BB, Caixa e BNDES `estabilizaram` economia após crise de 2008, confirma Ipea
15/08/2011 - Por Bancários CGR
Tornou-se senso comum dizer que o crédito fornecido por Banco do Brasil,  Caixa Econômica Federal e BNDES impediu que a economia brasileira  afundasse em recessão após o estouro da crise financeira internacional,  em 2008. Pois esse senso comum, ao contrário de muitos outros, está  corretíssimo.
 
 É o que confirma um novo estudo lançado pelo Instituto de Pesquisa  Econômica Aplicada (Ipea) nesta semana, com a análise do perfil dos  desembolsos executados por instituições financeiras públicas e privadas  entre 2003 e 2010 - os anos do governo Lula. O trabalho aponta que os  bancos privados, tomados pelo "pânico", restringiram fortemente o  crédito durante a crise, após cinco anos seguidos de aceleração da  oferta. 
 
 Em ação anticíclica, as instituições públicas ampliaram os desembolsos,  contribuindo para que a instabilidade econômica não passasse de  "marolinha" - expressão introduzida na época pelo ex-presidente Lula ao  vernáculo econômico.
 
 "Desde 2004 nós vivíamos um ciclo único de expansão do crédito na  história brasileira. No início, os bancos privados expandiam suas  operações até com mais intensidade do que os públicos. Em 2008, porém,  começou a crise financeira internacional, e as instituições privadas  passaram a ter uma atuação muito conservadora. Os bancos públicos  assumiram, então, a estratégia de expandir suas operações de crédito",  explica Victor de Araújo, um dos autores da pesquisa, intitulada "Banco  do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal: a atuação dos bancos  públicos federais no período 2003-2010".
 
 Os dados indicam que a economia brasileira conviveu com uma estável  relação crédito/PIB entre 2001 e 2004, em torno de 26%. A partir de  2005, a curva voltou-se para cima, estimulada pela difusão de  perspectivas positivas para a economia brasileira. A relação crédito/PIB  passou a subir com intensidade, mesmo durante estouro da crise de 2008 -  chegou a 28% em 2005, a 31% em 2006, a 35% em 2007, a 40% em 2008, a  44% em 2009, a 46% em 2010 e a 47%, no primeiro semestre de 2011. 
 
 "Após a crise, essa expansão só foi possível por causa da atuação dos  bancos públicos, que supriram a lacuna dos privados", aponta Araújo.
 
 As instituições privadas nacionais lideraram a taxa de crescimento real  do estoque de crédito até 2007. Em média, esse índice avançou 8,7% em  2004 (ante 2,5% entre os bancos públicos), 23,9% em 2005 (14,8%), 17,5%  em 2006 (15,8%) e 25,9% em 2007 (10,2%). A partir de 2008, Banco do  Brasil, Caixa e BNDES tomaram a dianteira. As operações cresceram 27,0%  entre essas instituições em 2008 (ante 16,5% entre as privadas) e 34,3%  em 2009 (9,8%). Apenas em 2010 os bancos privados voltaram a liderar a  expansão (10,2% ante 9,1%).
 
 Além da atuação anticíclica em momentos de crise, o estudo do Ipea  afirma que as instituições públicas desempenham no Brasil a função de  estímulo ao desenvolvimento, sobretudo ao fornecerem linhas de crédito  de longo prazo ou de maior risco - pouco disponíveis pela banca privada.  Nesse aspecto, destaca-se a atuação do BNDES para o fomento da  indústria, do BB para a agricultura, e da Caixa para o setor da  habitação.
 
 Isso é possível porque a atuação dos bancos públicos está associada à  gestão de "fundos de natureza para-fiscal", que possibilitam fontes  estáveis de recursos de baixo custo. Por exemplo, o Fundo de Garantia  por Tempo de Serviço (FGTS) é gerido pela Caixa, o Fundo de Amparo ao  Trabalhador (FAT) é administrado pelo BNDES, e linhas de desenvolvimento  regionais, como o Fundo Constitucional de Financiamento para o  Centro-Oeste (FCO), estão sob responsabilidade do BB.
 
 Outra fonte de recursos, explica o estudo, provem das exigibilidades  sobre os depósitos bancários (depósito à vista e caderneta de poupança),  que também condicionam o padrão de atuação dos bancos públicos  federais. Isso porque o conjunto das instituições financeiras deve  alocar 25% dos depósitos à vista e 40% da poupança rural para o crédito  rural e 65% dos depósitos da caderneta de poupança segue para o  financiamento habitacional - dois setores preferenciais das instituições  públicas.
 
 O trabalho do Ipea ainda aponta que os bancos públicos reforçaram essa  função de fomento estratégico - sobretudo para a habitação, com o  lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, em 2009, e para a  indústria - após a crise de 2008. Os dados coletados pelos pesquisadores  indicam que em 2009, enquanto os bancos privados cortaram o  financiamento industrial em 3,3% e ampliaram o habitacional em 29,7%, as  instituições públicas elevaram ambos às alturas - o primeiro em 20,4% e  o segundo, em 54,2%.
 
 Porém, de acordo com Victor Araujo, apesar do papel relevante que os  bancos públicos têm desempenhado, eles não parecem capazes de responder  sozinhos a uma aceleração persistente da demanda por crédito. Se o  objetivo dos gestores econômicos públicos for sustentar um processo  acelerado de desenvolvimento econômico e social, diz o técnico do Ipea,  haverá sempre a necessidade de uma ação compartilhada com as  instituições privadas. É necessário questionar, porém, como estas  últimas responderão à essa responsabilidade.
Fonte: Marcel Gomes - Agência Carta Maior
