Saúde: Fenaban atropela processo de negociações coletivas
06/04/2016 - Por Bancários CGR
Contraf-CUT não reconhece pesquisa da Fenaban, que não foi discutida com os trabalhadores
Nos últimos dias, a Fenaban, em parceria com a empresa privada Mental Clean, encaminhou unilateralmente para os trabalhadores do ramo financeiro uma pesquisa cujo título é Saúde e Bem-Estar, alegando que “as organizações se interessam cada vez mais pelas questões de saúde e bem-estar das pessoas, incluindo fatores que podem gerar estresse no dia a dia, tanto na vida pessoal quanto no ambiente de trabalho”.
A pesquisa já foi iniciada entre os trabalhadores de todos os bancos associados à Fenaban. Segundo o comunicado passado aos bancos, é composta por várias fases, iniciando-se com questionário eletrônico enviado por amostragem, uma segunda fase com mais um questionário e a outra com a realização de entrevistas e de grupos presenciais focais. A perspectiva é de conclusão em maio de 2016.
Entretanto, ao encaminhar a pesquisa de forma unilateral, a Fenaban atropela o processo democrático das negociações coletivas, prevista na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), como explica o secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Walcir Previtale. “A cláusula 64ª regula toda a matéria que tenha referência com a saúde dos trabalhadores, inclusive a mesa bipartite de saúde encontra-se em pleno funcionamento com reuniões regulares e a bancada patronal jamais fez qualquer menção que realizaria uma pesquisa de saúde”, critica Walcir.
Pesquisa não prioriza condições de trabalho
A pesquisa, que já foi encaminhada para o preenchimento dos empregados, é composta de perguntas e respostas simples, mas que remetem um olhar sempre para a pessoa, um olhar extremamente individualizado e que raramente aborda as condições e o meio ambiente do trabalho, como fatores que influenciam no adoecimento e afastamento dos trabalhadores do ramo financeiro.
Perguntas como “assusta-se com facilidade?”, ou “é incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida?”, ou “dorme mal?”, são exemplos dos temas que a pesquisa aborda. Também aparecem frases soltas afirmativas como “eu não sou solicitado para realizar um volume excessivo de trabalho”, pedindo ao trabalhador opinar se concorda ou discorda. Ou outro achado interessante: “minha estabilidade no emprego é boa”, afirmação colocada para o trabalhador responder se concorda ou não.
Em nenhum momento a pesquisa aborda a questão da imposição das metas abusivas, os mecanismos de cobranças, os métodos de gestão dos bancos e as práticas de assédio moral, reclamações permanentes dos trabalhadores e pautas de negociação na Campanha Nacional, na mesa bipartite de saúde do trabalhador e nas Comissões de Organização dos Empregados (COEs).
“É claro que é de nosso interesse a realização de pesquisa para avaliar as causas de estresse na categoria, até porque os dados apresentados por órgãos públicos competentes revelam o grave e crescente adoecimento mental dos bancários, colocando a categoria profissional entre aquelas com maior incidência de afastamentos previdenciários do país. Mas a Febraban deveria ter consultado o movimento sindical, os trabalhadores”, explica Walcir.
Para o secretário, a matéria insere-se no rol de Direitos Humanos e, objetivamente, deverá impor reflexos. “As informações acerca de saúde dos trabalhadores, meio ambiente e condições de trabalho vinculam-se à elaboração de políticas de prevenção de adoecimentos e acidentes do trabalho, em especial, às garantias de direitos sociais. E isso precisa ser levado em conta”. Além de desrespeitar a negociação coletiva e a própria CCT, a Fenaban desrespeita também as convenções internacionais da OIT, e toda legislação nacional vigente, que regula a matéria da saúde dos trabalhadores.
“As convenções, por exemplo, garantem a consulta e a participação da representação dos trabalhadores em matéria de políticas de saúde. Quando a representação patronal e os bancos encaminham unilateralmente uma política que tem relação com os direitos humanos fundamentais, que diz respeito à saúde de cada trabalhador, além de cometer grave ilegalidade, quebra a confiança que deve ser princípio básico para qualquer processo negocial. Os bancos não são donos nem dos empregados que contratam e muito menos da saúde dos trabalhadores”, afirma o secretário.
Proposta da representação dos trabalhadores
Em julho de 2015, em reunião da mesa bipartite de saúde do trabalhador, a Contraf-CUT fez três propostas para dar prosseguimento ao grupo de trabalho para analisar as causas dos afastamentos, priorizando a realização de uma pesquisa conjunta entre as partes, proposta que foi recusada pela bancada patronal.
Na Campanha Nacional de 2015 a categoria bancária conquistou a cláusula 57ª da CCT, que prevê negociação entre os bancos e as COEs para discutir políticas que visem a melhoria constante das condições e relações de trabalho. Essa cláusula nasce por conta dos grandes problemas gerados pela imposição de metas, a abusividade dos bancos para cobrar resultados e as práticas de assédio moral. Os seis principais bancos que compõem a mesa da Fenaban assinaram, em 03 de novembro de 2015, acordo coletivo de trabalho referente a cláusula 57ª: Banco do Brasil, Caixa Federal, Bradesco, Itaú, Santander e HSBC.
"Além da cláusula 64ª da CCT, que regula a mesa bipartite de saúde do trabalhador, também existe a cláusula 57ª que trata do mesmo tema. Se temos dois espaços de negociação coletiva assinados com o setor patronal, quais as razões que levaram a Fenaban a tomar essa decisão e encaminhar a pesquisa unilateralmente? Posturas assim somente demonstram o arcaísmo das relações de trabalho no Brasil, a falta de democracia e a posição patronal opressora em equiparar a contratação de empregados com a relação de propriedade privada", protesta Walcir Previtale.
“Reivindicamos a imediata suspensão dos procedimentos adotados pela Fenaban e que se estabeleça mesa de negociação para consulta e participação dos representantes dos trabalhadores sobre a matéria em questão”, finaliza o secretário da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT