Itaú assina acordo com ONU Mulheres, mas não promove igualdade
16/08/2017 - Por Bancários CGR
Mesmo com 60% de mulheres entre seus trabalhadores, 94% das diretorias são ocupadas por homens; para economista, banco também se contradiz ao demonstrar preocupação com o empoderamento feminino ao mesmo tempo em que seu dono apoia a reforma trabalhista
Redação Spbancarios
São Paulo – O Itaú aderiu aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, iniciativa da ONU Mulheres e do Pacto Global das Nações Unidas. Porém, o banco brasileiro ainda está longe de promover a igualdade de gênero na sua cadeia hierárquica. Apesar das mulheres serem maioria (60%) entre os trabalhadores do Itaú, 94% dos cargos de direção são ocupados por homens. Além disso, nenhuma diretoria é ocupada por negros, homens ou mulheres.
“Assinar um acordo com a ONU Mulheres visando reduzir a desigualdade de gênero é sem dúvida positivo para a imagem do banco. Porém, a realidade mostra que o Itaú ainda está muito longe de promover a igualdade de gêneros. Mesmo as mulheres sendo maioria no banco, ganham menos que os homens e ocupam pouquíssimos cargos de direção”, avalia a diretora do Sindicato e bancária do Itaú, Marta Soares.
Gerentes – Outro dado que aponta a desigualdade de gênero no banco é revelado quando analisados os cargos gerenciais. Com 51% de gerentes mulheres, proporção que não reflete a maioria de bancárias na instituição (60%), o Itaú paga proporcionalmente menos para estas trabalhadoras. Em 2016, mulheres em cargos gerenciais possuíam remuneração equivalente a 90% do que recebem os homens, proporção que caiu na comparação com o ano anterior, quando a relação era de 97%.
Enquanto o percentual de gerentes mulheres em relação ao total de trabalhadores é de 13,2%, no caso dos homens este número sobe para 19% (dados de 2016).
"Quando analisado o total dos trabalhadores, e não só os cargos gerenciais, a desigualdade é ainda mais perversa. Mulheres ganham em média 24% menos que homens", destaca Marta.
Saúde – Além de encontrarem maior resistência para ascenderem aos cargos de direção e sofrerem com a desigualdade salarial, as bancárias do Itaú sofrem mais com lesões e doenças ocupacionais. Enquanto a taxa de lesões ente os bancários homens ficou em 2,02% em 2016, entre as mulheres sobe para 2,59%. Já a taxa de doenças ocupacionais das bancárias do Itaú é de 2,23%, enquanto entre os homens cai para 1,72%.
“Esta diferença provavelmente é resultado da dupla jornada de trabalho das mulheres, na empresa e em casa, o que exige um esforço para mudanças nas nossas estruturas sociais. É preciso colocar em prática o conceito de responsabilidades compartilhadas na criação dos filhos e cuidados com o lar, avançando para uma sociedade mais justa e igualitária”, diz a diretora do Sindicato.
Reformas – Para a economista do Dieese Regina Coeli, o Itaú se contradiz ao demonstrar uma preocupação com o empoderamento da mulher ao mesmo tempo em que o dono do banco, Roberto Setubal, apoia fervorosamente a reforma trabalhista proposta por Temer.
“A reforma flexibiliza a jornada, que pode chegar a 10 horas, penalizando as mulheres, que já tem de compatibilizar as jornadas no trabalho e doméstica. A redução do horário do almoço, para meia hora, também penaliza a mulher, que muitas vezes utiliza parte deste tempo para tarefas domésticas ou mesmo estudar. Outro prejuízo é a permissão do trabalho de gestantes e lactantes em locais insalubres. O resultado é que as mulheres ou serão muito prejudicadas nas suas condições de trabalho ou serão eliminadas de postos mais qualificados. No limite, pode-se chegar ao absurdo do banco inibir o desejo da mulher de ter filhos que, com a reforma, poderá ter de optar entre ser mãe ou fazer carreira”, critica a economista.
Regina destaca que nos países europeus onde foram feitas reformas trabalhistas, com retirada de direitos, as mulheres foram as mais prejudicadas. “Estudos da OIT, ONU e diversos institutos europeus de pesquisa mostram que esses contratos de trabalho precarizados como o de tempo parcial, tempo determinado e o trabalho intermitente, incluídos na reforma trabalhista brasileira, foram destinados basicamente às mulheres e aos jovens. As mulheres serão expulsas de contratos qualificados e seguros para contratos mais inseguros.”
A economista enfatiza ainda que o resultado para as mulheres das reformas trabalhista, da Previdência e da Emenda Constitucional 94, do teto de gastos, já em vigor, será o retrocesso em relação à equidade de gêneros no mundo do trabalho.
“A Emenda Constitucional do teto de gastos retira investimentos públicos essenciais na área de educação e saúde, que já são pequenos. Com a redução, as mulheres terão ainda mais dificuldade de encontrar creches e poderem trabalhar, novamente sendo empurradas para contratos de trabalho precários. Como já acontece na Europa, as três reformas [Previdência, trabalhista e a Emenda Constitucional do teto de gastos] vão levar ao retrocesso as conquistas pela igualdade de gênero no trabalho. Se isso está acontecendo na Europa, que já tinha um sistema de bem estar bastante estruturado, imagina o que acontecerá em um país como o Brasil, que ainda tem tanta carência na oferta de postos de trabalho dignos para mulheres; de equipamentos públicos que permitam as mulheres trabalharem, estudarem e desenvolverem seus talentos; e que impede as trabalhadoras, com a alta rotatividade no mercado, de contribuírem para a Previdência de forma ininterrupta”, avalia.
Príncipios de Empoderamento das Mulheres – A ONU Mulheres e o Pacto Global das Nações Unidas propõem sete princípios de empoderamento das mulheres: estabelecer uma liderança corporativa de alto nível para a igualdade de gênero; tratar todos os homens e mulheres de forma justa no trabalho – respeitar e apoiar os direitos humanos e a não discriminação; assegurar a saúde, a segurança e o bem estar de todos os trabalhadores e trabalhadoras; promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional das mulheres; implementar o desenvolvimento empresarial e as práticas da cadeia de abastecimento e de marketing que empoderem as mulheres; promover a igualdade através de iniciativas comunitárias e de defesa; medir e publicar relatórios dos progressos para alcançar a igualdade de gênero.
“A igualdade de gênero no setor financeiro é uma antiga reivindicação do movimento sindical bancário. Já foram propostas diversas ações neste sentido pelos representantes dos trabalhadores. Sempre recusadas pelos bancos. Se o Itaú estiver de fato comprometido com o empoderamento das mulheres na sua estrutura hierárquica, e não utilizando a pauta apenas para melhorar sua imagem junto à população, o Sindicato e demais entidades representativas dos bancários possuem conhecimento e propostas para ajudar nesta missão. Afinal, os dados e as condições de trabalho no banco mostram claramente que o Itaú está muito distante de alcançar os sete princípios propostos pela ONU Mulheres e o Pacto Global das Nações Unidas”, conclui Marta.