Bancos provisionam 170% do total de créditos em atraso, aponta DCI

17/08/2011 - Por Bancários CGR

Em reportagem do Diário do Comércio e Indústria (DCI) de São Paulo, a postura conservadora dos bancos em relação aos riscos ficou nítida depois da divulgação dos balanços do primeiro semestre de 2011. Para especialistas, a posição demonstra cautela em relação a uma contínua alta da inadimplência, em consequência do encarecimento do crédito e do aumento da inflação, da possível crise sistêmica mundial e da preparação para o Basileia III, com regras que exigem aumento de capital em 2014.

De acordo com o Informativo Semanal de Economia Bancária da Federação Brasileira de Bancos(Febraban), que contempla cerca de 85% dos ativos totais, a média do Índice de Basileia entre as instituições financeiras é de 16,4% no período de abril a junho de 2011, acima dos padrões mundiais e do exigido pelo Banco Central, de 11%.

A inadimplência ficou em 3,48% no total das carteiras, com índice de cobertura de mais de 170%, isto é, a relação saldo de provisão e operações em atraso. "A proporção é elevada, acima de antes da crise de 2008, quando os bancos elevaram suas provisões antecipadamente para fazer frente ao cenário adverso", direciona o informativo.

O analista de bancos da Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu, destaca que as instituições estão alinhadas com a conjuntura atual e futura. "Estão preparados para uma possível alta da inadimplência e também para a Basileia III, que exigirá capital mais puro."

Para o professor Alexandre Galvão, do Ibmec, há expectativa diante das incertezas da economia. "Está relacionado à inadimplência, que sinaliza para os bancos a retração do ritmo de crescimento do crédito. Na minha opinião, a postura conservadora não demonstra riscos ao sistema no momento. Se houver retração maior do crédito, então teria impacto no consumo e empresas."

Dos cinco grandes bancos nacionais, o Santander mantém o maior Índice de Basileia, 21,4%. Em seguida está o Itaú Unibanco, com 16,1%, e o Bradesco, de 14,7%. A Caixa Econômica Federal mantém índice de 14,6%, e o Banco do Brasil ficou em 14,4%.

O índice de inadimplência acima de 90 dias atingiu 5,1% em julho, com 6,4% em pessoa física e 3,8% em jurídica, de acordo com o Banco Central. Como estratégia de preparação para a alta dos índices de inadimplência, os bancos elevam o saldo de provisões para crédito de liquidação duvidosa. Na soma das cinco instituições, o total chega a R$ 79,266 bilhões. Em março de 2011, o saldo chegava a R$ 77,699 bilhões.

Santacreu ressalta que não houve mudança abrupta do saldo de provisão. "Em 2009, os bancosrealizaram uma provisão adicional. Desde então, trabalham com um saldo de provisão superior ao exigido pelo Banco Central por conta dos problemas ocorridos em 2009." Para o analista, a postura conservadora do sistema bancário brasileiro é positiva. "Antecipa uma expectativa de atraso e ser conservador é melhor do que não provisionar. Na minha opinião, o BC prefere isto a banco que não tem o saldo."

A relação provisão e inadimplência resulta no índice de cobertura que, na média, passa de 170%, de acordo com a Febraban. Ao fim de junho, a Caixa atingiu índice de 310% em operações com mais de 90 dias de atraso. "Suficiente e dentro dos patamares de prudência para cobrir os valores dos saldos inadimplentes", diz nota de divulgação do balanço , que totalizou R$ 12,857 bilhões em saldo de provisão, com inadimplência na faixa de 2,1%.

O Banco do Brasil também manteve a prudência na gestão de risco de crédito. O saldo de provisão encerrou o trimestre em R$ 17,7 bilhões, com índice de cobertura de 226,5% em dívidas acima de 90 dias. "O banco demonstra capacidade de expandir com segurança. A inadimplência está sob controle e com amplitude de cobertura", declarou o presidente da instituição, Aldemir Bendine, na divulgação do balanço semestral. Ao final de junho, a inadimplência ficou em 2%.

O nível de atrasos em pessoa física do Bradesco passou de 6,3% para 5,7% da carteira total. Mesmo diante da queda, os níveis de provisão continuam em alta, para R$ 17,365 bilhões, com índice de cobertura acima de 90 dias em 189%. "Optamos por adotar essa postura para dar maior segurança à nossa operação", explicou Domingos Abreu, vice-presidente executivo do Bradesco.

O Itaú Unibanco apresentou queda no índice de cobertura em junho, de 173% em março para 166%. O saldo de provisão aumentou 7%, para R$ 23,775 bilhões. Já o Santander elevou a cobertura para operações vencidas há mais de 90 dias, de 142,2% no primeiro trimestre deste ano para 143% em junho, com provisão em R$ 7,569 bilhões.

Fonte: Contraf-CUT com DCI

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