UNI Américas decide fortalecer as redes sindicais nas multinacionais
07/12/2012 - Por Bancários CGR
A 3ª Conferência Regional da UNI Américas - Rompendo Barreiras, que está sendo realizada em Montevidéu, discutiu e aprovou nesta quinta-feira 6 uma série de moções referentes a um dos grandes eixos de sua estratégia, que é a organização de redes sindicais nas empresas multinacionais. A Contraf-CUT participa da conferência, que reúne 392 delegados, observadores e convidados de 33 países das três Américas e do Caribe.
A UNI Américas é o braço continental da UNI-Sindicato Global, que representa mais de 20 milhões de trabalhadores dos setores de serviços em todos os continentes, entre eles os bancários. A conferência, que termina nesta sexta-feira 7, foi precedida de conferências por setores de atividade organizados na UNI Américas, entre eles o de finanças, com a participação de 27 bancários brasileiros (delegados, observadores e convidados) representando a Contraf-CUT.
Sob o tema UNI Américas Rompendo Barreiras, na abertura do segundo dia da conferência o secretário-geral da UNI Mundial, Philip Jenning, o presidente e a secretária-geral da UNI Américas, respectivamente Ruben Cortina e Adriana Rosenzvaig, fizeram um balanço da atuação global e regional, apontando os desafios futuros da central.
`Vocês estão construindo uma nova América`
Na abertura do segundo dia da conferência, em que a Contraf-CUT participou da mesa por intermédio do secretário de Relações Internacionais Mário Raia, Philip Jenning saudou a presença do presidente uruguaio José "Pepe" Mujica no encontro, no dia anterior, para afirmar que os trabalhadores da América Latina estão vivendo uma nova realidade. "As políticas neoliberais do FMI e do Consenso de Washington nasceram aqui e foram enterradas aqui. Hoje celebramos uma nova América por que vocês estão construindo uma nova América", disse o presidente da UNI Mundial.
"Na Europa, estamos ameaçados pela austeridade por causa da irresponsabilidade do capital financeiro. Temos a troika, um demônio de três cabeças, demonizando os sindicatos, retirando direitos dos trabalhadores e provocando miséria", acrescentou Jenning, resssalvando que os sindicatos estão respondendo, com greves gerais, lutando por uma mudança de rumo.
"Hoje as Américas são o lugar de onde o mundo espera soluções, oxigênio, pela experiência de ter rompido com o neoliberalismo", elogiou o dirigente sindical nascido no País de Gales, referindo-se às políticas governamentais de forte caráter social em inúmeros países latino-americanos e à atuação forte do movimento sindical, que tem resultado em ganhos salariais para os trabalhadores.
O presidente da UNI Mundial, no entanto, advertiu que "o trabalho não está terminado" e que há ainda no continente uma grande desigualdade econômica e social a ser superada. Nesse trabalho, afirmou, os sindicatos têm um papel fundamental a desempenhar.
Ele acredita que os acordos marcos globais são o principal instrumento para esse avanço. "Hoje temos 47 acordos globais que estão funcionando e chegaremos a 100 quando fizermos o Congresso na Cidade do Cabo, em 2014", aposta Philip Jenning.
Por sindicatos fortes nas empresas multinacionais
Durante o resto do dia, os delegados discutiram o tema Batendo tambores por sindicatos fortes nas empresas multinacionais, que focalizou as campanhas por direitos de sindicalização nas empresas regionais e globais, como também as campanhas por acordos marcos globais.
O secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia, leu duas moções ao plenário, uma com o mesmo título do tema em discussão, redigida pelo comitê executivo regional UNI Américas, e outra sobre a construção de conselhos de enlaces fortes, apresentada pelo Conselho de Enlace do Brasil. Ambas foram aprovadas por unanimidade.
Sobre a primeira moção, Batendo o tambor por sindicatos fortes em companhias multinacionais, Raia afirmou que essa tarefa "é a obra central de nossa federação global e representa o principal objetivo que adotamos quando a UNI foi criada, há 12 anos".
A moção estabelece um plano de ação para organizar os trabalhadores das multinacionais nos próximos quatro anos. "Ela enfoca a criação ou alianças regionais baseadas em multinacionais e redes de apoio que visam construir força sindical nessas empresas, buscando acordos de estruturação regionais", visando garantir o mesmo padrão de vida dos trabalhadores nos vários países, acrescentou Raia.
Construindo Conselhos de Enlaces Fortes
A segunda moção apresentada pelo secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT relata a experiência do Conselho de Enlace do Brasil, que reúne dirigentes sindicais de dez empresas multinacionais. "Fazemos um apelo à UNI Américas para incentivar a criação de novos conselhos de enlace e fortalecer os comitês existentes, tanto para elevar o nível de organização existentes quanto para promover a colaboração entre as afiliadas em suas campanhas com empresas multinacionais", afirmou o dirigente sindical brasileiro.
"Além disso, a moção propõe que os conselhos de enlace estabeleçam bases de dados para rastrear as políticas de relações de trabalho e as condições em empresas multinacionais para auxiliar a organização de campanhas", concluiu Mário Raia.
Redes sindicais nas multinacionais
O secretário de Organização da Contraf-CUT, Miguel Pereira, fez ao plenário da 3ª Conferência Regional da UNI Américas um relato sobre a organização das redes sindicais em empresas multinacionais, especialmente no setor financeiro (BB, Itaú, Santander, HSBC, BBVA e Scotland Bank).
"As diversas jornadas de luta implementadas nos diversos países apresentaram para os bancários a importância estratégica da unidade da ação sindical articulada e global. O passo mais significativo que já demos foi a assinatura do acordo marco global com o Banco do Brasil, que nos abre a possibilidade de organizarmos sindicatos de bancários nos Estados Unidos, país que reúne cerca de um terços dos trabalhadores do sistema financeiro mundial mas que não possuem organização sindical", afirmou Miguel Pereira.
As práticas antissindicais do Wallmart e da Prosegur
A Conferência dedicou um grande espaço para mostrar e discutir as experiências de luta e organização dos trabalhadores em empresas multinacionais que adotam política francamente antissindical, como por exemplo do Wallmart, a maior empresa de varejo do mundo, e da Prosegur, a companhia de segurança privada que tem 55 mil funcionários no Brasil, operando inclusive nos bancos.
Foi apresentado um vídeo sobre a primeira greve de trabalhadores da história do Wallmart, realizada no Black Friday do último 23 de novembro, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Funcionários da rede de supermercados dos EUA que participaram da organização da greve, do Brasil, da Argentina, da Colômbia e do Chile estiveram na conferência e relataram as terríveis condições de trabalho e a prática antissindical do Wallmart.
O vídeo e os trabalhadores da empresa norte-americana contaram como resistem aos ataques patronais e como estão se organizando. Criaram uma Aliança Sindical Global e marcaram para o dia 14 de dezembro um dia mundial de protestos contra o Wallmart. "Vai acabar a ditadura de Walmart, fruto de capitalismo selvagem e avaro, símbolo do que provocou a crise mundial. Eles terão que negociar", desafia a secretária-geral da UNI Finanças, Adriana Rosenzvaig.
O presidente da brasileira Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), José Boaventura Santos, também relatou a experiência da luta dos trabalhadores da Prosegur, empresa multinacional de segurança que "paga salários aviltantes, impõe jornadas excessivas e não respeita os trabalhadores". A companhia demitiu 300 trabalhadores no Paraguai este ano porque reivindicavam melhores salários e condições de trabalho.
"Nosso objetivo é construir aliança forte para lutar por condições dignas de trabalho, defender o emprego e salário, e continuar vivo", acrescenta Boaventura, referindo-se ao fato de que a empresa em muitos lugares coloca a vida de seus funcionários em risco.
Homenagem aos presos políticos
O segundo dia da Conferência foi encerrado com uma homenagem da UNI Américas aos presos, torturados e assassinados pelas ditaduras militares na América Latina.
A 3ª Conferência Regional da UNI Américas será encerrada nesta sexta-feira com discussão sobre o crescimento e fortalecimento do movimento sindical, as negociações coletivas e o desenvolvimento sustentável.
Fonte: Contraf-CUT