Quem é jovem na Caixa sente os reflexos do esforço dos trabalhadores que decidiram cruzar os braços em 1985. Há 13 anos no banco, Josimilson Ferreira Sales, de Roraima, é um desses jovens. “São nesses heróis que precisamos nos inspirar, que precisamos lembrar sempre como símbolo de união e resistência contra a precarização do nosso trabalho e o desmonte da nossa empresa”, afirmou. Para ele, a greve histórica vai muito além da conquista da jornada de trabalho, mas o direito à sindicalização. “Em tempos de pandemia percebemos como a atuação do sindicato está sendo decisiva na implementação de medidas de segurança que protegem não só a vida do empregado Caixa, mas principalmente o nosso cliente”, ressaltou.
Na Caixa desde 2001 e hoje secretária de Cultura da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro e coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), que assessora o Comando Nacional dos Bancários nas rodadas de negociações específicas com a direção da Caixa, Fabiana Uehara Proscholdt, destaca que é preciso aprender com o legado que foi deixado pelos colegas. “Nunca podemos esquecer o que os colegas daquela época fizeram. Precisamos adquirir o conhecimento e isso tem que servir de recurso para as lutas atuais. Os empregados novos têm que ter essa percepção que a vida é mais que atender ao que é imposto. A luta coletiva precisa de todos os empregados”, defendeu.
Aqueles que estiveram presentes naquele dia 30 de outubro de 1985, se recordam que a paralisação também tinha o foco o reconhecimento dos empregados da Caixa como pertencentes à categoria bancária. Antes, os trabalhadores eram conhecidos como economiários, não possuíam a mesma jornada do restante da categoria bancária, nem sequer eram vinculados a sindicatos.
Um deles foi o presidente da Fenae, Sérgio Takemoto. “Sem dúvida a greve das seis horas é um marco para todos os trabalhadores da Caixa. Mostrou a força dos empregados. Unidos, nós conseguimos avançar na conquista dos direitos e na defesa da Caixa 100% pública”, destacou.
Quem também participou da histórica greve foi o vice-presidente da Fenae, Marcos Saraiva. Ele recorda que a paralisação iniciou com a força da juventude, com os auxiliares de escritório “Nós demos um recado muito claro: queremos ser reconhecidos junto à CLT como bancários e com direito à sindicalização “, recordou-se Saraiva, que cruzou os braços no Ceará.
Hoje dirigente da Fenae, Saraiva ressalta que a juventude precisa se unir novamente. “Acredito que a mentalidade do jovem da Caixa mudou muito. Precisamos repensar e reconstruir a unidade do ponto de vista da solidariedade e união. Repensar com uma visão de coletivo e não individualista”, avaliou.
Para o diretor de Formação da Fenae, Jair Pedro Ferreira, é preciso lembrar da história, do que fizeram os trabalhadores em 1985, para que em 2020, os empregados possam continuar lutando. “Esse período foi um divisor de águas que envolveu associações, federações, sindicatos. A gente se juntou na categoria bancária. Fizemos o livro Tijolo por Tijolo, para lembrar essa história para os jovens. Precisamos falar sempre dessa história e fazer isso constantemente”, avaliou.
Mobilização de todos, e o apoio da Fenae e Apcefs
A mobilização que alcançou pela primeira vez todo o país contou com uma participação imprescindível: a da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae). A Federação estabeleceu definitivamente o movimento organizado dos empregados.
A Diretora de Relações do Trabalho, Rita Lima, participou da greve no Espírito Santo. Ela contou que a Associação do Pessoal da Caixa (Apcef) e a Fenae formaram uma base fundamental para quem decidiu apoiar a paralisação. “O apoio foi fundamental. Como não éramos sindicalizados, era plena ditadura e essa organização era difícil. Esse espaço foi fundamental para construir a greve”, lembra. Para Rita, a greve não só transformou os empregados da Caixa em trabalhadores com direitos à sindicalização, mas fortaleceu os sindicatos dos bancários. “É uma memória que os trabalhadores de hoje não têm dimensão do que seja”, finalizou.
A greve também resultou em mudanças fundamentais para a categoria. No Congresso Nacional, o Projeto de Lei 4.111-4, do então deputado Léo Simões, estabelecia a jornada de seis horas diárias para os empregados da Caixa. A lei foi sancionada logo depois, em 17 de dezembro de 1985, pelo presidente José Sarney.
Conselheiro Fiscal da Fenae, Emanoel Souza relembra que a decisão de apoiar o PL de Léo Simões veio após o Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef). “Esse 1º Conecef foi que colocou no centro da questão a luta das seis horas. E o pessoal do Rio de Janeiro conseguiu que o deputado Léo Simões colocasse o projeto”. A lembrança do ônibus saindo de Salvador cheio de empregados da Caixa em direção à Brasília para participar do Conecef ainda está clara na memória do dirigente. “Nós organizamos uma caravana daqui da Bahia para Brasília para participar do 1º Conecef. E, na segunda-feira, tínhamos que trabalhar. Foi uma aventura”, contou.
Além disso, a publicação do Diário Oficial da União trazia uma mudança importante, a garantia do direito à sindicalização a todos os empregados da Caixa, viabilizada com a alteração do parágrafo único do artigo 556 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Algumas datas importantes de 1985
– 6 de agosto: Dia Nacional de Luta. Empregados da Caixa distribuem cartas abertas à população e enviam telegramas ao Ministério da Fazenda.
– 11 de agosto: Paralisações de duas horas realizadas em agências de Brasília (DF) e do Ceará.
– 11 de setembro: Presidente da Fenae, José Gabrielense, recebe mensagem informando que o ministro da Fazenda havia se manifestado contrário às reivindicações da categoria.
– 13 de setembro: Cerca de 800 empregados da Caixa protestam e realizam uma passeata na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).
– 19 e 20 de outubro: Realização do 1º Conecef, em Brasília (DF), no qual mais de 500 pessoas aprovam a data de 30 de outubro para a greve de 24 horas.
– 30 de outubro: Greve histórica, quando todas as unidades da Caixa são fechadas Brasil afora.
– 4 de novembro: Caravanas de empregados da Caixa ocupam Brasília (DF). Pressionado, o deputado federal Pimenta da Veiga dá aval para o regime de urgência ao projeto de lei que estabelece a jornada de seis horas para a categoria.
– 28 de novembro: Projeto das seis horas é aprovado na Câmara dos Deputados. No mês seguinte, a proposta também passa pelo Senado Federal.
– 17 de dezembro: Presidente da República, José Sarney, sanciona a lei que garante a condição de bancário aos empregados da Caixa.
Fonte: Fenae/ Contraf-CUT