“Diante do alto índice de adoecimento, que cresceu com a pandemia, gerado por metas abusivas e pressão por resultados, o tema tem que ser levado a sério por parte dos bancos”, disse o secretário de Saúde do Trabalhador da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mauro Salles.
Para Mauro, os serviços médicos dos bancos precisam ter como foco as pessoas e não podem se submeter à área comercial. “O trabalhador, quando adoece, deve merecer atenção por parte das empresas, não pode ter perdas em sua renda e deve contar com presteza nos encaminhamentos médicos e previdenciários”, explicou o dirigente da Contraf-CUT ao afirmar que a prevenção deve ser prioridade.
Direito garantido
Mauro lembra que a legislação brasileira diz que a participação da representação dos trabalhadores na análise dos dados, no monitoramento e no envolvimento dos trabalhadores nas medidas de cuidados com a saúde deve ser efetiva. “Para isso a participação dos trabalhadores é essencial e o acesso às informações são muito relevantes”.
A Norma Regulamentadora nº 7 estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. “Tudo isso está colocado nas nossas reivindicações entregues aos bancos. Agora, buscaremos firmar compromissos concretos, pois, na nossa opinião, é obrigação dos bancos avançarem nesses pontos”.
Consulta Nacional
A consulta nacional feita este ano com quase 30 mil bancários mostra que, para mais da metade dos entrevistados (54,1%), o cansaço e a fadiga constante são resultados da cobrança excessiva pelo cumprimento de metas. A crise de ansiedade foi apontada por 51,6% como impacto na saúde.
Outros efeitos do trabalho exaustivo identificados na consulta foram dificuldade para dormir (39,3%); crise de ansiedade (51,6%); crises constantes de dor de cabeça (24,2%), e dores de estômago e gastrite (24,1%). Mais de um terço dos bancários (35%) recorrem a antidepressivos, ansiolíticos ou estimulantes para se medicarem.
Adoecimento crescente
A reestruturação das atividades bancárias nas últimas décadas modificou o contexto de trabalho trazendo crescente adoecimento da categoria. Gerou mais pressão e levou muitos trabalhadores do setor a se afastarem do trabalho.
Levantamento do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) com dados da Previdência Social mostra que, de 2009 a 2013, houve um aumento de 40,4% do número total de auxílio-previdenciário e de auxílio-acidentário concedidos aos trabalhadores do setor bancário. Nos demais setores da economia também houve elevação do número de benefícios no período, porém, num ritmo menor do que o verificado nos bancos. Nesses setores, o crescimento foi de 26,2%.
Quando o tema é o dano à saúde, o destaque vai para o aumento das doenças relacionadas ao trabalho como os transtornos mentais. De 2014 a 2018, os transtornos mentais e comportamentais foram a principal causa dos afastamentos, com participação crescente, em torno de 28%.
Bancários na pandemia
Em 2020, o Comando Nacional dos Bancários negociou com a Fenaban e conquistou medidas para prevenção da saúde da categoria logo no início da pandemia. Ao longo da quarentena, cerca de 300 mil bancários foram trabalhar em casa, ou simplesmente liberados do comparecimento ao local de trabalho, sem redução nos salários ou perda de direitos. O movimento sindical também vem cobrando o afastamento de funcionários que coabitam com pessoas de grupos de riscos. Mesmo assim, o atendimento à população foi mantido e se mostrou essencial durante a pandemia.
Fonte: Contraf-CUT