EDITORIAL: Os interesses que o senhor Miguel Jorge defende

12/03/2008 - Por Bancários CGR

De contrabando, numa resposta sobre a privatização da Infraero, o ministro da Indústria e Comércio, Miguel Jorge, aproveitou para defender a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, segundo o que foi relatado pelos jornais.

Literalmente, segundo relato de O Globo: Defendo a privatização não só da Infraero, mas de todas as empresas que não fazem parte do `core business` do governo, que é a saúde, a educação e a segurança. No meu conceito pessoal, inclui bancos. No caso dos Correios, vários países têm esse departamento privatizado - disse ele, com a ressalva de que se trata de uma opinião pessoal, e caso o governo defenda publicamente o contrário, irá seguir as decisões do governo. 

Fora a ressalva de que seguirá as decisões de governo, que de nada serve porque, em tese, quem não segue as orientações do governo deve sair, e não ficar por ser disciplinado, sua resposta revela mais: o setor a que representa no governo, o lobby dos bancos privados, não desistiu de passar a mão em empresas públicas lucrativas. Para quem não conhece, Miguel Jorge é jornalista, mas há muito tempo presta serviços para o grande capital. Foi diretor por vários anos da Volkswagen, de onde saiu para trabalhar no Banco Santander. De lá largou o cargo de vice-presidente de relações corporativas para aceitar o convite do presidente Lula.

Quando Franklin Martins deixou o salário de jornalista de TV, muito superior ao que ganharia no ministério, a colunista do Estado de S.Paulo Danuza Leão fez uma de suas crônicas questionando o porquê da decisão de ganhar menos, ironizando se seria por amor ao país. Em relação a Miguel Jorge nunca houve tal questionamento, e é necessário considerar que o salário de vice-presidente de um banco como o Santander é infinitamente superior ao de um jornalista, seja em que cargo for.

Mas, agora, talvez fique mais claro porque aceitou a missão. Afinal, ele pode estar ministro, mas ainda age como lobista do banco para o qual trabalhou. Afinal qual o interesse para o país em privatizar empresas que geram bilhões de lucro ao ano para o Tesouro, que competem em pé de igualdade com as empresas privadas? Os únicos interessados nessa operação só podem ser os outros bancos privados, sedentos de abocanhar o mercado, que no Brasil já extremamente concentrado e sem concorrência. Esse um dos motivos para cobrar os maiores spreads do mundo. Se Miguel Jorge realmente se preocupasse com o país poderia questionar se tanto os bancos públicos quanto os privados estão, além de ter lucros estratosféricos, cumprindo sua função de financiar o desenvolvimento econômico e social do país.

A Contraf-CUT e os sindicatos têm diversas críticas à maneira como bancos como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal estão sendo dirigidos, mas sabe da importância dessas instituições para o país. Em lugar de privatizar, é necessário o debate de um projeto de banco público que sirva à maioria da população. Para nós, esse banco deve servir ao país, ao financiamento de suas políticas e a uma maior justiça social e econômica. 

O bom da intervenção do ministro em um tema que não estava sendo sequer discutido é a oportunidade para analisar e debater todo o sistema financeiro nacional. Para isso a Contraf-CUT tem diversas sugestões, como a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, a maior concorrência dos bancos públicos para baixar juros e tarifas, financiamento para o setor produtivo etc. Se o senhor Miguel Jorge quiser realmente discutir o tema, teremos prazer em apresentar diversas sugestões. Para isso basta atuar como ministro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não como representante do banco Santander no governo.

Direção da Contraf-CUT

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