BC atua como sindicato dos bancos, denuncia Carlos Cordeiro na Câmara
17/08/2011 - Por Bancários CGR
"O Banco Central funciona hoje como um verdadeiro sindicato nacional dos  bancos. Em vez de se preocupar com a sociedade e com o desenvolvimento  econômico e social do país, age única e exclusivamente a serviço do  sistema financeiro." A acusação foi feita pelo presidente da  Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, diante de representantes da Fenaban e do  Banco Central, na audiência pública realizada nesta terça-feira 16 na  Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, convocada  para discutir o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 214/2011, do  deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que suspende as recentes  resoluções do BC que amplia a atuação dos correspondentes bancários.
 
 Em um plenário lotado de representantes de bancários de todo o país,  Carlos Cordeiro explicou por que a Contraf-CUT é favorável ao PDC   214/2011, qual a posição da entidade sobre os correspondentes, defendeu a  inclusão bancária de toda a população e exortou o Congresso Nacional a  se somar aos esforços de convencimento da presidenta Dilma Roussef a  convocar uma Conferência Nacional sobre o Sistema Financeiro, na qual a  sociedade possa definir qual o papel que os bancos devem assumir no  Brasil.
 
 Além da Contraf-CUT, participaram da mesa da audiência pública convocada  pelo presidente da Comissão de Finanças, deputado Cláudio Puty (PT-PA),  o deputado Ricardo Berzoini, o Banco Central (representado pelo gerente  do Departamento de Normas Sérgio Odilon), a Febraban (representada por  Gérson Gomes da Costa), e Amaury Martins de Oliva, diretor-substituto do  Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da  Justiça.
 
 Exclusão, precarização e insegurança
 
 Último a falar na audiência, o presidente da Contraf-CUT fez um  histórico da evolução da legislação sobre os correspondentes bancários e  rebateu as argumentações do BC e da Fenaban de que esses instrumentos  desempenham importante função social ao supostamente levar atendimento  bancário a regiões distantes e carentes. 
 
 "Quando foram criados, na década de 1970, a intenção era realmente essa.  Mas paulatinamente o Banco Central foi alterando a sua função,  atendendo os interesses dos bancos, e hoje os correspondentes podem  fazer praticamente tudo o que as agências fazem. Mas é mentira que eles  estão levando atendimento às populações distantes e desassistidas",  criticou Carlos Cordeiro. 
 
 "Os correspondentes estão concentrados hoje nas regiões onde está a  população bancarizada, principalmente no Sudeste, funcionando ao lado ou  próximo das agências, que é para onde os bancos estão empurrando a  clientela de baixa renda em sua estratégia de elitização das agências",  acrescentou o presidente da Contraf-CUT. "Os correspondentes estão sendo  usados na verdade para segregar e excluir os mais pobres, para  precarizar as relações de trabalho, reduzir custos e aumentar os lucros  dos bancos, uma vez que os correspondentes fazem a mesma coisa e custam  um quarto do salário do bancário."
 
 Em vez de correspondente, posto de atendimento
 
 Cordeiro, por fim, refutou a argumentação da Fenaban de que a aprovação  do PDC 214 provocará demissões e deixará sem acesso aos serviços  financeiros as populações de regiões desassistidas. 
 
 "É preciso deixar claro que nós não defendemos o fim dos  correspondentes", frisou o presidente da Contraf-CUT. "O que queremos é  transformar os correspondentes em postos de atendimento, em agências  pioneiras, com segurança, com sigilo bancário preservado, que dêem  assistência financeira a toda a população, sem discriminação de condição  econômica e social, de raça ou de cor. Os bancos são o segmento que  mais lucra na economia. Essa deveria ser a sua contrapartida social para  ajudar o Brasil a se desenvolver", destacou. 
 
 Bolsa-banqueiro
 
 O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), autor do PDC 214/2011, criticou o  Conselho Monetário Nacional (CMN) por ter extrapolado suas atribuições  em detrimento do Congresso Nacional, ao criar normas trabalhistas e  pretender regulamentar o sistema financeiro. "Ninguém quer acabar com os  correspondentes bancários, mas é importante que eles sejam criados onde  realmente são necessários, e não a 50 metros das agências bancárias,  como ocorre em diversos locais. Queremos impor limites geográficos e  transformar esses trabalhadores do comércio em bancários", propôs.
 
 Berzoini disse que é preciso preservar o que a legalidade prevê. "Creio  que esse tipo de disposição que o BC vem adotando vai contra o princípio  da isonomia e da qualidade de atendimento que deve ser oferecido pelos  bancos. Tenho a convicção de que esse projeto abre o debate e traz luz  para que o CMN não tome resoluções que extrapolem os limites da política  monetária", observou Berzoini, que é funcionário licenciado do Banco do  Brasil, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da  antiga Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT).
 
 O autor do PDC 214 reafirmou que as resoluções do BC são "uma iniciativa  clara de afastar as pessoas de baixa renda das agências, empurrando-as  para os correspondentes bancários, que são muito mais baratos para o  sistema financeiro". 
 
 Questionado sobre um possível aumento das despesas dos bancos no caso de  aprovação do projeto 214/11, o parlamentar sugeriu ironicamente que  fosse criada uma bolsa-banqueiro para ajudar os bancos a manterem a  rentabilidade acima dos 25%. "Com a substituição dos correspondentes por  postos de atendimento bancário, quem sabe a rentabilidade dos bancos  diminua de 28% para 25% e, para não perderem dinheiro, talvez possamos  criar a bolsa-banqueiro para ajudá-los a manter os lucros exorbitantes."  
 
 Reclamações de clientes
 
 Citando dados consolidados de 150 Procons, o diretor-substituto do  Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça  revelou na audiência pública que os órgãos estão lotados de reclamações  contra os correspondentes bancários. "Muitos deles se aproveitam da  ignorância da população de baixa renda e negociam a quitação de uma  dívida em troca de novos empréstimos para conseguir comissão", denunciou  Amaury.
 
 Ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de Brasília, a deputada federal  Erika Kokay (PT-DF) observou que é inadmissível o setor que mais lucra  no país apoiar uma lógica de precarização. "Defendemos que os  correspondentes continuem, mas sem precarização. Está em risco a  confiabilidade e o sigilo, que estão sendo transferidos para  profissionais que não têm qualquer vinculo com as instituições  financeiras", observou Érika, empregada licenciada da Caixa Econômica  Federal.
 
 Bancários lotam plenário da Câmara 
 
 O representante da Febraban deixou claro em seu pronunciamento que o  objetivo dos bancos é evitar que a população de baixa renda tenha acesso  às agências bancárias. "As pessoas também ganham, porque os  correspondentes levam comodidade ao atendimento, que é feito em locais  próximos às residências, em horário de atendimento ampliado, em locais  onde as pessoas podem frequentar com seus chinelinhos", disse Gomes.
 
 Expondo faixas e gritando as palavras de ordem "não, não, não à  precarização", os bancários protestaram contra a declaração do  representante da Febraban. A referência aos "chinelinhos" também foi  bastante criticada por parte dos parlamentares que participaram da  audiência pública.
 
 Mobilizados desde a manhã de terça-feira, quando participaram de uma  manifestação com "descarrego" na rampa do Banco Central, em Brasília,  contra as resoluções que precarizam o trabalho da categoria,  representantes de bancários de todo o país lotaram o plenário 1 do Anexo  2 da Câmara dos Deputados, onde foi realizada a audiência pública.
 
 Deputado vê problemas no mérito e no método
 
 Pouco antes de encerrar a audiência pública, o presidente da Comissão de  Finanças e Tributação informou que vai colocar o projeto na pauta de  votação assim que o relator, deputado Rui Costa (PT-BA), apresentar seu  relatório. Na visão de Puty, a audiência pública revelou a existência de  dois problemas na resolução do Banco Central, uma relativa ao mérito,  outra ao método.
 
 "No método, está o questionamento sobre a legitimidade de o Banco  Central legislar sobre relações de trabalho e, por conta disso, talvez  seja a hora de o Congresso discutir a ampliação do Conselho Monetário  Naciona, que foi reduzida na época do Plano Real para dar mais agilidade  às decisões econômicas, mas não correspondente à situação atual",  destacou. "Em relação ao mérito, fica clara a contradição entre a  intenção declarada dos que defendem os correspondentes bancários e o  texto da resolução, que não traz critérios para garantir o atendimento  de qualidade da população".
 
 O PDC 214 tramita em caráter ordinário. Depois de analisado e votado  pela CFT será encaminhado para análise da Comissão de Constituição e  Justiça e de Cidadania (CCJC). Após passar pelas duas comissões, o  projeto vai à votação no plenário da Câmara.
Fonte: Contraf-CUT, com Seeb de Brasília
