Relatório do FMI alerta para alta concentração no setor bancário

01/04/2014 - Por Bancários CGR

Altamiro Silva Júnior
O Estado de S.Paulo


O número de bancos vem caindo nos principais países e as grandes instituições financeiras estão cada vez maiores, mostra um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na segunda-feira, 31 de março. No Brasil, o relatório mostra que a concentração do setor também subiu e os três maiores bancos do País, que em 2006 respondiam por 35% dos ativos bancários, passaram a responder por 55%.

A concentração é ainda maior em países como Canadá, França e Espanha, onde os três maiores bancos possuem mais de 60% dos ativos do setor. Em média, destaca o FMI, esse porcentual é de 40% nas economias avançadas e em emergentes.

"O alto grau de concentração traz um alto grau de potencial risco sistêmico. Problemas ou a falência de um dos três maiores bancos podem desestabilizar todo o sistema financeiro de um país", alerta o FMI no estudo. Em parte, porque as operações de tal banco não podem ser facilmente substituídas por outra instituição. Outro motivo é pela alta interconexão do banco quebrado com outras instituições financeiras. Além disso, a falência pode provocar uma crise de confiança de todo o sistema, destaca o estudo.

O número de bancos caiu em países avançados e emergentes. Nos EUA, por exemplo, havia 10 mil bancos em 2000 e agora há aproximadamente 7 mil. No Japão, eram 850 e o número caiu para cerca de 650. Na Índia, o total de bancos baixou pela metade, de 300 para 150. Muitos destes bancos faliram na crise de 2008, mas em vários países os próprios governos encorajaram a consolidação do setor bancário, ressalta o FMI.

Ao mesmo tempo, o peso do setor bancário na economia aumentou em diversos países e a participação dos ativos financeiros no Produto Interno Bruto (PIB) cresceu nos últimos anos. Nos EUA, por exemplo, passou de 70% em 2000 para quase 90%. Na zona do euro, de 250% para 350% no mesmo período. O estudo não traz os números do Brasil.

"Os bancos continuam a ficar maiores e há menos bancos em operação", destaca o FMI no material enviado à imprensa comentando o estudo. O documento faz parte do relatório Estabilidade Financeira Global, que será divulgado na íntegra na reunião do FMI que começa dia 7 de abril em Washington.

No relatório, o FMI também recomenda que os governos reforcem as reformas nos grandes bancos. Desde a crise de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, progressos foram feitos, mas a agenda de mudanças ainda está incompleta e os reguladores têm injetado bilhões para evitar problemas ou a quebra de grandes instituições.

Apenas na zona do euro, a estimativa apresentada no estudo do FMI é que os governos despejaram cerca de US$ 300 bilhões nos grandes bancos em 2012. Nos Estados Unidos, foram quase US$ 70 bilhões. Estes números têm aumentado desde 2009 e são chamados pelo FMI de "subsídios implícitos".

O estudo do FMI usou uma amostra de 100 bancos considerados sistemicamente importantes, incluindo o Banco do Brasil (BB) e o Bradesco, entre os brasileiros. Vários são dos EUA, como Citigroup, JPMorgan Chase e Bank of America, e da Europa, como o BBVA, Santander, ABN Amro e BNP Paribas.

O FMI ressalta que a proteção dos governos aos grandes bancos cria vários problemas, como um ambiente de competição desigual com as instituições financeiras menores e a possibilidade de tomada excessiva de riscos pelos grandes bancos. O resultado é que o contribuinte pode ter de pagar a conta se o banco quebrar e precisar ser socorrido pelo governo, como ocorreu nos EUA na crise de 2008. Só o Citibank, terceiro maior banco americano, precisou de um pacote de ajuda de Washington de US$ 45 bilhões.

O FMI avalia que a possibilidade de acabar com o apoio dos governos aos grandes bancos parece improvável. Isso poderia, por exemplo, gerar problemas de confiança no setor bancário. Mas nas recomendações de reformas do setor, o Fundo argumenta que os reguladores precisam trabalhar para evitar problemas financeiros nesses bancos. Assim, poderiam reforçar as exigências de capital como já vem acontecendo com os Estados Unidos.

Fonte: Estadão

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