Contraf propõe na Câmara convocação de Conferência sobre Sistema Financeiro
25/08/2011 - Por Bancários CGR
O Brasil precisa de um novo sistema financeiro, que dê contrapartidas  sociais a seus lucros exorbitantes e contribua com o desenvolvimento do  país. O papel dos bancos deve ser definido pela sociedade brasileira, o  que passa pela convocação de uma Conferência Nacional sobre o Sistema  Financeiro e pela regulamentação do Artigo 192 da Constituição. As  sugestões foram apresentadas nesta quarta-feira 24 pela Contraf-CUT no  Seminário Propostas para um Sistema Financeiro Cidadão, promovido na  Câmara dos Deputados, em Brasília. 
 
 A posição da Contraf-CUT foi levado ao seminário, realizado  conjuntamente pelas Comissões de Defesa do Consumidor e de Finanças e  Tributação da Câmara, pelo secretário-geral Marcel Barros. O dirigente  fez questão de ler ao plenário o texto do Artigo 192 da Constituição:
 
 "O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o  desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da  coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as  cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que  disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas  instituições que o integram."
 
 "Esse papel está sendo cumprido pelos bancos no país?", indagou Marcel  Barros no seminário, coordenado pelo presidente da Comissão de Defesa do  Consumidor, deputado Roberto Santiago (PV-SP), que contou com a  participação do deputado Valdivino de Oliveira (PSDB-GO), da Comissão de  Finanças e Tributação.
 
 `Taxa Selic é uma bolsa-banqueiro`
 
 "Temos um sistema financeiro altamente concentrado, um verdadeiro cartel  dos bancos, em que apenas as cinco maiores instituições detêm 82% dos  ativos, 80% do crédito e 70% do patrimônio do setor. E cobram os juros,  os spreads e as tarifas mais altas do mundo, sem oferecer nenhuma  contrapartida social", acusou Marcel Barros.
 
 A participação do crédito na economia brasileira, acrescentou Marcel, é  de apenas 46% do PIB, muito menos que a totalidade das economias  desenvolvidas. E dos seis grandes bancos que operam no país apenas 35,5%  dos ativos são destinados a operações de crédito. "A maior parte dos  ativos é utilizada em atividades especulativas, graças à taxa Selic, a  mais alta do mundo, que é uma verdadeira bolsa-banqueiro", criticou o  secretário-geral da Contraf-CUT.
 
 O seminário, requerido pelos deputados Carlinhos Almeida (PT-SP),  Roberto Santiago (PV-SP), João Dado (PDT-SP) e Arnaldo Jardim (PPS-SP),  fixou como objetivos discutir e buscar soluções para o desrespeito aos  usuários do sistema financeiro nos altos preços das tarifas e juros, no  tempo nas filas, na discriminação aos cidadãos de menor pode aquisitivo,  na insegurança nas agências e na exposição de dados pessoais a  estranhos, via terceirização dos serviços.
 
 Além da Contraf-CUT, participaram do debate o consultor do Departamento  de Prevenção a Ilícitos Financeiros do Banco Central, Anselmo Pereira  Araújo Netto; a coordenadora do Grupo de Trabalho do Sistema Financeiro  Nacional da 3ª Câmara do Ministério Público Federal, Valquíria Oliveira  Quixadá Nunes; Amaury Martins de Oliva, diretor do Departamento de  Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça; Gustavo  Marrone, diretor de Autorregulação da Febraban; Victor Leonardo de  Araújo, da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto  de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Sérgio Belsito, presidente do  Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal); Maria Inês  Dolci, coordenadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor  (Proteste); e Sílvio Giusti, representante da Organização das  Cooperativas Brasileiras (OCB).
 
 `É preciso promover a inclusão social`
 
 Marcel disse que, em vez de contribuir com o desenvolvimento do Brasil,  os bancos hoje transferem poupança das regiões pobres para as regiões  ricas e acusou as instituições estrangeiras de cobrarem spreads e juros  mais altos aqui do que em seus países de origem, enfatizando que as  empresas financeiras pagam com sobras suas folhas de pagamento e parte  das despesas administrativas somente com a receita de prestação de  serviços. 
 
 O secretário-geral da Contraf-CUT defendeu ainda a suspensão das  resoluções do Banco Central que ampliam a atuação dos correspondentes  bancários, violando a Constituição Federal ao legislar em substituição  ao Congresso Nacional. A Contraf-CUT apoia a aprovação do Projeto de  Decreto Legislativo (PDC) nº 214/2011, do deputado federal Ricardo  Berzoini (PT-SP), que suspende essas resoluções do BC.
 
 "Existe uma diferença entre `bancarização` e inclusão bancária. O que o  BC e os bancos chamam de `bancarização` é dar um cartão de crédito à  pessoa, deixando-a à sua própria sorte. Normalmente o cidadão abre uma  conta obrigado pelo empregador, que tem benesses do banco. Ele toma  crédito e não tem noção do custo", criticou Marcel. "Para haver uma  verdadeira inclusão bancária, precisamos ter orientação para o crédito,  educação financeira para que o cidadão saiba o que e quanto está  pagando."
 
 Marcel cobrou do representante da Fenaban no seminário a assinatura da  carta de intenções que foi apresentada junto com a pauta de  reivindicações da campanha nacional deste ano, comprometendo-se com a  venda ética de produtos.
 
 Por isso, segundo ele, os bancos não querem abrir a conta simplificada,  uma vez que não podem faturar com cobrança de tarifa. "Hoje, 90% desse  atendimento é da Caixa", apontou Marcel.
 
 As propostas da Contraf-CUT
 
 Por fim, Marcel Barros apresentou as principais propostas da Contraf-CUT para a regulamentação do Artigo 192 da Constituição:
 
 	Discutir papel do Banco Central.
 
 	Destinação do crédito por áreas determinadas segundo as necessidades de desenvolvimento econômico nacional ou regional.
 
 	Ampliação do Conselho Monetário Nacional.
 
 	Exigência com relação a manutenção dos empregos a partir de qualquer incentivo ou socorro financeiro por parte do governo.
 
 	Formulação de mecanismos de incentivo para o desenvolvimento das  microfinanças - aprofundar o debate da importância do cooperativismo e a  atuação dos correspondentes bancários no país.
 
 	 Realização da Conferência Nacional do Sistema Financeiro
 
 Ipea confirma concentração bancária
 
 O representante do Ipea no seminário, Victor Leonardo de Araújo, que é  técnico de pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas,  apresentou estudo mostrando que a concentração do atendimento bancário  continua muito acentuada no Sudeste e Sul e que os bancos públicos,  apesar de estarem mais presentes nos municípios mais pobres, não estão  cumprindo o seu papel de fazer a inclusão bancária e promover o  desenvolvimento regional.
 
 O presidente do Sindicato dos Funcionários do BC (Sinal), Sérgio  Belsito, também defendeu uma reorientação do papel do sistema financeiro  nacional, de forma a contribuir para o desenvolvimento do país, e que é  preciso o envolvimento do Congresso Nacional nesse debate.
 
 A procuradora regional da República Valquíria Quixadá criticou a atuação  dos correspondentes bancários, "que estão cometendo verdadeiros crimes  contra aposentados e idosos país afora ao forçarem a venda de produtos  indesejados ou ignorados", e pediu ao Banco Central que aumente a  vigilância e puna esses abusos.
 
 Maria Inês Dolci, da organização de defesa do consumidor Proteste,  também defendeu investimentos em educação financeira da população,  sobretudo das classes C, D e E emergentes, e denunciou "a picaretagem  dos correspondentes financeiros, que aplicam golpes em relação ao  crédito consignado e induzem as pessoas a assinarem contrato em branco,  além de exercerem pressão para a compra de produtos".
 
 Desrespeito do Banco Central
 
 O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que participou do debate após as  apresentações, criticou a ausência do presidente do Banco Central,  Alexandre Tombini, no seminário. "Mais uma vez o BC mostra que não  respeita o Congresso e a população. Representa mais os bancos do que a  sociedade", disse.
 
 Para o parlamentar, o BC precisa tratar o cidadão de forma mais  respeitosa e conter práticas abusivas das instituições financeiras. "O  BC tem agido de uma maneira extremamente leniente em relação ao abuso  dos bancos. Nenhum país tem taxas de juros ao consumidor tão altas  quanto no Brasil. Precisamos ter taxas de juros em que o cidadão que  pega um crédito não corra o risco de ir à falência", defendeu.
 
 As acusações de Berzoini foram endossadas pelos deputados Francisco  Araújo (PSL-RR) e Reguffe (PDT-DF), para quem o Banco Central "tem que  ser órgão de Estado, e não atuar a favor dos banqueiros e contra a  população".
 
 O consultor do Banco Central afirmou que a inclusão financeira da  população é um dos objetivos estratégicos da instituição para o período  2010-2014. Ao responder as críticas dos parlamentares e representantes  das entidades, Anselmo Araújo surpreendeu ao reconhecer a competência  dos municípios em fazer leis sobre atendimento bancário, na medida em  que se trata de assunto de interesse local, como tem defendido os  bancários, o que contraria a defesa da Febraban, que tem alegado que a  competência para qualquer tema envolvendo o sistema financeiro é do  Banco Central.
Fonte: Contraf-CUT
