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Trabalhadores cobram e bancos aceitam criar mesa permanente de negociações sobre IA
28/07/2025
Movimento sindical defende que os ganhos produtividade, obtidos com os avanços tecnológicos, sejam compartilhados via aumento de remuneração e redução da jornada de trabalho

O Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) se reuniram nesta segunda-feira (28), na capital paulista, para a “Negociação Nacional Bancária sobre Novas Tecnologias, como a IA, e a Atividade Bancária”.
Com base em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a coordenadora do Comando Nacional e também presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, destacou que 1 a cada 4 empregos serão impactados, em algum grau, pela Inteligência Artificial (IA) Generativa, sendo que a maioria dos postos de trabalho expostos à IA serão transformados, exigindo ações para a qualificação e requalificação de trabalhadores.
A pesquisa apontou ainda que as mulheres têm duas vezes mais chances de serem expostas à IA generativa e em postos de trabalho que tendem a desaparecer pelos avanços tecnológicos.
“Dados do próprio setor mostram que o uso de IA é intenso, por pare dos bancos, e está reduzindo os custos dessas empresas. Na Consulta Nacional dos Bancários 2025, que acabamos de realizar, maioria significativa dos trabalhadores apontaram que esses ganhos de produtividade, obtidos com os avanços tecnológicos, devem ser traduzidos em aumento salarial. Além desse pedido, nós, do Comando Nacional, cobramos que esses ganhos obtidos com a tecnologia também se traduzam com a redução da jornada para quatro dias de trabalho semanais, sem redução salarial”, ressaltou Juvandia Moreira.
A dirigente completou que a cateogira também quer verificar em que medida a IA está sendo utilizada para controle dos trabalhadores, e como essas novas tecnologias podem estar vinculadas às questões de direitos por igualdade de oportunidades dentro das empresas, desumanizando os processos de contratação, ascensão e até demissão dos empregados.
Em seguida, o presidente da Fetrafi-NE, Carlos Eduardo, apresentou à Fenaban, a proposta dos trabalhadores de instalação de uma mesa permanente para negociações sobre IA, a partir da qual, seriam debatidos os seguintes pontos:
1 – Informar e consultar os sindicatos sobre o desenvolvimento e a implementação de sistemas de IA que possam ter um impacto significativo nos funcionários dentro do sistema financeiro. Incluindo ainda estabelecimento de mesa de negociação por banco envolvendo as COEs.
2 - Pontos que devem ser negociados de forma imediata: fechamento de agências, cargos eliminados, por exemplo, de caixas, tesoureiro, gerente administrativo.
3 - Reconhecimento dos bancos que a IA tem o potencial de impactar os funcionários de várias maneiras, incluindo: mudanças nas funções e responsabilidades do trabalho; a necessidade de novas habilidades e treinamento; o potencial para deslocamento de empregos e mudanças nas condições de trabalho.
4 - Garantir em ACT que esses novos profissionais não sejam PJ ou terceirizados, ou seja, que o trabalho não seja precarizado.
5 - Negociação de um programa de requalificação e realocação, em se fazendo necessário, para que os bancários possam migrar para outras áreas. Estabelecer um apoio financeiro (indenização adicional) aos trabalhadores demitidos.
6 - Garantir que os sistemas de IA sejam desenvolvidos e usados de forma ética e responsável, em conformidade com as leis e regulamentos relevantes. Problemas nos “scores” que são definidos pela IA que discriminam socialmente os clientes e impactam no trabalho bancário.
7 - Proteger e privacidade e a segurança dos dados de funcionários e clientes.
8 - Garantir que os funcionários tenham o direito de contestar decisões tomadas por sistemas de IA.
9 - Os bancos e sindicatos concordam em estabelecer o “Observatório de Transformação Digital dos Bancários” num trabalho conjunto para monitorar a implementação deste acordo e para desenvolver orientação adicional sobre o uso da IA no trabalho bancário.
10 – Redução da jornada de trabalho para 4x3, sem redução salarial, para que os ganhos de produtividade dos bancos advindos da tecnologia sejam divididos com os trabalhadores.
“A tecnologia não tem que trazer apenas benefício para os bancos, mas também, e principalmente, para os trabalhadores e para a sociedade. Por isso, nós queremos participar ativamente do debate, sobre essas transformações, que estão relacionadas à criação de novas formas de trabalho que os bancários necessitam aprender”, reforçou o presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Ramon Peres. “As IAs não precisam apenas estar ligadas aos lucros e aumento de produtividade no setor. Podem e devem nos trazer mais segurança e mais ferramentas que estejam ligadas à ética e à responsabilidade social das organizações”, completou.
A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, defendeu que “as revoluções tecnológicas devem ser usadas para o bem da sociedade em geral, e não para acabar com empregos e com o atendimento presencial à população”. Para isso, recorreu a um levantamento do Dieese, realizado a partir de pesquisa de tecnologia da própria Febraban: "Em 2024, só 2% das atividades bancários foram feitas nas agências, mas esses 2% representam R$ 3,6 bilhões do total de transações (de R$ 208,2 bilhões no ano), volume semelhante ao de anos anteriores. Ou seja, as agências continuam rendendo para os bancos, o que reforça a necessidade de se manter as unidades físicas e os postos de trabalho”, observou.
Resposta da Fenaban
Os porta-vozes da Fenaban concordaram em incluir os trabalhadores no debate sobre mudanças tecnológicas no setor e aceitaram a proposta de mesa permanente para discussões sobre IA. Além disso, solicitaram ao Comando uma proposta de calendário para os próximos encontros sobre o tema.
Programa Mais Mulheres na TI
Por fim, a Fenaban trouxe os dados do Programa Mais Mulheres na TI, conquistado pela categoria bancária na última renovação da CCT, onde ficou estabelecida 3.000 bolsas de estudos pela escola PrograMaria e 100 bolsas de estudos pela escola Laboratória, de cursos voltados à tecnologia da informação.
Os resultados do PrograMaria foram:
1ª Turma - Análise de dados/Meus primeiros passos em python, teve 9.729 inscrições para 1000 bolsas. Desse total, formaram-se 475 estudantes, sendo:
- 67% de pessoas pretas e pardas;
- 33% de pessoas da comunidade LGBTQIA+;
- 9,4% de pessoas trans;
- 29% mães e responsáveis;
- 40% de pessoas de zonas periféricas;
- 14,5% de pessoas com deficiência.
Em termos geográficos:
- 25% do Nordeste;
- 5% do Norte;
- 5% do Centro Oeste;
- 7,5% do Sul;
- 57,5% do Sudeste.
2ª Turma - Front-end/Minha primeira página web, que teve 4.600 inscritas para 1.000 bolsas.
Desta turma, com formatura prevista para esta semana:
- 56,56% são pessoas negras;
- 25,67% LGBTQIA+;
- 3,09% pessoas trans;
- 36,32% são mães ou responsáveis;
- 25,55% são pessoas de fora das regiões Sul e Sudeste.
3ª Turma - 500 bolsas (curso Front-end/Minha primeira página web):
- Início das inscrições previsto para 18 de outubro.
4ª Turma - 500 bolsas (curso Análise de dados/Meus primeiros passos em python):
- Início das inscrições previsto para 3 de dezembro.
Os resultados do Laboratória:
Curso mais intensivo, com duração de 20 semanas (5 meses):
- Turma 1: ativa e com término previsto para 1º de agosto, hoje com 40 alunas ativas.
- Turma 2: ativa e com término previsto para 17 de outubro, hoje com 50 alunas ativas.
Fonte: Contraf-CUT