga os juros dos títulos públicos, outra consequência da Selic elevada é a redução de recursos para políticas públicas.
Existem ainda denúncias de que membros e ex-membros do Banco Central podem estar se beneficiando da política monetária contracionista, como o ex-presidente da entidade, Roberto Campos Neto, investigado, pelo Conselho de Ética da Presidência da República por ser o dono de empresas em paraísos fiscais e que detém papéis emitidos pelo Tesouro Nacional.
Fonte: Contraf-CUT