Bancos geram 11.978 empregos, mas demitem mais no primeiro semestre
30/08/2011 - Por Bancários CGR
Apesar de criar 11.978 empregos em todo país no primeiro semestre de 2011, os bancos aumentaram o número de demissões e intensificaram a prática de usar a rotatividade para diminuir o salário dos bancários e aumentar os lucros. Os números da Pesquisa de Emprego Bancário, elaborada com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram 18.559 desligamentos nos primeiros seis meses do ano. Desde 2009, quando a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) começaram a realizar o levantamento, foram registrados 82.001 desligamentos nos bancos.
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Os empregos gerados no 1º semestre são o resultado de 30.537 admissões e 18.559 desligamentos. Esse saldo positivo significa expansão de 2,48% no emprego bancário. Na comparação com o saldo de 1.265.250 postos gerados em todos os setores da economia no primeiro semestre, os bancos contribuíram com apenas 0,95% do total. No mesmo período, a remuneração média dos bancários admitidos foi de R$ 2.497,79, valor 38,39% menor que a média dos desligados, de R$ 4.054,14.
"Esse número descabido de desligamentos comprova a estratégia dos bancos de utilizar a rotatividade para reduzir gastos com a folha de pagamento e aumentar ainda mais os seus lucros estrondosos, que superaram R$ 23 bilhões no primeiro semestre", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
"A ameaça de demissão paira sobre as cabeças dos bancários e serve como pressão para o cumprimento de metas abusivas e de combustível para o assédio moral. Precisamos de garantias que protejam o emprego dos bancários, como a ratificação a Convenção 158 da OIT que impede as dispensas imotivadas", sustenta Cordeiro. Por isso, o emprego decente é o tema central da Campanha Nacional dos Bancários 2011, cujas negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) começam nesta terça e quarta-feira (30 e 31), em São Paulo.
Contratações nas faixas de remuneração mais baixas
Outro dado que aponta a estratégia dos bancos de aumentar lucros por meio das demissões mostra que, entre janeiro e junho, as faixas de remuneração de até 3 salários mínimos tiveram saldo positivo, totalizando 16.231 novos postos de trabalho. O maior saldo de empregos foi registrado para a faixa de remuneração entre 2 e 3 salários mínimos, responsável pela geração de 15.020 vagas.
Já todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos tiveram saldo negativo de geração de empregos, com destaque para a faixa entre 3 e 4 salários mínimos que apresentou o saldo negativo mais expressivo, com o fechamento de 1.196 vagas.
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A rotatividade do setor financeiro também é demonstrada pelos dados relativos ao tempo de serviço dos desligados no primeiro semestre.
Os trabalhadores com até um ano de banco somam 19,62% total de 18.559 demissões e aqueles que estavam há mais de 1 e menos de 5 anos no emprego, representam 37,43% do total de demissões. Dos trabalhadores desligados, 26,08%, estavam no emprego há 10 anos ou mais e recebiam remuneração média de R$ 5.022,53, demonstrando a estratégia de dispensar os empregados mais antigos para reduzir os custos dos bancos.
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Sem perspectiva de carreira
Os dados do CAGED mostram que, no primeiro semestre, houve crescimento das demissões sem justa causa, que representava 42,02% dos desligamentos no primeiro semestre de 2010 e passou para 46,81% do total de desligamentos no mesmo período de 2011.
A saída do emprego por iniciativa do próprio bancário foi responsável por 46,99% do total de desligamentos nos bancos. As aposentadorias, por sua vez, correspondem a apenas 1,60% dos casos de desligamento, totalizando 297 bancários. Esse número, no entanto, está subavaliado, na medida em que alguns bancos federais classificam o desligamento por aposentadoria como "demissão a pedido". A remuneração média para aposentados no setor foi de R$ 2.851,29.
"Os números mostram os efeitos perversos da enorme rotatividade e da política discriminatória de remuneração dos bancos, que fazem com que a profissão de bancário deixasse de ser valorizada. Cada vez menos se vê possibilidade hoje de fazer uma carreira num banco, pois o trabalhador sabe que será demitido ou adoecerá diante das precárias condições de trabalho", avalia Carlos Cordeiro.
TABELA 9
Desligados e remuneração média por tipo de desligamento
Brasil - Janeiro a Junho de 2011
Tipo de Desligamento |
Desligados |
||
Nº de trabalhadores |
Part. (%) |
Rem. Média |
|
Desligamento por demissão sem justa causa |
8.687 |
46,81% |
4.005,90 |
Desligamento por demissão com justa causa |
519 |
2,80% |
3.060,64 |
Desligamento a pedido |
8.721 |
46,99% |
4.250,52 |
Desligamento por término de contrato |
126 |
0,68% |
2.913,49 |
Desligamento por aposentadoria |
297 |
1,60% |
2.851,29 |
Desligamento por morte |
119 |
0,64% |
4.104,89 |
Término de contrato de trabalho por prazo determinado |
90 |
0,48% |
910,71 |
Total |
18.559 |
100,00% |
4.054,14 |
Fonte: MTE. CAGED
Elaboração: DIEESE. Subseção Contraf-CUT
Desigualdade de gênero persiste nos salários
As mulheres ocuparam 50,14% do total de vagas criadas nos primeiros seis meses no setor bancário, totalizando 6.006 postos de trabalho, enquanto 5.972, ou 49,86% do total, foram ocupados por homens.
TABELA 3
Admitidos, desligados e remuneração média por gênero
Brasil - Janeiro a Junho de 2011
Gênero |
Admitidos |
Desligados |
Saldo |
Diferença da Rem. Média (%) |
||||
Nº de trabalhadores |
Part. (%) |
Rem. Média |
Nº de trabalhadores |
Part. (%) |
Rem. Média |
|||
Masculino |
15.940 |
52,20% |
2.842,18 |
9.968 |
53,71% |
4.644,93 |
5.972 |
-38,81% |
Feminino |
14.597 |
47,80% |
2.121,72 |
8.591 |
46,29% |
3.368,66 |
6.006 |
-37,02% |
Total |
30.537 |
100,00% |
2.497,79 |
18.559 |
100,00% |
4.054,14 |
11.978 |
-38,39% |
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE - Subseção Contraf-CUT
A análise da remuneração média revela que os valores pagos tanto para as trabalhadoras admitidas quanto para as desligadas é inferior aos dos homens. As mulheres desligadas saíram do banco com rendimento médio de R$ 3.368,66, um valor 27,48% inferior àquele auferido pelos homens (R$ 4.644,93). Na contratação, as mulheres recebem, em média, R$ 2.121,72, valor 25,35% a menos do que a remuneração dos homes, em média de R$ 2.842,18.
TABELA 4
Remuneração Média dos admitidos e desligados, por gênero
Brasil - Janeiro a Junho de 2011
Remuneração Média (em R$) |
Masculino |
Feminino |
Diferença em % Remuneração Média |
Admitidos |
2.842,18 |
2.121,72 |
-25,35% |
Desligados |
4.644,93 |
3.368,66 |
-27,48% |
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE - Subseção Contraf-CUT
Norte e Nordeste são destaque entre as regiões
Os dados mostram também crescimento percentual no número de empregos nos bancos nas regiões Norte e Nordeste acima da média nacional. As novas vagas criadas significam expansão de 7,17% do emprego bancário na região. O Nordeste também apresentou expressivo aumento do emprego (6,07%), como resultado de um saldo positivo de 3.506 vagas geradas no período analisado. Na média nacional, o incremento das vagas ficou em 2,48%.
Entretanto, em termos absolutos, a região Sudeste registrou o maior saldo de emprego, com a geração de 4.794 vagas. No extremo oposto, a região Centro-Oeste apresentou o menor saldo, com a criação de 973 postos de trabalho em 2011.
TABELA 1
Expansão do Emprego por Região Natural
Brasil - Janeiro a Junho de 2011
Região do País |
Número de Trabalhadores em dez/2010(1) |
Saldo de emprego 2011 |
Expansão do emprego |
Norte |
16.151 |
1.158 |
7,17% |
Nordeste |
57.724 |
3.506 |
6,07% |
Sudeste |
294.093 |
4.794 |
1,63% |
Sul |
69.748 |
1.547 |
2,22% |
Centro-Oeste |
45.381 |
973 |
2,14% |
Total |
483.097 |
11.978 |
2,48% |
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE - Subseção Contraf-CUT
1) Dados extraídos da RAIS/MTE 2010
Contudo, os números revelam uma grande disparidade de remuneração entre as regiões. Na região Norte, a remuneração média de admissão foi de R$ 1.581,90, aproximadamente 46,70% inferior à remuneração de admissão registrada na região Sudeste, que foi de R$ 2.972,23.
Além disso, a diferença de remuneração entre desligados e contratados também é maior fora do Sudeste, atingindo impressionantes 52,78% no Centro-Oeste. Em todas as regiões os salários dos novos funcionários foi ao menos 45% menor que o daqueles que deixaram as empresas - com exceção do Sudeste, onde essa diferença ficou em 29,24%.
"Esses dados comprovam que os bancos adotam uma remuneração diferenciada por regiões, discriminando os que estão fora do eixo Sul-Sudeste, o que reforça ainda mais a luta dos bancários por igualdade de oportunidades", conclui o presidente da Contraf-CUT.
TABELA 2
Movimentação e Remuneração Média dos Trabalhadores, por região natural
Brasil - Janeiro a Junho de 2011
Região do País |
Admitidos |
Desligados |
Saldo |
Diferença da Rem. Média (%) |
||||
Nº de trabalhadores |
Part. (%) |
Rem. Média |
Nº de trabalhadores |
Part. (%) |
Rem. Média |
|||
Norte |
1.703 |
5,58% |
1.581,90 |
545 |
2,94% |
2.898,95 |
1.158 |
-45,43% |
Nordeste |
5.055 |
16,55% |
1.717,93 |
1.549 |
8,35% |
3.400,79 |
3.506 |
-49,48% |
Sudeste |
17.802 |
58,30% |
2.972,23 |
13.008 |
70,09% |
4.200,41 |
4.794 |
-29,24% |
Sul |
3.874 |
12,69% |
2.062,20 |
2.327 |
12,54% |
3.956,33 |
1.547 |
-47,88% |
Centro-Oeste |
2.103 |
6,89% |
1.900,30 |
1.130 |
6,09% |
4.024,58 |
973 |
-52,78% |
Total |
30.537 |
100,00% |
2.497,79 |
18.559 |
100,00% |
4.054,14 |
11.978 |
-38,39% |
Fonte: MTE CAGED
Elaboração: DIEESE - Subseção Contraf-CUT
Balanços mostram Itaú e Santander na contramão
A Pesquisa de Emprego Bancário traz ainda uma analise da movimentação de pessoal registrada no balanço dos cinco maiores bancos brasileiros. Em junho de 2011, o total de funcionários dos cinco maiores bancos do país - Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander - atingiu 466.053 trabalhadores. Os números dizem respeito a todos os funcionários da holding.
Enquanto o CAGED registrou expansão de 2,48% do emprego bancário no primeiro semestre de 2011, os balanços dos cinco maiores bancos brasileiros apresentaram expansão menor, de 1,37% do quadro de funcionários (incluindo trabalhadores bancários e não bancários).
TABELA 10
Estoque de funcionários nos cinco maiores bancos do país
Brasil - Dezembro/10 a Junho/2011
Instituição |
Total de Empregados |
Saldo em 2011 |
Variação dez/10 - jun/11 |
||
dez/10 |
mar/11 |
jun/11 |
|||
Banco do Brasil |
118.879 |
120.797 |
122.409 |
3.530 |
2,97% |
Bradesco |
95.248 |
96.749 |
98.317 |
3.069 |
3,22% |
CEF |
83.185 |
83.504 |
84.420 |
1.235 |
1,48% |
Itau |
108.040 |
109.836 |
107.546 |
(494) |
-0,46% |
Santander* |
54.406 |
54.375 |
53.361 |
(1.045) |
-1,92% |
Total |
459.758 |
465.261 |
466.053 |
6.295 |
1,37% |
*Sendo 6.000 no exterior
Fonte: Relatório de administração dos bancos
Elaboração: DIEESE. Subseção Contraf-CUT
Os saldos mais preocupantes no fechamento do primeiro semestre de 2011 são dos bancos Santander e Itaú, pois encerraram o período com saldos negativos em 1.045 e 494 postos de trabalho, respectivamente, em relação a dezembro de 2010.
Em dezembro de 2010, o número de funcionários do Itaú era de 108.040 trabalhadores. Em março de 2011, esse total subiu para 109.836 pessoas (elevação equivalente à 1,66%), todavia, entre março e junho de 2011, houve redução do quadro de funcionários em 2.290 postos, atingindo a marca de 107.546 empregados. Esses valores significam queda de 0,45% em relação a dezembro de 2010 e de 2,08% em relação a março de 2011.
No Santander, o número total de funcionários em dezembro de 2010 era de 54.406 trabalhadores. Ao final do primeiro semestre de 2011, o número registrado foi 53.361 (queda, também, de aproximadamente 2% em relação a dezembro). Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco apresentaram saldo positivo em 3.530, 1.235 e 3.069, respectivamente.
"Os bancos privados, especialmente o Itaú e o Santander, atuaram na contramão do setor financeiro e da economia brasileira, ao cortarem empregos no primeiro semestre, apesar de seus lucros astronômicos. Essas instituições estão devendo contrapartidas sociais para o desenvolvimento do Brasil", afirma Carlos Cordeiro.
Fonte: Contraf-CUT