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Encontro Nacional dos Funcionários do Bradesco começa com desafios

03/04/2013 - Por Bancários CGR

O Encontro Nacional dos Funcionários do Bradesco começou nesta terça-feira, dia 2, em Atibaia, interior de São Paulo, com a participação de dirigentes sindicais de todo país. Houve apresentação do projeto do Banco do Futuro pelo professor do Centro de Pesquisa 28 de agosto, Moisés Marques, seguido de um debate sobre a conjuntura político-sindical e de uma apresentação do Dieese sobre o balanço de 2012 do banco. O evento foi aberto pela diretora da Contraf-CUT e coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Bradesco, Elaine Cutis.

Conjuntura e desafios

O funcionário do Bradesco e presidente da CUT, Vagner Freitas, destacou a necessidade de mudarmos o sistema financeiro no país e repensarmos a sua concepção e a quem os bancos estão servindo. Para ele, a Conferência Nacional do Sistema Financeiro, pautada pela Contraf-CUT e pela CUT, irá contribuir fortemente nesta direção.

"Precisamos também modificar o modo como se faz sindicalismo. Temos que representar todos os trabalhadores do sistema financeiro, caso contrário não estaremos cumprindo nosso papel de agentes de mudança na vida dos trabalhadores", afirmou Vagner, que já foi presidente da Contraf-CUT (2006-2009).

O presidente da CUT destacou também que as mudanças ocorridas no país nos últimos dez anos precisam de continuidade para atender os interesses da classe trabalhadora. "Ocorreu uma enorme transformação no país na última década, porém ainda é necessário desenvolvermos muito mais para que a renda seja melhor distribuída e alcancemos o pleno emprego. Esta é a função dos representantes dos trabalhadores. Precisamos colocar nossa estrutura no projeto de país que queremos", disse.

A funcionária do Bradesco e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, enfatizou a importância de não a olhar apenas para os problemas da própria categoria. "Os bancários possuem esta qualidade de que é fundamental intervir nas lutas mais gerais dos trabalhadores. Temos a consciência de que nenhuma luta se faz sozinha. Precisamos olhar também para a pauta das centrais sindicais e não apenas para a pauta de nossa categoria", acentuou.

Para ela, não vamos resolver problemas da categoria, como o da rotatividade, se não pensarmos nos problemas que dizem respeito a todos os trabalhadores. "Como trataremos desta questão se não pensarmos também no impacto que existe nas contas do estado?", questionou Juvandia.

Segundo a dirigente sindical, nenhuma conquista ocorre ao acaso, mas sim com o compromisso e a responsabilidade para fazer as lutas e as mudanças. "Temos o compromisso em primeiro lugar com a classe trabalhadora, porém precisamos fazer a luta olhando a conjuntura geral. Temos que nos engajar nas lutas das centrais sindicais, e principalmente da CUT, que é majoritária em nossa categoria. Precisamos lutar pela redução da jornada de trabalho, uma vez que atualmente 60% de nossa categoria trabalham oito horas e 40% seis horas, e há pouco tempo era o inverso", apontou.

Banco do futuro

O professor Moisés Marques frisou que os bancos que operam no país estão diante de um cenário favorável para implantação de projetos como o Banco do Futuro. "Passamos por um momento econômico que, apesar da crise financeira internacional ainda existente, estamos diante de uma inflação relativamente controlada, o PIB voltando a crescer e o país próximo a atingir o pleno emprego", afirmou.

Segundo Moisés, este é um cenário interessante para os bancos, que podem investir no crescimento da chamada classe C, que representa atualmente cerca de 60% da população. "A taxa de juros menor e os índices de desemprego e pobreza em queda mostram aos bancos que têm muitas pessoas a serem bancarizadas", salientou.

Para o professor, os bancos querem utilizar futuramente mais automação do que relacionamento com os clientes e gerenciamento de risco. "Os bancos usarão muito o barateamento dos smartphones para aumentar as receitas em canais, como o mobile banking e mobile payment, e irão incorporar as redes sociais aos canais bancários, pois entendem que estão diante de uma geração muito conectada", ressaltou.

O especialista ainda observou que os bancos buscarão equacionar riscos, regulação, tecnologia e relacionamento. E para isso utilizarão canais alternativos para baixar os custos. "São transformações que irão impactar o trabalho bancário, que passa cada vez mais a uma atividade especializada", declarou.

Para ele, o Bradesco é um banco que aposta muito em correspondente bancário, ATM e cada vez menos em agências. "O grande salto do banco ocorreu com o Bradesco Expresso, o correspondente bancário. Aumentaram as transações via internet, celular e terminal ATM, e procura-se fazer o possível para utilizar o mínimo possível as agências, que atualmente representa apenas 8% das transações, enquanto mais de 90% dessas ocorrências aconteceram fora dela", destacou Moisés.

Na avaliação do professor, é preciso questionar o banco que afirma ter uma "marca valiosa", principalmente do quanto se perde da marca ao ter a atividade exercida por pessoas que não são bancárias.

"Além disso, é preciso repensar as formas de mobilização, que devem aproveitar cada vez mais as redes sociais e a nova geração multímida. Precisamos questionar a empresa na mesma moeda e nos conectarmos com os novos meios de mobilização vigentes", conclui Moisés.

Lucros não justificam demissões

A técnica da subseção do Dieese do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Cátia Uehara, fez uma análise do balanço do Bradesco referente ao ano de 2012. Os dados mostraram que a variação ocorrida no ano passado no lucro dos bancos, principalmente nos privados, ocorreu em função da redução da taxa de juros. No Bradesco, essa variação foi de 2,9%. Porém, o levantamento mostrou que os bancos compensaram a queda dos juros com o aumento da receita de prestação de serviços e renda de tarifas.

"Os bancos aumentaram as tarifas após a redução dos juros e no Bradesco essa variação entre 2011 e 2012 foi de 16%", afirmou Cátia.

Outro item importante é que a inadimplência nos bancos públicos foi baixa em 2012 e nos bancos privados ficou estável. Apesar da pouca variação, os bancos aumentaram significativamente as provisões para devedores duvidosos (PDD), o que impactou negativamente no lucro dos bancos. "O Bradesco provisionou 15% a mais em 2012, e por se tratar de um item de despesa, tem influência direta no lucro do banco", salientou a técnica do Dieese.

O levantamento também mostra que o Bradesco obteve lucro líquido de R$ 11,5 bilhões em 2012 e atingiu patrimônio líquido de R$ 70 bilhões. Porém, no mesmo período, o banco eliminou cerca de 1.300 postos de trabalho, o que é injustificável.

Continuidade

O encontro continua nesta quarta-feira, dia 3, com debates e trabalhos em grupos. Os encaminhamentos serão definidos na manhã de quinta-feira, dia 4.

Fonte: Contraf-CUT

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