Artigo: A porta que traz segurança nos bancos

06/08/2010 - Por Bancários CGR

A violência é um dos graves problemas do Brasil que desafia governos e sociedade. As causas são múltiplas e complexas, desde a exclusão social, a falta de oportunidades, a desestruturação familiar, a carência de políticas públicas, as injustiças sociais, a crise do sistema prisional até o descaso de muitas autoridades e empresas. Medidas preventivas, estruturantes e eficientes precisam ser aprofundadas, buscando avanços e sem retrocessos. Cada um deve fazer a sua parte para enfrentar essa realidade, a fim de proteger a vida e garantir segurança.

Nas instituições financeiras, diante da onda de assaltos e seqüestros e da necessidade de eliminar riscos, bancários e vigilantes têm procurado soluções. A lei federal n° 7.102/83, que trata da segurança nos estabelecimentos bancários e que vários bancos vêm descumprindo, precisa ser atualizada para que haja um ambiente seguro e agradável.

Uma das medidas que os trabalhadores defendem é a instalação da porta individualizada de segurança com detectores de metais em todos os acessos destinados ao público. Trata-se de um equipamento já implantado em diversos países, com bons resultados, aumentando a segurança e contribuindo para evitar ataques de quadrilhas.

No Brasil, essa porta giratória começou a ser introduzida no final dos anos 90 em várias agências e postos, após a importante decisão do STF que julgou constitucionais leis municipais com tal finalidade. Entretanto, diversas cidades ainda não possuem tal legislação e vários bancos se limitam a colocá-las em locais de maior risco.

Tal porta contribuiu na redução dos assaltos a bancos desde que foi implantada. Dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostram que em 2000 aconteceram 1.901 roubos em todo país, que caíram para 430 em 2009. Esses números ainda preocupam e revelam a necessidade de ampliar medidas de prevenção.

Desta forma, é inconcebível a remoção das portas giratórias, que foi anunciada recentemente pelo Itaú Unibanco, que pretende retirar esse equipamento em até 70% das cerca de 5 mil agências, mantendo-a somente em praças onde há legislação e em regiões mais perigosas ou próximas de rotas de fuga.

O banco não ouviu os seus funcionários, chamados de colaboradores, nem dialogou com o movimento sindical. Os clientes também não foram consultados. Aliás, o banco chegou a fazer uma oportuna propaganda na televisão, explicando as vantagens da porta de segurança e dando orientações sobre os procedimentos. O processo de fusão do Itaú e Unibanco em andamento precisa valorizar as pessoas.

A intenção do banco é que as agências ganhem cada vez mais ares de loja, de vitrine. A retirada das portas seria compensada com novo sistema de cofre. O banco deveria saber que possui a mercadoria mais cobiçada na face da terra. O que deve ser feito é a melhoria das instalações de segurança, além de contratar mais funcionários e praticar a venda responsável de produtos.

Nada justifica a retirada das portas giratórias, que precisam ser colocadas antes da sala de autoatendimento das agências. Conforme dados do Banco Central, 29% das transações ocorrem hoje nos caixas eletrônicos. Essa parte da agência não pode ficar desprotegida. A Polícia Federal já obriga a presença de um vigilante armado nesse espaço. Além disso, equipamentos de prevenção devem ser instalados em lotéricas, cooperativas de crédito, agências do banco postal e correspondentes bancários, onde hoje não têm segurança.

Eventuais inconvenientes ocorrem quando tal porta não está regulada adequadamente. Para tanto, os vigilantes necessitam de treinamento apropriado e específico, bem como suporte operacional e técnico, além de apoio psicológico para lidar com problemas mentais e emocionais, que trazem estresse e adoecimento. Isso podia ter evitado a tragédia da morte do aposentado que tinha marcapasso numa agência em São Paulo.

As ações de clientes que se sentem constrangidos nas portas giratórias não devem ser muitas. Certamente são reduzidas, diante de milhares de reclamações contra as filas, as elevadas taxas de juros e as cobranças abusivas de tarifas. Não é à toa que o Ministério da Justiça e o Banco Central assinaram acordo para fiscalizar bancos e monitorar queixas de clientes feitas nos Procons.

Nos aeroportos, por oportuno, existe um tripé de segurança que deveria ser adotado pelos bancos: equipamentos adequados, treinamento dos trabalhadores e esclarecimento aos usuários. Desta forma, todos os passageiros são submetidos a revistas obrigatórias antes do embarque, passando por rigorosos detectores de metais. Ninguém reclama de eventuais constrangimentos, como retirar o cinto, sapatos e objetos. O que importa para cada pessoa é fazer uma viagem com segurança e chegar com vida no destino escolhido.

Conforme a legislação federal, os bancos devem ter vigilantes armados, alarme operante e outro equipamento. Além dessas portas, são importantes as câmeras de filmagem com monitoramento em tempo real, vidros blindados nas fachadas e divisórias individualizadas na bateria de caixas e nos caixas eletrônicos. Tais procedimentos são também fundamentais para combater o crime de “saidinha de banco”.

Os bancos lucraram R$ 37,4 bilhões no ano passado. Dados do Banco Central revelam que hoje 31% das operações são realizadas pela internet, reduzindo ainda mais os seus custos. Parte desses ganhos precisa ser repassada para a melhoria da segurança, a geração de empregos, a redução de juros e tarifas e a valorização dos trabalhadores, como forma de responsabilidade social.

A porta giratória não é um equipamento para barrar clientes e usuários, mas sim um instrumento para trazer segurança. No primeiro semestre deste ano, 11 pessoas morreram em ataques a bancos no País. O maior patrimônio que existe é a vida das pessoas e ela precisa ser colocada em primeiro lugar.

Carlos Cordeiro, economista e presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

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