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5º Congresso da Contraf-CUT debate futuro do trabalho e avanços tecnológicos

07/04/2018 - Por Bancários CGR

Professores e acadêmicos apontaram caminhos para superar barreiras do mercado de trabalho
Contraf-CUT / Francine Costa

A mesa de reflexão sobre o Futuro do Trabalho Frente aos Avanços Tecnológicos do 5º Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), coordenada pelo secretário de Saúde do Trabalhador da Confederação, Mauro Salles Machado, contou com a contribuição das economistas Bárbara Vallejos, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e Marilane Teixeira, pesquisadora e assessora sindical, e de Moisés Marques, professor da área de Relações Internacionais e pesquisador associado do centro de estudos e pesquisas 28 de agosto.

Também fizeram parte da mesa a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues, o presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Marcelo de Lima Alves, e o diretor do Sindicato dos Bancários de Campinas e Região, Lourival Rodrigues.

Tecnologia X Emprego A economista Bárbara Vallejos, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresentou um panorama do mercado de trabalho no setor financeiro a partir da implantação de um conjunto de novas tecnologias pelos bancos e a consequente mudança do perfil do emprego e das competências exigidas dos bancários.

“Uma das consequências das mudanças advindas desta reestruturação do sistema financeiro é a redução dos postos de trabalho, que sofreu uma baixa de mais de 58 mil vagas entre 2013 e 2018”, disse a economista.

Segundo levantamento do Dieese, com base em informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o número de bancários no país sofreu uma redução de 46% desde o ano de 1990, quando eram 732 mil, até 2003, quando chegou a 393 mil. De 2004 a 2012, houve uma reversão deste quadro, com um aumento de 30% do número de trabalhadores do setor, chegando a 513 mil ao final deste período. Desde então, este número não para de cair, chegando ao final de 2016, segundo dados da RAIS, a 486 mil empregos bancários.

Pesquisa Mensal do Emprego Bancário, realizada pelo Dieese a partir dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que esta tendência de redução de postos de trabalho no setor continuou em 2017 e 2018, com redução de 18.295 postos de trabalho.

“Wazerização” do mercado de trabalho Ao falar sobre “O futuro do Trabalho”, o professor Moisés Marques, observou que há bastante tempo se fala da indústria 4.0, de como ela afeta o trabalho como um todo e particularmente o trabalho bancário. “No Fórum Social Mundial, um painel mostrou que 56% das crianças de hoje vão trabalhar, quando crescer em algum emprego que não existe hoje. A automação e a inteligência artificial vai eliminar boa parte dos empregos atuais”, observou o professor.

Para Marques, no futuro haverá ainda menos emprego do que existe hoje e também haverá mudanças na forma como as pessoas vão se credenciar para conseguir continuar trabalhando. “A tecnologia aproxima mais as pessoas, cria mercados, facilita uma série de processos e operações e diminui custos. Vemos isso nas empresas de hospedagem e hotelaria que não tem hotel, pois eles geram custos, companhias de táxis, que não possuem veículos. Criaram uma modalidade empresas que vende um produto sem ter esse produto. No setor bancário muitos trabalhadores atuam em homeoffice, usando seus próprios equipamentos”, disse.

Ao contrário de algumas pessoas, que estão chamando de “uberização”essa nova característica de trabalho. Marques prefere denominar como “wazerização”. “Os bancos, por exemplo, estão levando os clientes para um lugar, mas sem um caminho testado. Provavelmente vão levá-los a passar no meio de um tiroteio”, afirmou o professor, lembrando que pessoas já foram alvejadas com tiros no Rio de Janeiro ao seguir por um trajeto indicado pelo Waze, e que o mesmo aplicativo criou um nó no transito de São Paulo após um erro em seu sistema operacional.

“Temos que explorar as falhas nas teconologias. Pois as empresas que as utilizam falam das vantagens, mas existe um outro lado que nem sempre é divulgado. Também não podemos deixar de observar e mostrar que os bancos reduziram seus custos com o uso do tecnologia, mas os clientes pagam cada vez mais caro pelos serviços que na maioria das vezes eles mesmos têm que executar”, completou.

Um novo modelo de sociedade A partir dos problemas mostrados anteriormente por Moisés Marques, a economista Marilena Teixeira ajudou a refletir sobre o futuro do trabalho a ser construído. “Para nós, o futuro do trabalho está intimamente ligado à idéia de acabar com a pobreza, gerar riqueza e reduzir as desigualdades. No entanto, com os avanços tecnológicos e as mudanças corporativas, o mundo do trabalho no Brasil e no mundo não necessariamente tem evoluído para o que queremos”.

Para Marilena, estamos em um momento decisivo, de mudança civilizatória profunda. “Não se trata apenas de uma crise. Esta mudança civilizatória implica na mudança da forma dos humanos se relacionarem e isso passa por meios e mídias digitais. É a transformação do modelo de sociedade. Por isso, a gente precisa pensar a sociedade a partir de que estado queremos, que estado vamos tentar construir e isso tem tudo a ver com a disputa que está colocada na sociedade, disputa essa que não é temporal, mas sim estrutural”.

Segundo a pesquisadora, o capitalismo está inviabilizando a entrada no mercado de trabalho e tirando o valor de quem trabalha para dar valor a quem emprega. “Esse movimento mudou o ciclo que vínhamos vivendo de tirar a população da miséria. Que tipo de sociedade queremos no momento em que ela é capaz de gerar emprego de baixa qualidade e sem garantias sociais? O futuro do trabalho está sendo construído, está sendo enfrentado e vai depender da nossa força na disputa da sociedade. E a gente precisa mudar as relações pessoais de formas digitais, sem o diálogo com a sociedade como um todo”.

Marilena encerrou sua participação listando os desafios para o futuro do mundo do trabalho. “Qual o nosso espaço de disputa na sociedade frente a essas novas tecnologias. Nós podemos enfrentar, colocar esse debate de que tipo de tecnologias queremos, para isso temos que fazer o Estado recuperar seu papel de impulsionador e gerador desses avanços. Para isso, a disputa tem de ser feita agora, nesta conjuntura. Combater a reforma trabalhista hoje, por exemplo, é central para a construção da sociedade futura que queremos”.

Para Bárbara Vallejos, a classe trabalhadora precisa ter a clareza de que a tecnologia não é autonoma. “Ela transforma as relações de trabalho, mas não advoga a favor das formas precárias de trabalho, quem faz isso são os banqueiros” disse.

“Os bancos afirmam que há uma tendência de extinção da categoria bancária no Brasil. Nós não podemos esquecer que existe um milhão de traballhadores no sistema financeiro do país e que eles são imprescindíveis para o funcionamento do sistema”, afirmou a economista do Dieese ao observar que os bancos estão aumentando o número de trabalhadores de outras categorias que atuam no segmento e reduzindo os bancários.

“Os sindicatos precisam se preparar para englobar em sua base todos os trabalhadores que atuam no sistema financeiro. Existem 34 categorias que atuam no sistema financeiro e apenas 22 fazem parte da base dos sindicatos dos bancários”, observou a economista.

 

Fonte: Contraf-CUT

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