Bancos são responsáveis por informações negociadas por quadrilhas, diz Contraf
06/09/2011 - Por Bancários CGR
A edição do fantástico de domingo, 4 de setembro, exibiu reportagem  sobre quadrilhas que negociam dados confidenciais de clientes bancários,  aposentados e donos de automóveis. A Polícia Federal, o Ministério  Público e a Polícia Civil de São Paulo investigam há mais de um ano as  denúncias do esquema de vazamento de informações sigilosas.
 
 Para o secretário de Organização do Ramo Financeiro, Miguel Pereira, a  maneira generalizada com o que os dados dos clientes são expostos revela  a irresponsabilidade das instituições financeiras com o sigilo  bancário, o que é muito sério e leva a outro problema constantemente  denunciado que é a precariedade existente no processo de terceirização. 
 
 "As instituições financeiras abrem os dados cadastrais dos clientes a  empresas terceirizadas e quarteirizadas. As investigações devem  continuar para que fiquem demonstradas os responsáveis. O certo é que a  terceirização dos dados de clientes, do cadastro a movimentação  financeira, facilitam essas ocorrências", afirma Miguel. 
 
 Segundo Miguel, é dever da Fenaban prestar esclarecimentos sobre o  vazamento das informações porque evidencia o que acontece quando se  terceiriza o trabalho bancário como atividade fim. "Os clientes possuem  uma relação com os bancos, não só do ponto de vista da prestação de  serviços, mas também de suas informações financeiras", sustenta Miguel. 
 
 > Clique aqui para acessar na íntegra o vídeo da reportagem
 
 A reportagem aponta que em São Paulo, pelo menos 12 pessoas estão sendo  investigadas. O advogado Carlos Alberto Martins, que mora em Lençóis  Paulista, interior do estado, é acusado pelo Ministério Público de ser  um dos compradores das informações sigilosas. Em gravações telefônicas,  ele foi flagrado negociando bancos de dados com um homem identificado  pela polícia como César Mansani. 
 
 Segundo as investigações, o advogado Carlos Alberto Martins, que foi  duas vezes vereador de Lençóis Paulista, usou dados sigilosos para  aplicar um golpe milionário. Em apenas um ano, o de 2010, a Justiça de  Birigui, a 220 quilômetros de Lençóis Paulista, recebeu 192 ações  suspeitas. Todas com o mesmo objetivo: cobrar as perdas de quem tinha  caderneta de poupança na época do Plano Collor 1, de 1990. 
 
 Somando as 192 ações, o valor solicitado passa de R$ 1.250 milhão.  Anexados aos processos, estão extratos bancários informando quanto o  cliente tinha na época. Segundo a investigação, os papéis são  verdadeiros e fazem parte dos dados sigilosos comprados pelo advogado  Carlos Alberto Martins. 
 
 O Ministério Público estima que o golpe das ações tenha rendido cerca de  R$ 20 milhões à quadrilha. A Justiça de Birigui condenou Carlos Pasqual  Júnior a pagar multa e indenizações equivalentes a R$ 263 mil. "Esse  advogado, ficou provado que ele fazia parte do esquema", contou o  delegado Nelson Barbosa Filho, da seccional de Araçatuba (SP). 
 
 Os bancos dizem que, nos últimos anos, identificaram diversas fraudes  praticadas por advogados especializados em ações de planos econômicos,  como adulteração de extratos e apresentação de procuração falsa na  agência bancária para conseguir informações dos clientes. 
 
 "Houve outro caso, em Maringá, onde uma instituição procurava obter  ilegalmente informações sobre clientes para repassar a escritórios de  advogados. Infelizmente, há essas quadrilhas organizadas para fraudar os  bancos e fraudar também os consumidores", afirmou Murilo Portugal,  presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). 
 
 Mas por que as ações que cobram perdas da poupança de 20 anos atrás  ainda despertam tanto interesse dos advogados? O principal motivo é que  ainda é possível recorrer à Justiça. 
 
 "Veja se existe alguma ação civil pública em seu beneficio e recorra à  Justiça, pedindo a satisfação do seu crédito. Na época, havia 70 milhões  de cadernetas de poupança. No entanto, estima-se que pouco mais de um  milhão de pessoas recorreram à Justiça", estima Maria Elisa Cesar  Novais, gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor  (Idec). 
 
 "É uma situação em que todos os clientes de fato correm sérios riscos.  Todos têm acesso aos dados. Sem dúvidas, os bancos são os responsáveis  por isso", conclui Miguel. 
 
Fonte: Contraf-CUT com Bruno F. e Maurício T.- Fantástico
