Destaques Campanha Bancos Caixa

Fim do teto de gastos da Caixa com saúde dos empregados é fundamental

22/08/2025

Mas, além do fim do teto, banco precisa implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) previsto na NR1 e uma PCMSO que vá além dos rasos exames periódicos ocupacionais

Durante os debates sobre o Saúde Caixa ocorridos na manhã desta sexta-feira (22), no 40º Conecef, o diretor e representante da Contraf-CUT na CEE, Rafael de Castro, lembrou que “estamos na quadragésima edição do Congresso e que é daqui que sempre saem as prioridades da atuação das empregadas e empregados.” Para ele, o pessoal da Caixa está sendo massacrado no dia a dia de trabalho. “Não podemos normalizar as pessoas terem que trabalhar com medo, trabalhar sobre pressão, voltar pra casa esgotadas, desmaiar na cama e voltar no outro dia para a mesma rotina de massacre”, disse.

O representante da Federa-RJ, Serginho Amorim, coordenador da mesa de debates, ressaltou que o objetivo da mesa é debater o adoecimento e o sofrimento mental na categoria, conectando isso com a discussão sobre o Saúde Caixa, sua importância, como os usuários enxergam o plano e sua situação financeira. “Acho que é importante essa visão mais ampla, que faça as pessoas correlacionarem o adoecimento da categoria e a importância da sustentabilidade do plano, para que possamos construir um acordo que atenda às nossas necessidades e expectativas”, disse.

75% dos afastamentos na Caixa são relacionados à saúde mental

O diretor de Saúde e Previdência da Fenae e presidente da Apcef/SP, Leonardo Quadros, alertou para os dados alarmantes referentes aos afastamentos na Caixa por acidentes de trabalho. Os dados de 2024 mostram que quase 75% dos afastamentos na Caixa eram causados por doenças mentais e comportamentais.

“A própria Caixa fez uma estimativa de que os custos relacionados a tratamentos de doenças mentais e comportamentais, em 2024, representaram um total de quase R$ 200 milhões em despesas. A gente não tem ideia de quais são os elementos considerados para fazer essa apuração, se foram apenas terapias ou se também inclui internação, mas sabemos que os custos com terapias cresceram bastante nos últimos anos, em especial do ano retrasado para o ano passado”, disse.

Leonardo ressaltou que as entidades que representam os trabalhadores cobram, há muito tempo, o aperfeiçoamento da política de gestão de pessoas, em especial a mudança dos programas de prevenção e promoção da saúde, para que eles sejam mais efetivos e possibilitem a redução dos riscos de adoecimento psicossociais.

“A partir do próximo ano, as empresas vão ser obrigadas a incluir os riscos psicossociais entre os riscos ocupacionais. Essa foi uma determinação do Ministério do Trabalho, que ficou alarmado pelo fato de as doenças mentais e comportamentais representarem cerca de 8% do total de afastamentos por acidentes de trabalho, sendo a segunda maior causa”, lembrou. “E esse percentual, na Caixa é muito maior, chegando a quase 75%. Até hoje, a Caixa não tem uma política efetiva para reduzir este percentual. Então é isso que a gente cobra e, com certeza, isso vai se refletir numa melhoria da qualidade de vida das pessoas e, como consequência colateral, uma redução dos custos do plano. Como eu disse, esse levantamento que a Caixa fez de R$ 200 milhões de impacto pode estar muito subestimado”.

Ansiedade, estresse e depressão são as principais causas de adoecimento

A doutora em Economia e técnica do Dieese, Hyolitta Araújo, apresentou números sobre os registros de afastamentos no INSS e, também, da pesquisa da Fenae realizada em 2025, com mais de 3 mil trabalhadores da Caixa. Ela observou que são duas pesquisas de metodologias distintas, mas que ambas apontaram a ansiedade, o estresse e a depressão como as principais causas de adoecimento mental na Caixa.

Entre os pontos apresentados, Hyolitta destacou que a mudança no modelo de trabalho ocorrida nos últimos anos fez com que os transtornos mentais passassem a ocupar lugar de destaque nos problemas de saúde dos bancários. “Os novos modelos de organização, os ataques aos direitos trabalhistas, o ritmo acelerado de trabalho, a falta de pessoal, a pressão e o assédio moral fazem com que entre os bancários haja uma incidência maior de transtornos mentais do que em outras categorias de trabalhadores”, informou.

Dos afastamentos registrados pelo INSS entre bancários em 2024, mais de 50% foram motivados por questões relacionadas à saúde mental. Na Caixa Econômica Federal, o número é ainda maior e beira os 70%.

Sem registro de CAT

Na pesquisa da Fenae, um número que chama a atenção - e que pode significar que o problema de saúde mental na Caixa é ainda mais grave  - é o não registro da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). 82% de empregados afirmaram que não registraram a CAT, sendo que 37% afirmaram ter medo de retaliação.

Adoecimento por causa da gestão

O psicólogo, doutor e mestre em Psicologia Social, André Guerra, um dos responsáveis pela pesquisa da Fenae, explicou que os resultados ainda são preliminares, mas ressaltou que os números mostram que hoje as pessoas não adoecem mais apenas por questões físicas, mas também por questões mentais.

“E este adoecimento não ocorre por características dos indivíduos nem da categoria. É a gestão. E, na Caixa, a aproximação da gestão do banco com a forma de atuação dos bancos comerciais”, disse.

A pesquisa traz ainda informações sobre os elementos que justificam o adoecimento e quais as funções estão mais suscetíveis. Do total de respondentes, 55% sentem-se pressionados a vender produtos de baixa qualidade e não indicados aos clientes. O risco de descomissionamento atinge 41%. E 28% não veem sentido no seu trabalho.

“Estes três elementos em seu conjunto mostram que uma parcela significativa dos trabalhadores, mesmo sem diagnóstico, é afetada. Mesmo sem adoecimento, está em sofrimento”, observou o psicólogo. “Com isso, conseguimos compreender os elementos que podem contribuir para esse desfecho alarmante na Caixa”, completou.

André ressaltou que a falta de condições de trabalho, como problemas de ergonomia, e problemas nos sistemas contribuem para o adoecimento, mas que “a questão mais grave é a organização do trabalho, que é onde ocorre a cobrança de metas”, explicou.

Fonte: Contraf-CUT

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