Para Mujica, é preciso uma nova civilização

28/07/2016 - Por Bancários CGR

Mais de 3.500 pessoas estiveram reunidas nesta quarta-feira, 27 de julho, no Ginásio de Esportes do Círculo Militar do Paraná, para o Ciclo de diálogos Democracia na América Latina. O evento, promovido pelo Laboratório de Cultura Digital da UFPR, contou com a aguardada presença do ex-presidente e atual senador do Uruguai José Mujica e sua esposa e também senadora Lucía Topolansky, entre outros convidados.

O político uruguaio iniciou sua fala dirigindo-se especialmente aos jovens universitários, uma vez que estes serão os trabalhadores de amanhã. “A tecnologia muda as sociedades. No futuro, as máquinas vão substituir a mão de obra e as lutas sociais serão muito duras. Por isso, os trabalhadores que virão têm a responsabilidade de não cometer os mesmos erros do meu tempo. Minha geração pensou que nacionalizando os meios de produção e melhorando a distribuição de renda teriam um mundo novo. Grave erro! Se não muda a cultura, não se muda nada”, justificou Mujica.

Para o ex-presidente, o homem é construtor da civilização, o que permite a ele o domínio técnico e o conhecimento da natureza. Por outro lado, a sociedade de mercado insiste em transformar a vida em mercadoria. Por esses motivos, a luta não deve ser apenas por democracia, mas por uma outra civilização. “Há que se trabalhar para enfrentar as necessidades materiais. Mas a vida não é só trabalhar, é preciso tempo para viver e ser livre. Mas como pode-se ter liberdade e fraternidade se não há igualdade no mundo? Essa civilização tem que mudar”, resumiu.

Democracia digital
José Mujica enfatizou que a democracia nunca estará terminada e perfeita. Para ele, não se pode falar em democracia plena diante das desigualdades sociais em que estão inseridos os latino-americanos. “Os jornais me perguntam o que acontece na América Latina atualmente. Digo que não devemos olhar apenas o momento instantâneo, e sim todo o processo”, afirmou. “Todas as conquistas sociais significaram alguma derrota em algum momento. Sem fracassos, não haveriam avanços. Os homens aprendem muito mais com a derrota do que com os triunfos”, acrescentou ao tratar do avanço do conservadorismo.

O político ainda disse que a democracia no mundo todo vai mal. Primeiro, pela concentração financeira, que está fora de controle; e, segundo, pela crescente desigualdade social. “Nós nos transformamos em uma máquina de consumir – e não estou fazendo apologia à pobreza. O que estou dizendo é que essa sociedade se transformou em ‘comprar, comprar, até o último centavo’. A única saída é a contracultura: a democracia do futuro não pode servir só para satisfazer o mercado. Precisamos aprender que somos seres da mesma entranha e que necessitamos de uma transformação civilizatória!”, explicou.

"A democracia não é conformismo, é produto da consciência organizada dos homens, do sonho de um mundo melhor. Para que a vida dos que estão por vir seja melhor. Os jovens não serão melhores ou piores do que nós, serão diferentes por serem de outro tempo. E a democracia será muito mais desenvolvida que a democracia representativa; será uma democracia digital, pois a escada do progresso não tem fim”, afirmou.

Por fim, Mujica apontou a necessidade de uma mudança cultural, que transforme a civilização. “Ainda não nos demos conta que a verdadeira luta significa uma humanidade com outros valores. O homem pode construir sua cultura. A vida humana e a democracia não são produtos do mercado. Minha geração confundiu a mudança cultural com a material. Lutem por uma cultura distinta, que coloque o direito à felicidade no centro!”, concluiu. Renata Ortega SEEB Curitiba

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