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Fala Aí Bancário: Heróis de Caixão? Eu não sou besta para tirar onda de herói…

21/05/2020 - Por Bancários CGR

O que dizer de uma direção que se aproveita de uma característica histórica da maioria dos empregados da Caixa, que é a de amar seu trabalho e ter orgulho de trabalhar na empresa, para serem jogados numa empreitada quase suicidaBeto Nascimento comenta neste artigo.

Em uma jogada oportunista, a Caixa, aparentemente, se aproveitou de um post que circulou nas mídias sociais em que os empregados são saudados por super-heróis da indústria americana e produziu uma campanha chamada “Heróis de Crachá”. É indiscutível que se trata de uma forma de reconhecimento importante, mas ela é até um tanto óbvia e impossível de não ser feita, é verdade, face ao exemplo de dedicação extrema dos empregados nessa pandemia.

Este fato não afasta uma necessária análise da realidade, em si, e de como essa narrativa não tem respaldo, se considerarmos as práticas da gestão atual. Em artigos anteriores nesse espaço venho relembrando como o governo trata os servidores e empregados públicos: filhos drogados, parasitas, um fardo para o País e pessoas que assistem ao caos com sua geladeira cheia.

Já do ponto de vista do nosso dia a dia no trabalho são reestruturações, revalidas, perdas de funções de confiança sem justificativa, assédios, tentativas constantes de aumento da jornada de trabalho e perda de direitos, corte em benefícios do plano de saúde, ameaças veladas de retorno ao trabalho e extrapolação da jornada nesse período de pandemia, com relatos de colegas chegando a trabalhar das 06:00 às 22:00 horas. 

Somos seres humanos, trabalhadores aprovados em concurso público, que assinaram contrato de trabalho e que, na sua grande maioria, vão construir suas vidas e de suas famílias com o fruto do seu suor na empresa. Chamar de Herói quem está sofrendo dias e noites a fio nas agências mascara, na verdade, a má vontade do governo em pagar o auxílio emergencial e a incompetência da gestão em buscar uma solução planejada, adequada e eficiente para esse momento. 

Seres humanos de valor

Assim, estão se aproveitando de uma característica histórica da maioria dos empregados da Caixa, de amar seu trabalho e ter orgulho de trabalhar na empresa (conforme atestam inclusive as pesquisas de clima organizacional) para nos jogar numa empreitada quase suicida e trágica: trabalhar sem testagem e EPIs, expostos a filas intermináveis, ao furor compreensível da população, ao coronavírus, à violência e ao estresse mental.

Somos seres humanos de valor e não essa fixação ridícula de alguém que só existe pelo seu crachá, essa exigência antiquada da gravata e esse desprezo pela experiência e capacidade dos empregados mais velhos da empresa, em grande parte substituídos por jovens inexperientes e subservientes. Não temos capa, superpoderes e não queremos que nossas famílias recebam uma coroa de flores ou uma medalha da área de gestão de pessoas da empresa.

Tudo somado, essa canhestra narrativa “Marvel tupiniquim” parece mostrar que o nosso algoz e vilão não é o coronavírus, mas justamente quem duvida de nossa inteligência e tenta nos jogar numa jornada de herói que tem como final a nossa morte. Afinal, é vida real. 

Empregado da Caixa: você já um exemplo por cumprir sua jornada, trabalhar com ética, respeito, sem corrupção e sustentar com dignidade sua família. Não aceite uma ideologia ou propaganda como esta. Não aceite, sem uma pulga atrás da orelha, o elogio do “comissário de bordo” que te convoca para o trabalho aos finais de semana ou te obriga a atender até o apagar das luzes da agência. Não se contente com um “obrigado” que no fundo soa mais como um “e daí”. Não se iluda com um belo “pin” de metal. Faça seu trabalho, mas denuncie: para o sindicato, para o Ministério Público, para suas famílias e seus amigos. Esse é o seu papel de cidadão, afinal já dizia Raul Seixas: “eu não sou besta pra tirar onda de herói, sou vacinado”.

*Beto Nascimento é o pseudônimo de um bancário. Ele assina com esse nome, pois é a única forma de garantir que não sofra perseguição.

Fonte: Reconta Aí

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