O Banco do Brasil anunciou, nesta segunda-feira (3), uma série de medidas que vai alterar a forma de remuneração na instituição. O banco alega que potencializará os ganhos dos funcionários, com foco no reconhecimento a partir de seus desempenhos.
“Se fosse verdade que todos os funcionários sairiam ganhando, seria a primeira vez na história que uma empresa que quer reduzir custos com o pessoal buscaria promover tal redução aumentando a remuneração de seus funcionários”, ironizou o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João Fukunaga. “Basta analisar as medidas da atual gestão para vermos que essa não é a verdade. O que a medida quer promover, na verdade, é a redução dos salários dos funcionários. Pelas falas do presidente do Banco do Brasil, a impressão que se tem é que os únicos que terão aumentos serão os altos executivos do banco, que são cargos de confiança nomeados pelo governo e foram indicados pelo mercado financeiro”, afirmou o representante dos bancários do Banco do Brasil.
O presidente do BB, Rubem Novaes, disse no final de janeiro, durante evento promovido pelo banco Credit Suisse, em São Paulo, que os bancos públicos têm dificuldade de reter talentos.
Desde a semana passada, a mídia vem anunciando que o Banco do Brasil tinha a intenção de aumentar a remuneração de executivos de Brasília, que já têm altos salários, ocupam cargos de confiança, foram indicados pelo mercado e nomeados pelo governo, para impedir a debandada de profissionais. “Mas, qual debandada? Os que saíram foram exatamente os altos executivos, como vice-presidentes e diretores. Então a ideia é valorizar estes poucos em detrimento a todo o resto dos funcionários? Eles querem valorizar os funcionários diminuindo seus salários?”, observou Fukunaga.
“Mais uma vez, o banco anunciou as mudanças ao mercado e em comunicado direto aos funcionários, desconsiderando o acordo de que as mudanças devem ser debatidas primeiro com a representação dos trabalhadores. Esta prática do banco gera apreensão entre os funcionários, que recebem os comunicados e ficam sem o respaldo da representação dos trabalhadores para explicar as mudanças. Ao invés de ajudar, o banco prejudica a gestão de pessoal”, disse a secretária de Juventude e representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) na mesa de negociações com o BB, Fernanda Lopes.
Para Fukunaga, as medidas criam um plano de cargos e salários paralelo, que reduz salários de funcionários de carreira, para se criar novos cargos executivos como os especialistas. “Será que precisamos mais dos poucos que ganham muito? Preferem cortar salários dos que trabalham muito e ganham pouco? O banco diz que quer olhar o mercado, mas parece ver apenas os altos executivos dos bancos privados, que ganham milhões?
No texto de anúncio, o diretor de Gestão da Cultura e de Pessoas do BB, Avelar Matias, diz que o “Programa Performa: Desempenho e Reconhecimento é resultado de um longo estudo e que utilizou pesquisas de mercado no segmento bancário para rever os atuais modelos de remuneração, premiação e avaliação utilizados no BB, considerando para isso a necessidade de incentivar o melhor desempenho e a busca de resultados”.
“Isso é uma falácia. Querem transformar o que é público em privado. Mas, em nenhum momento dizem que o desempenho do Banco do Brasil é melhor do que os dos bancos privados”, criticou o representante dos trabalhadores.
Programa de Desempenho Gratificado
Todos os funcionários do Banco do Brasil podem ser atingidos pelas medidas do Programa de Desempenho Gratificado (PDG) já a partir do segundo semestre de 2020.
O banco diz que o valor de investimento no PDG vai aumentar 120% e que o percentual de premiados em cada grupamento passa dos atuais 30% da rede de negócios para 40% do total de funcionários. “O que não põem às claras é que o Valor de Referência (VR) da gratificação de todas as funções será reduzido. Todos funcionários com gratificação de função terão suas remunerações reduzidas e precisarão futuramente disputar cargos com gratificações menores. Os que não conseguirem função ficarão sem nada e os que conseguirem terão redução das remunerações. Todos que quiserem ganhar um pouco mais terão que se sobrecarregar ainda mais, ganhando pouco”, explicou Fukunaga, lembrando que a folha de pagamentos do banco é de R$ 12 bilhões e o PDG de apenas R$ 200 milhões.
O regulamento do PDG será definido ao longo deste primeiro semestre. Para os novos participantes, serão considerados pré-requisitos, indicadores, metodologias de aferição de desempenho, de grupamento, de classificação e de premiação. “O movimento sindical denunciou as regras nada claras para esta remuneração variável, mas o banco se recusa a negociar esse programa”, disse o coordenador da CEBB.
“Se for preciso, estamos preparados para a luta. Não vamos abrir mão de direitos adquiridos, como a gratificação de função e de outras conquistas que venham a ser ameaçadas. Vamos manter nossa unidade e resistir para defender os trabalhadores”, afirmou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, que também é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.
Redução de salários
A redução de salários pode ser confirmada no comunicado feito pelo banco, no trecho que afirma que foram revisadas as remunerações fixas de todas as funções de confiança e gratificadas, ajustando os valores que foram identificados como acima da média do mercado – a maior parte dos casos – e aumentou os que se mostraram defasados, como é o caso dos gerentes de relacionamento PAA, Private Sofisticado e Upper middle / Hunter Upper Middle.
A medida faz parte de uma reforma administrativa realizada pelo governo federal em retaliação aos trabalhadores concursados de várias estatais.
Gestão de Desempenho de Pessoas
Além dos parâmetros e métricas já definidas na Gestão de Desempenho de Pessoas, o banco implementará outras ações para a gestão do desempenho dos funcionários pelos gestores e ainda traz como suposta inovação as análises e tratamentos posteriores aos conceitos atribuídos. Segundo o banco o objetivo é minimizar a adoção de critérios distintos entre os diferentes avaliadores.
A maioria das medidas passa a valer já neste primeiro semestre, como a mudança no Plano de Desenvolvimento de Competências (PDC), que agora é direcionado somente aos funcionários que apresentaram necessidade de aprimoramento no semestre anterior. A partir de março, o PDC ficará disponível na UniBB (Mapa de Carreira), sem necessidade de ciência do gestor.
A GDP passará a sinalizar os subordinados que apresentaram lacuna de desempenho aos gestores de equipe, considerando os conceitos recebidos de seus avaliadores. Esse grupo deverá ter registro de Acordo de Desenvolvimento específico e anotação relativa ao resultado do acompanhamento realizado. “Sempre cobramos uma mesa do banco a respeito disso. na campanha anterior, o banco queria tirar do acordo coletivo de trabalho (ACT) as três formas de avaliação da GDP”, lembrou Fukunaga.
Fonte: Contraf-CUT