Sob queixas de acionistas e funcionários, Santander faz recompra de ações
30/10/2014 - Por Bancários CGR
Carolina Mandl, Talita Moreira e Fabiana Lopes
Valor Econômico - São Paulo
Exatos cinco anos depois de estrear na bolsa de valores brasileira, o Santander Brasil pode voltar integralmente hoje às mãos do controlador espanhol deixando para trás uma série de investidores e até funcionários descontentes.
Em uma operação que pode alcançar R$ 14,2 bilhões, o banco espanhol se comprometeu a recomprar ações do Santander Brasil, a participação de 24,6% dos acionistas minoritários na unidade brasileira.
Ontem, detentores de 51% das units negociadas na BM&F Bovespa tinham aderido à oferta, segundo o Valor apurou. Mais investidores ainda podiam aceitar a permuta até hoje. Esse número também não inclui a adesão de quem tem American Depositary Receipts (ADRs).
A matriz oferece 0,7152 ação do Santander Espanha por unit da subsidiária. A relação de troca representa um prêmio de 10,75% em relação ao preço das units - já ajustado por dividendos - em 28 de abril, um dia antes do anúncio da oferta de recompra. O pagamento será feito em Brazilian Depositary Receipts (BDRs).
O prêmio, porém, não é suficiente para contentar os acionistas minoritários, principalmente aqueles que compraram as ações na estreia em bolsa, em outubro de 2009. Incluídos os dividendos, os investidores vão vender seus papéis com uma perda de 11,1%. Se tivessem aplicado o dinheiro pela taxa do CDI teriam registrado um ganho de 59% no período.
Desde que chegou à bolsa, o preço máximo que o Santander teve foi em novembro de 2010, com valorização de 12,6%.
Para os funcionários do Santander, a conta da troca de ações fica ainda mais desfavorável. À época do IPO, o Santander ofereceu aos empregados um empréstimo para a compra de ações do banco. Com juros de 1% ao ano, o financiamento seria quitado em 60 meses, em parcelas fixas mensais. O prazo de quitação encerrou-se justamente neste mês. Cerca de 24,5 mil trabalhadores aderiram à oferta, uma média de aplicação de R$ 5,3 mil por pessoa.
A operação também é sensível para os empregados do Santander que recebem remuneração variável. O pagamento feito a eles é, e continuará sendo, atrelado ao preço das ações do Santander Brasil, e não ao desempenho dos BDRs. Por isso, em tese, uma forte adesão à oferta deixará nas mãos deles papéis que não têm muita perspectiva. A oferta é voluntária, mas traz um risco de perda de liquidez para quem não aderir.
Entre os investidores profissionais, a gestora Brandes manifestou em relatório a investidores que a oferta está abaixo das suas estimativas, já que o banco tem perspectivas positivas no longo prazo. Uma declaração semelhante já tinha sido feita pela gestora Tweedy.
Com receio de ficar com papéis com poucos negócios em mãos, a Brandes acabou optando por vender as ações que tinha em pelo menos dois fundos: o Global Opportunities e o Emerging Markets. Essas posições, porém, podem não representar a posição integral da gestora.
"Baseada na reduzida margem de segurança devido à oferta e considerando o risco de liquidez mais baixo depois da oferta, a Brandes decidiu sair da posição", afirma a empresa, que tem US$ 28 bilhões em ativos sob gestão. Procurada pela reportagem, a gestora não comentou o assunto.
Pelo menos um outro grande acionista estrangeiro do Santander também já decidiu vender parte de suas ações, segundo o Valor apurou. O investidor mais decisivo para o sucesso da oferta do Santander é o Qatar Holdings, braço de investimentos diretos do fundo soberano do Qatar, que tem 5,2% do banco.
A holding já teve perdas com o Santander Brasil em 2013, quando converteu US$ 2,72 bilhões em ações do Santander Espanha comprados em 2010 em ações da unidade brasileira. O preço de conversão foi fixado em R$ 23,75, mas na data da troca a ação valia R$ 15,25 na bolsa.
A performance das ações do Santander desde 2009 se deve principalmente às expectativas frustradas de crescimento do banco, que na oferta de ações prometeu avançar mais do que os concorrentes. Em quase cinco anos, o estoque de crédito do Santander avançou 59,4%, enquanto a média do sistema financeiro foi de quase 100%. Ao longo desse período, o banco teve três diferentes presidentes.
As units do Santander Brasil recuaram ontem 6,91%, para R$ 14,01, em meio a um maior volume de vendas.
Fonte: Valor Econômico