Saúde Geral

Geração Z. A geração do remédio

28/07/2025

Dor? Paracetamol. Foco? Venvanse. Ansiedade? Clonazepam. Insônia? Zolpidem. Um comprimido para cada incômodo. E nem sempre com prescrição médica

A geração Z (1997/2010) faz tudo rápido, manda áudio acelerado, vive em aba múltipla, resolve tudo em toque duplo. E agora, corta caminho no próprio corpo. Dor? Paracetamol. Foco? Venvanse. Ansiedade? Clonazepam. Insônia? Zolpidem. Um comprimido para cada incômodo. E nem sempre com prescrição médica. 

Dados da Anvisa mostram que o uso de benzodiazepínicos (remédios com efeitos sedativos) cresceu mais de 50% nos últimos dez anos no Brasil. E, segundo a Timelens, as buscas por “remédio para dormir sem receita” aumentaram mais de 1.400% em cinco anos. 

A lógica do resolve logo contaminou tudo. O levantamento da Consumoteca diz que mais de 50% dos jovens latinos da geração Z compraram medicamentos nos últimos três meses, número maior do que o de quem comprou bebida alcoólica. Antes, era o álcool no fim de semana. Agora, é o comprimido de lanche da tarde. O foco não é mais fugir da realidade, mas funcionar dentro dela. Se existe substância que promete disposição, calma ou produtividade, entra na moda e na rotina. 

O uso de Venvanse entre não diagnosticados com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é sintoma disto. O remédio virou queridinho para aguentar provas, longas jornadas de estudo e exigência de desempenho. Segundo o portal Drauzio Varella, tem adolescente pegando receita emprestada ou comprando no mercado paralelo. 

O mesmo vale para o Ozempic, usado como pílula mágica do emagrecimento. E até para o “tadala”, que saltou 20 vezes em venda na última década no Brasil. O que antes era tabu virou trend no TikTok. Hoje, tem música com refrão exaltando remédio de disfunção erétil.

A geração Z cresceu pressionada para dar certo. Não quer perder tempo com terapia ou descanso. É necessário soluções rápidas, e se o remédio entrega isto, mesmo que por pouco tempo, tudo bem. Enquanto a farmácia substitui o cuidado, a saúde vai escorregando entre os dedos. No fundo, o vício não é nos remédios, mas na ideia de que dá para seguir funcionando em um mundo que não para nunca. 

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